CAPÍTULO I [Aniah] Ao Som das Trombetas Antes mesmo de a - TopicsExpress



          

CAPÍTULO I [Aniah] Ao Som das Trombetas Antes mesmo de a alvorada iluminar os belos e sinuosos corpos das musas, antes da estrela Febo aprisionar com seus ardis de mulher fogosa vários planetas, subjugando-lhes apego eternal. Quando o nada era o que de mais importante existia, fora nessa época que nascemos. Ungidos pela própria força das forças, batizados como as criaturas de Javé. Nós os malachins, seres eviternos, nem eternos justamente por sermos criados, nem temporais, de modo a não estarmos sujeitos a seus males. Os guardiões celestes, dos ventos, da água, e de qualquer elemento vindo do universo. Por muitos e muitos milênios convivemos num ambiente tão prazeroso quanto a brisa a beira-mar, e sequer as esplêndidas constelações poderiam ofuscar toda aquela perfeição. Os costumes eram joviais, fazendo-me sentir envolta pelo manto de uma seda tão delicada quanto terna. Essa, oferecida aos raros bem aventurados de uma família afortunada. Fato, nenhum pouco convencional, composta de filhos em demasia, e um único progenitor. Mas agraciada pela magia inigualável da simplicidade, unindo a todos seus entes, até mesmo os mais distantes, a mesa farta de especiarias divinas, o maná. A causa para tanta celebração, mostrava-se tão nobre quanto a maior de todas. Sabíamos que não merecíamos tanta gratidão, laureando vibrantes, o imenso presente a nós ofertado. Cada qual exercia harmoniosamente sua tarefa de destino, e por longo período após a criação assim fora. Os seres do firmamento, de origem dotados do que a ser humano busca em sua breve experiência terrena, a luz. Contemplávamos a obra de nosso causador, tentando compreende-la com paixão. Ainda lembro desse tempo com enorme pesar, todos os irmãos provenientes da mais perfeita das operas, bem antes a Adão e o surgimento da civilização. Como uma grande oliveira exalando beleza, valendo-se de seus inúmeros frutos ricos em sabor, éramos milhões. Todavia a paz que parecera infindável seria abalada, alterando para sempre o destino do universo. rumores de guerra passavam a ecoar por todos os sete céus, trazendo consigo a intranquilidade. No início tentara me afastar da conjuntura, convoquei o exército de soldados alados, saindo para um suposto treinamento isolado. Num pedaço afastado da criação, muito estimado por nosso pai, que o tratava como seu diamante mais raro. Este se chamava Terra. Por anos ali permaneci, totalmente alheia ao que ocorria nos reinos superiores, apreciando a graça do ambiente em constante mudança. Uma atmosfera em formação com um turbilhão de gases a se fundir, regiões cada vez maiores emergindo por entre chamas de vulcões majestosos. Nessa época jamais imaginara, tendo esse cenário como guia, que este pequenino lugar se tornaria límpido, habitável para sueltos de espécies. Meus irmãos por perto resplandeciam felicidade, experimentando a delicada lapidação que o pequeno planeta, situado num longínquo canto de uma galáxia, recebia. Anseios que ate então nunca sentira começaram a me preencher, sabia que não tardaria para que a disputa viesse nos atingir. Nesse clima de destempero, o inevitável ocorrera. Quando o manto de Vilon estava a se fechar, e a estrela Apolo que iluminava a humilde porção já desaparecia acanhada por entre os montes incandescentes de magma. Da paisagem de crepúsculo, uma luz que certamente invejaria até mesmo o próprio astro viera na minha direção, numa velocidade tão grande quanto a da claridade, o indivíduo que a irradiava. A sua presença aguda deixava-me aturdida, esparzindo sobre o ambiente um odor de orvalho da madrugada – Quem poderia ser? Capaz de estremecer as faculdades de um serafim. – Irmã Aniah, nosso pai precisa de você. Tome parte da responsabilidade que lhe confere, e guie sua legião – ecoou incitante, da massa reluzente de energia que se aproximava. O clamor inconfundível, que aquece os corações de guerreiros em noites tempestuosas, inebriava meus soldados que o nunca havia escutado. Agraciados com a presença do arcanjo mensageiro, Gabriel. Sem demora todos se ergueram, deixando de lado o que estavam a fazer para admira-lo. Querubins, potestades, principados e anjos da guarda, as castas que compunham um exército celestial, dispostos por armaduras fortificadas e lanças de ouro. A partir daí, o fulgor de seu corpanzil formara uma esfera mística ao nosso redor, sinal de conversa pessoal e peremptória. Saudei-o, com um leve movimento de pescoço para baixo, com cordialidade. – Querido irmão, rei dos reis do céu, estou com medo. O que esses boatos profanam seria verdade? As aves de rapina hão de comer nossos iguais? – estourei para o soberano com tom desesperador, iniciando o colóquio. Totalmente consumida e esgotada pela situação, como tantos outros já passaram na história humana, convocados para guerra, e consequente frígida morte. – O som das trombetas, já foi tocado por nosso pai. Ele, mais que você e eu, encontra-se arremessado no vale da tristeza. Talvez nem mesmo o criador, onisciente em toda a vastidão, imaginasse que sua obra seria coberta com sangue de seus filhos – explicou o arcanjo, carregando pesar em suas palavras. – Mensageiro do altíssimo, por que faremos a guerra? Com ela abalaremos a delicada consonância do destino, seremos os responsáveis pela destruição? – indaguei desalentada. Estava sobejamente confusa, por mais que tentasse, não conseguia compreender o desejo de medir forças com quem repousa a seu lado e canta os hinos de fidelidade. Então Gabriel compassivo à aflição, fechara suas longas asas, argênteas feito o aço que nos distinguiam, para assim se aproximar de meu coração indeciso. Descoberto por sua aura natural pude admirar aquele ser. Seus cabelos eram negros, pouco mais que sua pele morena, suavemente enrolados em seu fim. Ajaezados por uma coroa de louros de material metálico, mais brilhante e nobre que a própria prata. A forma era salientada por entre a couraça da justiça, metalina, resistente a qualquer mal. Uma túnica vermelha completava a vestimenta superior. Grevas protegiam canelas e topo do joelho, ambas também cometidas do sensível cintilante. Fiz o mesmo, desfigurando minhas seis asas adejadas, e nos abraçamos vigorosamente, como quando a criança assustada corre em direção ao protegido ninho, o colo de seu pai. Seu aroma orvalhado me embevecia. – Não pedira nada disso. Mas alguns de nossos familiares, ávidos por poder, desejam subir ao trono da eternidade – explanou Gabriel afetuoso. Seu rosto colado em meu pescoço, mesmo que abafando sua linda voz, não me impedia de sentir suas palavras vibrando em todo meu ser. – Nosso irmão, o Portador da luz, de beleza inigualável e poder ameaçador. Virou-se contra o Criador, seus planos já iludem vários entre nós – concluiu enfatizando as palavras. heylel apesar de pertencer à ordem dos Querubins, os melhores entre todos em batalhas, fora ungido com a graça e poder do altíssimo. Sendo entre todos, o mais próximo ao criador. – Mas por que ele assim o fizera? Acredito que nem mesmo você, rafael ou Miguel, os dirigentes dos anjos, despertaram tanto a estima de nosso admirável rei – repliquei ainda não satisfeita. – Não diga isso bela Aniah, nosso causador ama a todos por igual, esse talvez tenha sido um de seus maiores atos desde a criação – advertiu-me, olhando com expressão assisada. – heylel fora amado como qualquer outro. A despeito de sua classe sentava-se entre nós, os arcanjos, nos louvores e cantorias. Sendo o mais notável no reino divino. Assimilei seus versos afastando um pouco o rosto de Gabriel, logo retorqui: – Qual o propósito disso Gabriel, dar poder a seu inimigo? Gabriel parou por alguns instantes, fitando a legião de guerreiros a esperar o fim da situação. Nítidos indícios de que nem mesmo um dos mais próximos a Javé, saberia a resposta. – Indagas como essa se perderão nas estrelas sem encontrar resposta, mas o que posso lhe garantir, é que a contenda já iniciara. Venho a você pedir ajuda para restituir a santíssima paz – disse Gabriel, com um semblante de dúvida. – Irmão, nunca lhe negaria ajuda, conhecendo-o como o faço. Acreditaria em você, mesmo se estivesse cega para impor o juízo sobre uma situação – decidindo, sem pestanejar, que iria lutar pela causa de Elohim. Em júbilo, o mensageiro com sutil gesto, assinalou para o céu, ressaltando: – Sabia de todo o coração que poderia contar com sua espada. Porém, a partir de agora não confie em mais ninguém, lute por nosso pai e pela criação. Não haveria mais para onde fugir, esconder-se, a batalha era iminente. E, estava em meu destino erguer a lâmina nos campos celestes em prol desta causa. – Muitos dos que aqui nos cercam, tentarão afiar suas armas em nossa garganta para nos infligir a morte. Não espere que todos os seus soldados lhe entregarão a vida, mas valorize com fervor os que ficarem – alertou o mensageiro abaixando seu braço. Indicando agora, a tropa de anjos que aguardava. – Um mar de armaduras e asas, preenchendo a planície. Ao fim do discurso, o emissário das escrituras, com a mesma mão que abalizava para os soldados agraciou meu rosto, desaparecendo. Fazendo de sua forma uma linda nuvem de poeira brilhante. IGOr SChOEllEr
Posted on: Thu, 25 Jul 2013 14:39:35 +0000

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