Carta-manifesto dos discentes do IPPUR/UFRJ à atuação da - TopicsExpress



          

Carta-manifesto dos discentes do IPPUR/UFRJ à atuação da PMERJ Nós, pós-graduandos em Planejamento Urbano e Regional pelo IPPUR/UFRJ, vimos manifestar o nosso repúdio à política de segurança pública adotada no estado do Rio de Janeiro. No âmbito dessa política que prepara os funcionários - públicos, não nos esqueçamos - a agir de forma discriminatória, em maio de 2013 o colega Bruno Paixão, morador da Nova Holanda (parte do Conjunto de Favelas da Maré), teve sua casa invadida e revistada sem qualquer mandado judicial em um contexto de operações ditas preparatórias para a instalação da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) na comunidade. Intimidado ao questionar o motivo de policiais militares danificarem seus pertences após arrombarem a porta, o estudante insistiu em denunciar o abuso e, coagido, interrompeu o mestrado e refugiou-se em outro país temendo represálias. Ressaltamos que a situação vivida pelo Bruno não é excepcional, sendo cotidiano o tratamento de moradores de favelas e periferia como criminosos e o impedimento de exercerem seus direitos à cidade. Enquanto nas manifestações dos últimos dois meses tentávamos evidenciar o que consideramos intolerável, os limites que expúnhamos e reclamávamos mostravam-se cada vez mais estendidos por uma prática sistemática de repressão que visa, por meio do medo, ensinar qual seria nosso lugar de crítica e fala, desarticulando práticas de reflexão, denúncia e contestação. Da favela para os bairros nobres, a nossa colega Carla Hirt foi arbitrariamente presa e agredida pela Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, em Ipanema, ao final da manifestação do dia 17 de julho. A doutoranda responde agora a um infundado processo criminal de formação de quadrilha com pessoas até então não conhecidas e acusa outras fraudes nas informações constantes no registro policial. Acreditamos que os casos de violências acima expostos não são pontuais, mas remetem a um mecanismo intrínseco e estruturante do Estado Brasileiro, e que não é diferente no Rio de Janeiro, para restringir os direitos sociais da classe trabalhadora e criminalizar as populações mais pobres da cidade, assegurando assim a estabilidade e reprodução da ordem social capitalista. Nesse sentido, o exercício de calar é uma prática comum prevista na concepção, preparação e orientação da política de segurança pública estadual, que pretende silenciar os que em suas ações questionam o sistema político-econômico vigente ou os modos de se fazer política e anular aqueles que pela simples existência e circulação expõem as diversas desigualdades estruturadas em nossa sociedade. Isso não significa uma disfunção, mas que as instituições públicas vigentes no estado do Rio de Janeiro são orientadas por uma racionalidade que opera as separações entre público/privado, cidade/favela, segurança/ameaça, morador/parasita, participação política/terrorismo, cidadão de bem/vândalo, trabalhador/vagabundo e tantas outras operações de nomeação e hierarquização. As demais instituições públicas trabalham nessa lógica, bem como a grande mídia colabora para que as desigualdades e injustiças permaneçam. A mesma Carla Hirt, vítima da ação truculenta e fraudulenta da PMERJ, foi transformada em inimiga dos manifestantes e agente infiltrada da ABIN em uma matéria caluniosa. Ela e seu esposo, o mestrando Igor Pouchain Matela, também aluno do IPPUR, foram expostos levianamente pelo jornal O Globo em duas “reportagens”, assinadas por Antônio Werneck, que pretendem deslocar o foco das ações da polícia estadual para a esfera federal. Cabe lembrar que, no dia em que Carla foi detida, foi dada uma cobertura sensacionalista aos quebra-quebras ocorridos no Leblon, na qual os donos de loja receberam amplo espaço midiático para enfatizar os danos às suas propriedades. No entanto, os grandes veículos de imprensa pouco noticiaram a chacina da Maré ocorrida três semanas antes. A tática de terror empreendida pelo poder estadual, cujo objetivo consiste em mostrar quem manda mais e em instaurar o medo, é fortemente apoiada e disseminada por um jornalismo que espalha inverdades e distribui desproporcionalmente as informações, legitimando uma atuação do Estado que aciona o termo público no intuito de privilegiar agentes econômicos específicos. Refutamos, portanto, não apenas a Secretaria de Estado de Segurança do Rio de Janeiro, como também o poder público estadual, que cada vez mais se mostra pautado em uma racionalidade discriminatória e autoritária. Repudiamos ainda a grande imprensa que deseduca por meio de construções falaciosas ou desigual destinação de espaço midiático aos grupos sociais. Expressamos, enfim, nossa solidariedade aos colegas e demais vítimas da cruel ação estatal e cobertura midiática. Assinam essa carta os alunos de pós-graduação pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Posted on: Thu, 01 Aug 2013 18:46:22 +0000

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