COLUNA DO MARCEL Pequena alegoria do Ipê Nos meses de julho e - TopicsExpress



          

COLUNA DO MARCEL Pequena alegoria do Ipê Nos meses de julho e agosto, a cidade se veste de um lilás quase cinza, entremeado por um amarelo vivo e um branco pálido. Esse belo espetáculo em pleno verão costuma fazer a alegria dos visitantes e emoldura as tardes da Cidade Nova, nas imediações do canteiro central, onde centenas de pessoas fazem a tradicional caminhada. É a chamada florada dos Ipês, que em alguns lugares são chamados de Paus d’arco. Em algumas localidades o Ipê é uma árvore bem copada, cuja particularidade é ficar desprovida de folhas no período de flores. Também apresenta uma madeira dura e resistente, sendo considerada madeira-de-lei. Ainda que seja encontrada na floresta densa, ela vista em abundancia no cerrado, onde, a exemplo do restante da vegetação, não cresce muito. Na paisagem árida o Ipê é uma árvore atarracada e de caule irregular. Já contei a pequena história da soberba e da decadência do Ipê algumas vezes e salvo os evidentes exageros que a alma irrequieta de um escriba comete, ela é mais ou menos assim. O Ipê foi uma das árvores mais bonitas criadas por Deus. Conta a lenda, que durante todos os meses do ano, o Ipê se exibia nas cores lilás, amarelo e branco e era admirado por todos. Vegetações rasteiras e até mesmo cedros, mognos, imburanas e sapucaias se curvavam à sua evidente beleza. Com o tempo, a bajulação da floresta fez com que a árvore se enchesse de empáfia e passasse a tratar as demais de maneira desrespeitosa. Era a própria imagem do orgulho. Insatisfeito com o comportamento da Ipê, Nosso Senhor resolveu punir a sua arrogância. Ao invés da essência altaneira, famosa pela sua beleza, surgiu uma vegetação atarracada e sem o menor traço de beleza. Entretanto, na sua misericórdia, o Todo-Poderoso permitiu que nos meses de julho e agosto, um vislumbre da antiga beleza alegrasse a floresta. A florada dos Ipês, que inebria os amantes da natureza acontece num raro momento do alto verão e revela o quanto é transitório a soberba. Durante um curto período, o Ipê ensaia um brilho fugaz, mas como que a lembrar-lhe da sua insignificância, no mês de setembro as flores caem e em seu lugar surgem galhos secos e escassas folhas que não atraem um segundo olhar de praticamente ninguém, mesmo com toda a boa vontade do mundo. Veja você, a vida imita a arte e vice-versa; por que razão essa pequena alegoria não iria nos brindar com preciosas lições? A soberba é o caminho mais curto para o fracasso.
Posted on: Thu, 08 Aug 2013 23:01:38 +0000

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