CONTINUAÇÃO, NÃO SEI SE VALE A PENA LER, MAS LEIA!!! A menina que tudo lembrava Ouvi dizer que de vez em quando o vento sopra para além do que conhecemos, levando nossas lembranças, levando algumas coisas. Dizem por aí que alguém guarda tudo o que um dia vivemos, porém esquecemos. A menina que tudo lembrava – oh que dó, que pesada carga – Ela, no entanto, nunca reclamou de tal dom. Nunca se sabe o que se passa na cabeça de cada pessoa, nunca se sabe se o que você mostra é exatamente o que os outros veem. Tal menina, de nome nunca revelado antes, me encontrou certa vez, meio que de uma forma estranha, de uma forma bucólica, nostálgica até. Não sei exatamente como descrever aquele momento, eu que nunca fui nada demais, pedi que ela me contasse sobre como era ser ela. Seu olhar inocente que levava intrínseco uma gota de amor – me fez refletir – ela que não tinha proferido uma palavra sequer, me conquistava em todas as caras e bocas. E continuamos assim, como se de uma forma telepática eu pudesse entender tudo o que se passava, tudo o que ela tinha guardado durante tantos séculos, tudo o que as pessoas que até mortas estão esqueceram. Provavelmente era ela o maior tesouro da humanidade, conhecedora de todos os fatos, de todas as verdades, tudo o que se pode imaginar, ela que levava as lembranças de todo um povo morto e/ou vivo. Não tive coragem de perguntar novamente como era ser ela, eu assimilei como seria ou como poderia ser, tal figura solitária que segundo as línguas mora em uma lugar onde o sol deixou de brilhar. Apenas contemplei aquele momento, absorvi aquela energia, absorvi aquele ar. A menina então, mais velha que eu em idade e mais nova em aparência, simplesmente levantou-se e saiu andando. Eu, de certa forma imóvel, consegui me levantar, quando olhei pela porta, ela já tinha sumido. Dias depois divagando com minha própria mente, tentei encontrar respostas plausíveis que aquietassem meu coração, como poderia existir assim um ser tão surreal? Como? Eu sei que homem nenhum e nem eu mesmo conseguirei tal resposta, entretanto me fez refletir e refletir mais um pouco. Dei-me conta que algumas coisas na vida são levadas, algumas lembranças, alguns momentos, por alguma razão, por que não podemos lembrar-nos de cada momento vivido? Por que existe a necessidade de haver alguém que armazene tais memorias esquecidas? Não sei exatamente, porém isso me perturbou por dias, procurei respostas em todos os lugares, em todas as cartas, em todos os tambores, em todos os rituais, contudo em vão. Tentei refletir mais um pouco e como se minha mente não conseguisse parar em um só lugar, me veio novamente àquela lembrança nostálgica e bucólica do rosto da menina que tudo lembrava. Há quem diga que ela é um anjo, por isso não falou comigo, há quem diga várias e várias coisas, a verdade é que quase ninguém acredita em sua existência. Ao fim de meios vagos pensamentos, cheguei a conclusão que certas lembranças são necessárias que sejam apagadas e que lembranças realmente necessárias serão mantidas, como se um quebra cabeça fosse formado, certas peças vieram a mais no pacote e necessitam que sejam jogadas bem longes, mesmo sendo boas. Nós seres humanos em nosso limitado estado de existência preferimos pensar que as coisas serão mais fáceis do que realmente encarar a realidade em sua mais cruel face. Assim precisamos nos embriagar da ideia de viver, sem nos preocuparmos que o sentido esteja bem mais além do que podemos ver.
Posted on: Thu, 21 Nov 2013 21:19:28 +0000