Capítulo 22 Formato simétrico: do coliforme fecal à Tartaruga - TopicsExpress



          

Capítulo 22 Formato simétrico: do coliforme fecal à Tartaruga Ninja Eram quase oito horas da noite quando o interfone tocou no apartamento de Marina, na região Sul de Belo Horizonte. Um prédio alto, com ampla área de lazer e muitas vagas na garagem. O casal de advogados, Marina e Marco Aurélio, está no auge da carreira e o escritório deles já é um dos mais importantes da cidade. - Pronto?! – disse a dona da casa atendendo ao chamado. - Sua amiga Letícia está na portaria, D. Marina. – respondeu o porteiro observando a visitante, que passava batom e verificava mensagens no celular ao mesmo tempo. Letícia vinha do trabalho, carregada de tralha! Nada menos que três bolsas. Na primeira, ela guardava nozes, iogurte de soja, suco de gengibre, chia e outros grãos estranhos. Afinal, a esotérica natureba não comia nenhum alimento industrializado, frito, condimentado, temperado, ou seja, nada gostoso... Na outra bolsa, ela fazia caber entre outras coisas, a sombrinha, a pinça que usava para ajeitar a sobrancelha nas paradas do trânsito e o remédio para enxaqueca – o único alopático que aceitava consumir para se livrar das terríveis crises em que ela até perdia parte da visão. Finalmente, na terceira maleta, ficavam guardados o laptop e o carregador de celular. A hipótese de ficar incomunicável com a “penca” de filhos era motivo de pânico. - Oi, amiga! - disse Letícia ao descer do elevador. Só um instante que estou respondendo uma mensagem dos meninos. Estão com fome! Deixei uma sopa de legumes pronta, mas acho que vou liberar a pizza hoje à noite. Estou cansada demais para fazer discurso sobre alimentação saudável... - Letícia! Não sei como você consegue fazer tudo ao mesmo tempo! Eu, que só tenho o Paulinho, às vezes queria colocar ele de volta na minha barriga... – disse Marina abraçando a amiga. - Pois é! Eu, nessa vida de jornalista e mãe de uma tropa. Você, nova na maternidade! Por isso, temos nos visto tão pouco... E por isso, minha cabeça anda mais fora do lugar... Você não sabe o que me aconteceu hoje! - Lá vem você com uma de suas mancadas... – disse Marina já rindo da amiga que, para dar conta da vida dura, parecia viver em outro universo. – Qual foi a pérola desta vez? - Essa foi demais! Virei piada para mais de um ano na redação do jornal! Escuta só... Cheguei hoje pra trabalhar e começou a “zoação” do pessoal. A Tati, aquela minha amiga das antigas da faculdade, leu em voz alta o que todo mundo já tinha lido: “Formato simétrico, odor normal, sem alterações. Ausência de parasitas...” - E todo mundo caiu na gargalhada. - Não estou entendendo nada. – disse Marina, levantando os ombros! - Era o resultado do meu exame de fezes, Marina. Mandei imprimir ontem, antes de sair do jornal, e nem me lembrei de pegar. Hoje de manhã, a equipe do plantão encontrou o papel na impressora central! Que vergonha, amiga... Agora, me chamam de formato simétrico! Socorro, Marina! Onde vou parar com essa minha cabeça de vento?! Coisas demais! Não estou conseguindo nem meditar... Marina ria tanto, que teve que recuperar o fôlego para responder: - Letícia, só você para aprontar uma dessas! - E o pior é que ontem fui ao médico sem o exame. Nem lembrava que tinha mandado imprimir, achei que estivesse junto com os outros resultados. O médico me pediu para enviar por e-mail, mas nem precisa né? A galera da redação já deu o diagnóstico! – Letícia foi interrompida pelo barulho do interfone. Marina atendeu e comentou: - Rafa e Val estão subindo. Ouvi uma falação sem fim na portaria. Hoje, pelo jeito, eles estão com tudo! Marina estava que nem “pinto no lixo” entre os amigos. A advogada que, nos últimos meses, havia saído de casa só para ir ao pediatra do filho, à casa da mãe, uma vez ao salão de beleza e outra a uma manifestação de mães, se sentia de volta à vida. - Marina, mamy da vez! - disse Rafa todo espalhafatoso. - Você não sabe a “saga” que foi para chegarmos até aqui! Isso, sem contar com o mico que aquela “em cima do salto” pagou né? E ainda envolveu minha pessoa!! - Ai, Rafa, tem que espalhar a fofoca, né?! Já que é pra contar, deixa comigo, pelo menos. - Val falou alto impedindo que Rafa continuasse o caso e Letícia emendou: - Duvido que a história de vocês seja pior que a minha. Tem coliforme fecal e parasitas envolvidos? - Que que isso, gente? Andam assistindo muito Dr. House! – comentou Rafael. - Rafa, quero ouvir a história da Val antes. Ela e Letícia disputam nas mancadas, mas pelo que eu me lembro, a figura aqui é insuperável, - disse Marina apontando para Valquíria. Val deu uma risada e começou: - Pois é, vamos ao mico, ou melhor, ao King Kong! Eis que eu, linda e maravilhosa, saía da agência com Rafael em direção a sua casa, Mari. Na subida do tobogã – aquele morro absurdo que sempre me aterroriza – o carro apagou... Rodei a chave na ignição uma dezena de vezes e, pluft... Nada do carro funcionar. A fila atrás de mim era enorme e a buzinação, digna de final de Copa do Mundo. Cheguei a pensar que eram pretendentes... – Val deu uma risada alta e sensual. – Mas, quando um deles gritou que eu devia pilotar fogão, percebi que a situação era mais grave. Valquíria fazia graça da própria autoestima e todos já se debulhavam de rir antes mesmo que a história chegasse ao fim. Ela então continuou: - Planejei cortar os pulsos, mas mudei de ideia quando encontrei no meu celular o telefone da oficina que fica a dois quarteirões da minha casa. Liguei pro Godoy, meu mecânico de confiança. Rafa colocou tempero na conversa: - Era tanta confiança que a coitadinha cometeu um ato falho... - Ai, Rafael, não teve graça nenhuma! – Todos arregalaram os olhos aflitos pelo desenrolar da história. - Pois bem! Godoy chegou de moto, enquanto eu e o Rafa ficávamos desviando o trânsito com as mãos. Logo, ele – o Godoy - descobriu que a bateria havia descarregado e ia precisar “dar carga”, ou “fazer uma chupeta” com um cabo lá, como falam os mecânicos. Fiquei tão feliz quando o carro voltou a funcionar que falei em voz alta em plena Avenida do Contorno: “Obrigada, Godoy! Esse boquete que você fez no carro salvou minha noite! Confundi chupeta com boquete! Pode?” E assim começou a noite em que Marina convocou os amigos para saber as poucas notícias que eles sabiam sobre Ana. Enquanto eles discutiam o que teria acontecido, o telefone de Rafa tocou. Ele olhou o número, deu um sorriso de canto de boca e disse: - Com licença meninas. Vou fumar um cigarro na varanda. - Mas, você não fuma! – falou Val. - Comecei agora! – Rafa saiu apressado já atendendo o celular. Meia hora depois, quando voltou à sala, Letícia perguntou: - Rafael, deu tempo de fumar um maço inteiro, hein? Não vai contar pra gente o que te faz tão misteriosamente feliz? - Ai, amigas! Queria manter segredo porque acho que dá azar contar antes que a história vingue sabe? Quem nem gravidez no primeiro trimestre! Quando eu tiver um bebê, vou esconder até passar essa fase de riscos... - Tem certeza que foi só cigarro que você fumou naquela varanda, Rafael? – perguntou Val, debochando do amigo. - Conheci um bofe ma-ra-vi-lho-so no “Grindr” – um aplicativo de celular pra localizar pretendentes. Miguel! Gato, elegante, gostoso e empresário de sucesso! - Uau! Baixa esse negócio agora no meu celular! – Pediu Val. - É aplicativo para gays, flor! Mas, não estou entendendo. Não tá chovendo na sua horta, não? Enfim, amanhã, combinamos de andar de patins na praça! - Patins? – perguntou Marina. – Pelo amor de Deus, Rafael, só não vai me dizer que o modelo dos seus patins é “bota cano alto”!! Todas riram e Val encerrou a conversa e a noite: - Não é não, mas ele fica que nem uma Tartaruga Ninja! Vi na foto! Continua no próximo episódio... (Este capítulo foi inspirado em uma história real. Participe também e envie sua história. Nós garantimos sigilo.)
Posted on: Tue, 29 Oct 2013 09:41:05 +0000

Trending Topics



Recently Viewed Topics




© 2015