Capítulo 9 - Fugimos de quatro caras de saia CARTER ENTÃO, - TopicsExpress



          

Capítulo 9 - Fugimos de quatro caras de saia CARTER ENTÃO, TÁ. NOSSA GATA ERA UMA DEUSA. Mais alguma novidade? Ela não nos deu muito tempo para pensar nisso. Bastet ordenou que eu fosse à biblioteca pegar o kit de magia de papai, e quando voltei, ela estava discutindo com Sadie sobre Khufu e Filipe. — Precisamos procurá-los! — insistia Sadie. — Eles vão ficar bem — retrucou Bastet. — Mas nós não ficaremos tão bem se não sairmos daqui agora. Eu levantei a mão. — Ah, com licença, Srta. Lady Deusa? Amós nos disse que a casa era... — Segura? — Bastet riu com ironia. — Carter, as defesas foram derrubadas com grande facilidade. Alguém as sabotou. — O que quer dizer? Quem... — Só um mago da Casa seria capaz disso. — Outro mago? — perguntei. — Por que outro mago iria querer sabotar a casa de Amós? — Ah, Carter... — Bastet suspirou. — Tão jovem, tão inocente. Os magos são criaturas diabólicas. Pode haver um milhão de razões para um deles atacar outro pelas costas, mas não temos tempo para discuti-las agora. Vamos sair daqui! Ela nos segurou pelo braço e nos levou para a porta da frente. Havia guardado as lâminas, mas suas unhas ainda eram garras afiadas, e feriam minha pele. Assim que saímos, o vento gelado fez meus olhos doerem. Descemos uma longa escada de metal até o pátio que cercava a fábrica. A bolsa de trabalho de meu pai pesava em meu ombro. A espada de lâmina curva que eu levava pendurada gelava minhas costas por cima da roupa de linho. Eu havia suado durante o ataque dos serpopardos, e agora tinha a sensação de que o suor se transformava em gelo. Olhei em volta, esperando ver mais monstros, mas o pátio parecia abandonado. Havia pilhas de equipamento para construção, máquinas muito velhas e enferrujadas – um rolo compressor, um guindaste com uma bola de demolição, dois misturadores de cimento. Pilhas de folhas de metal e engradados criavam um labirinto de obstáculos entre a casa e a rua, algumas centenas de metros distante dali. Estávamos na metade do pátio quando um gato vira-lata, velho e cinzento, surgiu no caminho. Uma de suas orelhas havia sido arrancada. O olho esquerdo estava inchado, fechado. A julgar pelas cicatrizes, ele tinha passado a maior parte da vida brigando. Bastet se abaixou e olhou para o gato. Ele a encarava com a expressão calma. — Obrigada — disse ela. O velho gato se afastou na direção do rio. — O que foi isso? — perguntou Sadie. — Um de meus súditos oferecendo ajuda. Ele vai espalhar a notícia sobre nossa situação. Em breve, todos os gatos de Nova York estarão em estado de alerta. — Ele está muito machucado — comentou Sadie. — Se é seu súdito, você não poderia tê-lo curado? — E remover suas marcas de honra? As cicatrizes das batalhas de um gato são sua identidade. Eu não poderia... De repente, Bastet ficou tensa. Ela nos puxou para trás de uma pilha de caixas de madeira. — O que é? — sussurrei. Ela flexionou os pulsos e as lâminas surgiram em suas mãos. Então, espiou por cima das caixas, todos os músculos de seu corpo tremendo. Tentei enxergar o que ela estava vendo, mas não havia nada exceto a velha bola de demolição no guindaste. A boca de Bastet se contraía com a agitação. Seus olhos estavam fixos na imensa bola de metal. Eu já tinha visto gatinhos com essa atitude quando perseguiam ratos de brinquedo, fios de lã ou bolas de borracha... Bolas? Não. Bastet era uma deusa muito antiga. Ela não podia... — Pode ser isso. — Ela se moveu. — Fiquem muito, muito quietos. — Não tem ninguém ali — sussurrou Sadie. — Hum... — comecei a dizer. Bastet saltou por cima das caixas. Ela voou uns nove metros, as lâminas cintilando, e aterrissou na bola de demolição com tamanha força que arrebentou a corrente. A deusa dos gatos e a grande esfera de metal caíram no chão e seguiram rolando pelo pátio. — Ruaun! — Bastet miou. A bola de metal rolou por cima dela, mas não pareceu que ela tenha se ferido. Saltou novamente. As lâminas cortavam o metal como se fosse argila molhada. Em segundos, a bola de demolição foi reduzida a um amontoado de sucata. Bastet guardou as armas. — Agora estamos seguros! Sadie e eu nos entreolhamos. — Você nos salvou de uma bola de metal — constatou Sadie. — Nunca se sabe — respondeu Bastet. — Ela poderia ser hostil. Foi então que um bum grave sacudiu o chão. Olhei para a mansão. Línguas de fogo azul brotavam das janelas mais altas. — Vamos — disse Bastet. — Nosso tempo acabou! Pensei que ela fosse nos transportar usando magia, talvez, ou que chamaria um táxi, ao menos. Mas Bastet tomou emprestado um Lexus prateado conversível. — Ah, sim — ronronou ela. — Gosto deste! Venham, crianças. — Mas não é seu — lembrei. — Meu querido, eu sou uma gata. Tudo que eu vejo é meu. Ela tocou a ignição, e o lugar onde colocaria a chave brilhou. O motor começou a ronronar. [Não, Sadie. Não como um gato, como um motor.] — Bastet — chamei — você não pode... Sadie me deu uma cotovelada. — Mais tarde pensaremos em um jeito de devolver o carro, Carter. Mas, agora, estamos em uma emergência. Ela apontou para a mansão. Chamas azuis e fumaça agora brotavam de todas as janelas. Mas isso não era o mais assustador. Descendo as escadas, havia quatro homens carregando uma grande caixa, que parecia um caixão maior que o normal, apoiado em duas varas longas – cada homem segurava uma das pontas. A caixa estava coberta por um pano preto e parecia grande o bastante para dois corpos, pelo menos. Os quatro homens vestiam apenas saiotes e calçavam sandálias. A pele acobreada brilhava ao sol, como se fosse metálica. — Ah, isso é muito ruim — comentou Bastet. — Para o carro, por favor. Eu decidi não fazer perguntas. Sadie se acomodou rapidamente no banco da frente, por isso eu pulei para o de trás. Os quatro homens metálicos carregavam a caixa pelo pátio, aproximando-se de nós a uma velocidade inacreditável. Antes mesmo que eu tivesse tempo de afivelar o cinto de segurança, Bastet pisou no acelerador. Cruzamos as ruas do Brooklyn, costurando entre os outros carros de um jeito insano, passando por cima de calçadas, quase atropelando os pedestres assustados. Bastet dirigia com reflexos que eram, bem... felinos. Qualquer ser humano que tentasse dirigir naquela velocidade já teria se envolvido em uma dúzia de acidentes, mas ela conseguiu chegar inteira à ponte Williamsburg. Eu tinha certeza de que havíamos despistado nossos perseguidores, mas, quando olhei para trás, os quatro homens com a caixa também se moviam pelo tráfego intenso. Eles pareciam correr num ritmo normal, mas ultrapassavam carros que estavam a 75 km/h. Seus corpos eram imagens borradas, como as de um filme antigo, como se eles estivessem fora de sincronia com o tempo real. — O que é aquilo? — perguntei. — São mais shabti? — Não, são carregadores. — Bastet olhou pelo retrovisor. — Foram invocados do Duat. E não vão parar até encontrarem suas vítimas, jogarem-nas na liteira... — Onde? — Sadie interrompeu. — Naquela caixa enorme — explicou Bastet. — É uma espécie de meio de transporte. Os carregadores pegam alguém, espancam até deixá-lo inconsciente, jogam lá dentro e levam de volta para o mestre. Eles nunca perdem de vista uma presa e nunca desistem. — Mas para que eles nos querem? — Você não vai querer saber — resmungou Bastet. — Acredite em mim. Pensei no homem de fogo em Phoenix, na noite anterior – em como ele havia fritado um de seus servos. Eu tinha certeza de que não queria encontrá-lo frente a frente outra vez. — Bastet — chamei — se você é uma deusa, não pode simplesmente estalar os dedos e desintegrar aqueles caras? Ou mover a mão e nos teletransportar para longe daqui? — Isso não seria ótimo? Mas meu poder neste hospedeiro é limitado. — Você se refere a Muffin? — perguntou Sadie. — Só que você não é mais uma gata. — Ela ainda é minha hospedeira, Sadie, minha âncora deste lado do Duat, e não é nada perfeita. Seu pedido de ajuda me permitiu assumir a forma humana, mas só isso já consome muita energia. Além do mais, mesmo quando estou em um hospedeiro poderoso, a magia de Set é mais forte que a minha. — Poderia, por favor, dizer alguma coisa que eu compreenda? — pedi. — Carter, não temos tempo para uma discussão detalhada sobre deuses, hospedeiros e os limites da magia! Precisamos garantir a segurança de vocês! Bastet pisou fundo no acelerador e atravessou metade da ponte. Os quatro carregadores com a liteira corriam atrás de nós, deixando um borrão na paisagem por onde passavam, nenhum automóvel mudava de curso para desviar deles. Ninguém entrava em pânico ou olhava na direção deles. — Como as pessoas não os enxergam? — perguntei. — Elas não percebem quatro homens acobreados usando saia e correndo pela ponte com uma caixa preta esquisita? Bastet deu de ombros. — Os gatos conseguem ouvir muitos sons que vocês não escutam. Alguns animais enxergam coisas no espectro ultravioleta que são invisíveis para os humanos. A magia é similar. Notou a mansão logo que chegou? — Bem... não. — E você nasceu para a magia — lembrou Bastet. — Imagine quanto tudo isso seria difícil para um simples mortal. — Nasci para a magia? Lembrei o que Amós dissera sobre nossa família ter integrado a Casa da Vida por muito tempo, e continuei: — Se a magia está, digamos, no sangue da família, por que não consegui praticá-la antes? Bastet sorriu pelo retrovisor. — Sua irmã entende. As orelhas de Sadie ficaram vermelhas. — Não, eu não! Ainda não consigo acreditar que você é uma deusa. Todos esses anos, você tem comido coisinhas crocantes, dormido a meu lado... — Fiz um acordo com seu pai — respondeu ela. — Ele me deixou permanecer no mundo, desde que eu assumisse uma forma inferior, a forma de um simples gato doméstico, para poder protegê-la e cuidar de você. Era o mínimo que eu podia fazer depois que... Bastet parou de repente. Ela olhava para a frente, para o para-brisa. — É isso, não é? — concluí. — Meu pai e a minha mãe fizeram algum tipo de ritual de magia na Agulha de Cleópatra. Algo deu errado. Mamãe morreu e... eles libertaram você? — Isso agora não é importante. O que importa é que aceitei cuidar de Sadie. E vou cuidar. Ela estava escondendo alguma informação. Eu tinha certeza disso, mas seu tom deixava claro que o assunto estava encerrado. — Se vocês, deuses, são tão poderosos e úteis — comecei — por que a Casa da Vida proibia os magos de invocá-los? Bastet passou para a pista de alta velocidade. — Os magos são paranoicos. Sua melhor chance é ficar aqui, comigo. Ficaremos o mais longe possível de Nova York. Depois, vamos procurar ajuda e desafiar Set. — Que ajuda? — Sadie quis saber. Bastet ergueu uma sobrancelha. — Ora, invocaremos mais deuses, é claro.
Posted on: Fri, 09 Aug 2013 17:30:34 +0000

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