Carta aberta aos utentes do Hospital Agostinho Neto O serviço - TopicsExpress



          

Carta aberta aos utentes do Hospital Agostinho Neto O serviço de Anatomia patológica é um departamento de especialidade médica cuja função principal é o diagnóstico das doenças, através de exames histológicos de peças e biopsias cirúrgicas fragmento de um órgão ou parte dele) e exames citológicos (ginecológicos e aspirativas). sendo que estes estudos e são efectuados por médicos anatomo - patologistas. A instalação e montagem do serviço de Anatomia Patológica do Hospital Agostinho Neto, iniciou-se em 1993, com a aquisição dos equipamentos, no entanto o serviço só começou a funcionar em pleno, no ano 2003. Fui a fundadora e responsável pela instalação do serviço, sendo a única médica especialista na área, de nacionalidade Cabo-verdiana. As técnicas do laboratório foram formadas por mim em colaboração com uma colega da área laboratorial, estando as mesmas em funções nos últimos dez anos. É um departamento de natureza terciária, intra -hospitalar, funcionando como referencial interdisciplinar, para médicos cirurgiões, ginecologistas, oncologistas e clínicos em geral. Sendo o diagnóstico histológico mandatório (imprescindível), para qualquer doença de natureza tumoral ou inflamatória. Assim para que esse serviço funcione de modo pleno, deve estar devidamente equipado, ter pessoal técnico e médicos anatomo - patologista, no seu corpo de especialistas, consumíveis de laboratório. Apesar da importância desta especialidade no diagnóstico de doenças, certo é que o mesmo serviço de anatomia patológica do hospital Agostinho Neto, desde há muito tem funcionado de forma precária, com dificuldades a todos os níveis, os equipamentos estão ultrapassados e obsoletos, sendo que todos eles foram adquiridos há cerce 20 anos, por despacho do então Ministro da Saúde Dr. Rui Figueiredo, há ruptura permanente de stock de consumíveis motivada pela existência de compra de forma aleatória e a conta gotas sem qualquer critério de eficácia, ou pela aquisição inadequada de reagentes, não obstante a minha indicação das referências e da qualidade dos produtos que devem ser adquiridos. Em face das dificuldades, tenho desenvolvido vários esforços junto da Direcção do hospital a fim de ver ultrapassadas essas dificuldades, sem sucesso, nos últimos cinco anos . Com a tomada de posse da actual directora do Hospital Agostinho Neto, que propalava mudanças e intervenções profundas no hospital Agostinho Neto, acreditei que tal mudança poderia ser possível, pelo que apesar de não ser a responsável pelo serviço desde de 2008, resolvi numa atitude colaborante e de boa fé, enviar por email à directora do hospital, uma lista na qual fiz constar todos os consumíveis necessários para o bom funcionamento do serviço, uma vez que o Stock estava esgotado. Dois dias após a recepção do email, a Directora do Hospital telefonou-me a dizer que o problema com o stock, passava pela Emprofac que não conseguia ter os materiais necessários, para o cabal funcionamento do serviço. Contudo não apresentou qualquer alternativa de solução, uma vez que a Emprofac não é responsável pela manutenção do stock do hospital, mas sim mera revendedora de produtos que importa. Decorridos cerca de seis meses, após a conversa, sem que tenha havido qualquer intervenção da Direcção do Hospital, em Junho de 2012, foi realizada uma inspecção ao serviço por dois médicos Cubanos, Dr. Carlos Hernandez director do serviço e Dr. Delfim Bautista Chaveco acompanhados por uma licenciada em Farmácia. No entanto não me foi dado a conhecer o objecto nem o resultado de tal inspecção. Na sequência da inspecção, fui chamada ao Ministério pela Ministra da Saúde que me fez saber que iam chamar de Portugal um Anatomo Patologista, ‘ilustre’, que viria levantar o serviço de Anatomia Patológica para o tornar abrangente a nível nacional. Durante a conversa dei a saber à Ministra que os serviços, só funcionam devidamente, em espaço adequado, equipamentos apropriados, com um stock de consumíveis estável, saber técnico - científico dos recursos humanos formados na área, fisicamente presentes e empenhados. Informei-a ainda que todos os equipamentos do serviço tinham cerca de vinte anos e que tinham sido adquiridos por despacho do então Ministro da Saúde, o Dr. Rui Figueiredo, no ano 1993, pelo que recomendaria, a substituição dos equipamentos e que se mandasse comprar todos os consumíveis em falta e que os produtos dessem estabilidade ao laboratório por um período de pelo menos seis meses. Logo, após ter sido chamada ao Gabinete da Ministra, a Directora do Hospital, Ricardina Andrade, ordenou que os blocos operatórios de cirurgia geral e de ginecologia, guardassem todas as peças e biopsias cirúrgicas resultantes dos actos operatórios, alegando que iam ser enviados para o exterior, o que aconteceu esporadicamente em apenas em alguns casos concretos. A maior parte das peças acumularam-se nos serviços, acabando por apodrecer, ficando os doentes, donos dos materiais, em qualquer parte do mundo, sem acesso aos mesmos, privados dos diagnósticos histopatológicos e do respectivo estadiamento tumoral (avaliação da extensão anatómica do tumor), credíveis, inviabilizando a actuação terapêutica de cura, numa só palavra, cerceados no acesso ao tratamento, enquanto a doença continuasse a seguir o curso natural. Escusado será dizer que não há nenhuma deliberação escrita, mas tal facto é do conhecimento de todo o hospital e de muitos utentes vítimas deste desamparo institucional e da conivência de alguns médicos que por mera conveniência não denunciam a tão grave situação. A 4 Janeiro do ano de 2013, apareceu no Serviço de Anatomia Patológica um indivíduo de nome José Manuel Pedrosa Baptista Lopes, médico anatomo - patologista de nacionalidade portuguesa, catalogado de ilustre visitante pela directora do hospital, acompanhado por quatro médicos, meus compatriotas, nenhum deles formado em anatomia patológica e três não médicos, sendo um deles, um enfermeiro e dois técnicos do banco de sangue que irromperam pelo serviço dizendo-me o Dr. José Lopes, que vinha cumprir um mandato da Ministra. Perante o acto de inspecção encapotada ao serviço, sem contudo estar presente o médico cubano, chefe do serviço, que se ausentou do mesmo, estranhamente, pouco antes do ilustre visitante chegar, resolvi apontar as dificuldades do serviço, frisando alguns aspectos, nomeadamente a inexistência de consumíveis. Contudo, o ilustre «médico», interrompeu-me dizendo que não estava interessado em saber quais as dificuldades do serviço, e que não estava interessado em saber se eu tinha ou não meios para funcionar, que estava ali para cumprir um mandato e que o cumpriria custe o que custasse. Acto contínuo ,pediu-me que lhe mostrasse o livro de registos, de entrada e saída de peças. Perante tal atitude, insolente e insultuosa respondi-lhe no mesmo tom. Pois que não era a chefe do serviço e não estava ali para cumprir nenhum ritual hipócrita, pois que enquanto médica anátomo - patologista não faz parte das minhas funções recepcionar visitantes ao serviço que não chefio, e acrescento agora, que eu não sou porteira do Serviço de Anatomia Patológica, sou médica anatomo - patologista formada na mesma escola do referido visitante e inscrita como especialista na mesma ordem médica (portuguesa) em que ele também está e não tenho que responder a nenhum inquérito feito por indivíduo estrangeiro que veio a Cabo Verde fazer um frete político, e que está-se nas tintas para o Serviço de e para os Cabo - Verdianos como fez a questão de salientar, assessorado por um compatriota meu que não tem qualquer capacidade de conceptualização e que profissionalmente se auto titulou de médico especialista. Por não compactuar com tentativas de manipulação da opinião pública, na medida em que qualquer reunião de bairro actualmente é transformada em rastreio de cancros ginecológicos enganando e explorando o desconhecimento e a boa fé das pessoas cujo acesso aos serviços que devem ser garantidos pelo Estado, lhes é cerceado de todas as formas, a directora do hospital Ricardina Andrade (não médica), em concertação com a ministra da saúde, mandou instaurar-me um processo disciplinar, com vista a um saneamento político, tendo como base o diz que diz, tendo em concreto sido acusada de não ter sido simpática e cordial com o «ilustre visitante». Com base na minha alegada antipatia, fui suspensa preventivamente do exercício das minhas funções, enquanto médica anatomo- patologista do Hospital Agostinho Neto, desde 25 de Janeiro de 2013, de forma arbitrária, por mera usura do poder, por um período que já dura cinco meses, apesar da Lei estipular que a suspensão preventiva em sede de processo disciplinar não poderá ultrapassar os 90 dias (3 meses). Como consequência directa da minha suspensão «preventiva» e conveniente, sem qualquer fundamento sério e nomeadamente o legal, o serviço ficou encerrado, por cinco meses com evidentes danos para os doentes. No meu lugar foi colocado um analfabeto em anatomia patológica, a quem se atribuiu competências por mera vontade administrativa que nas horas vagas vai fingindo que faz alguma coisa para ludibriar os incautos manifestando-se desta forma o tão propalado «serviço público de qualidade» em flagrante desconsideração pelos meus compatriotas doentes. A impunidade e a irresponsabilização têm permitido que responsáveis de serviços públicos julguem que podem fazer absolutamente tudo estribando-se em critérios político administrativos, contando com o silencio e cumplicidade de alguns médicos e o faz de conta das instituições que representam a classe, as quais não esboçam o mínimo de gesto que incomode o status quo. Assim, venho por este meio, denunciar publicamente que o serviço de Anatomia patológica do hospital Agostinho Neto, vem «funcionando», sem a presença de um médico especialista na área, pelo que não me responsabilizo pelos diagnósticos citológicos e histológicos que vêm sendo efectuados, à revelia de qualquer critério técnico e científico. Dr.ª Conceição Oliveira Médica/ Anatomo Patologista Cédula profissional nº 25594 Ordem dos Médicos Portugueses
Posted on: Fri, 19 Jul 2013 13:30:38 +0000

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