Capítulo 2 das singularidades da pesquisa qualitativa: V1d4 L0k4! Conversando com uma mãe/entrevistada da minha pesquisa, moradora do alto do bairro Amoras, sedimentei de vez meu conceito de Vida Loka: acordar todos dos dias às quatro da manhã, deixar a comida pronta para a família, a casa arrumada e a vida doméstica encaminhada; trabalhar como faxineira do outro lado da cidade em várias casas onde não se pode sequer beber água (que dirá comer algo); usar um transporte público de péssima qualidade que sempre atrasa e ser repreendida por isso quase todos os dias; ter três filhos em idades diferentes, com necessidades diferentes; travar uma batalha diária para que o tráfico, com suas promessas de facilidades não cooptem seu filho mais velho (que permanece firme e forte no seu emprego de empacotador, onde é mal remunerado e humilhado); conseguir que a filha chegue à universidade e realize seu sonho de ser médica, mesmo estudando em uma escola pública de péssima qualidade; ter que deixar seu filho mais novo em uma creche onde seus objetos pessoais somem da mochila; conseguir terminar de construir sua sonhada casa própria com sua renda de menos de 700 reais por mês... e apesar de tudo ser uma pessoa com um dos sorrisos mais luminosos que já conheci, com uma fé na vida, na sua crença e nos sonhos que chega a comover. Assim, descobri que ser V1d4 L0k4 na boca de fumo, nas quebradas, na malandragem e na doidera é fácil! Quero ver viver no mundo real, com todo o seu consumismo, destruição, sujeira e dor sem sucumbir, sem virar gado, sem morrer em vida.
Posted on: Mon, 24 Jun 2013 19:26:58 +0000
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