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Chega de monólogo A comunicação representa a pedra basilar em uma boa relação pedagógica. Diferencia-se em sala de aula o professor que sabe utilizar as palavras de maneira mais eficiente e com clareza, associadas ao tom de voz e expressão corporal adequados, para fazer-se entender pelo aluno. No entanto, mais do que de benefícios, a comunicação tem sido motivo de problemas para o aprendizado. O curioso é que, apesar de uma boa comunicação ser fundamental para a prática pedagógica, não há muitas fontes sobre o tema. Uma das poucas publicações é o livro Arte da Guerra para Professores, do professor e escritor Maurício Apolinário, atualmente gestor central do PDE-Escola do Ministério da Educação. Ele afirma que o docente recebe diplomação para lecionar, ministrar conteúdos, mas, em muitos casos, é deficiente na difusão do conhecimento. De fato, não são poucos os professores que estão na sala de aula sem conseguir se expressar bem, e muito menos transmitir informações de forma bem-sucedida. Além da falta de habilidade do educador, existem várias outras barreiras para a boa comunicação, das quais podemos destacar duas: a desatenção por parte do receptor, que ouve a explicação, mas está com o pensamento voltado para outras coisas; e o excesso de mensagens disputando a atenção, como conversas paralelas, revistas, celular, etc. Quando o docente percebe tais atos de indisciplina ou desatenção, explica Apolinário, a tendência é botar a culpa no aluno e se posicionar com autoritarismo. Agindo dessa maneira, é provável que nada conseguirá. Por outro lado, se dialogar com o mesmo propósito, certamente terá melhores resultados. De acordo com o escritor, a comunicação desejável é aquela clara, interativa, positiva e construtiva, passível de proporcionar um ambiente facilitador da aprendizagem dos alunos. “Para que haja uma boa comunicação entre duas ou mais pessoas, é necessário estabelecer pontos em comum entre elas. Quanto mais pontos comuns, maior será a probabilidade de uma boa comunicação”, observa. Inclusive, o termo comunicação vem do latim communis, que significa “comum”. Além disso, é preciso considerar que o professor somente pode transmitir com eficiência um conteúdo que ele conhece bem, que sinta prazer em ensinar e que pratique. Quando questionados e avaliados sobre a eficiência de suas aulas, todos acham que explanam muito bem o conteúdo de suas disciplinas. São raríssimos os mestres que admitem problemas de comunicação. “Mas, ao adentrarmos uma sala para assistir aulas por esse país afora, percebemos que a coisa é bem diferente”, afirma Apolinário, que já sentiu na pele as conseqüências da má comunicação com alunos. No início da carreira no magistério, no final da década de 1979, ele lecionou várias disciplinas. Apanhou mais em ciências na 7ª série, tanto por não ter domínio do conteúdo, quanto por não saber a maneira adequada de explaná-lo. Também escorregou em algumas aulas de literatura e língua portuguesa no ensino médio. “Nos dois casos, ouvi os alunos, consultei colegas e busquei alternativas. Em literatura, procurei mudar minha didática e também fiz especialização em história. Em relação ao gerenciamento de sala de aula, confesso que recorri muito ao autoritarismo ao invés do diálogo, mas lo go percebi que não era por aí, e isso me serviu como aprendizado. No início, não é muito fácil dar o braço a torcer”, completa. Se você está interessado em saber como anda sua capacidade de comunicação, uma boa dica é ter os alunos como termômetro. Perguntar se você se fez entender bem e escute as dicas. Depois, aceite as observações e reflita sobre as principais reclamações de seus alunos. O professor como ator A analogia entre lecionar e atuar é direta: no teatro, temos um ator que deve passar um conteúdo para a plateia. Ele deve ser entregue de forma clara e coerente, de modo que os ouvintes absorvam tudo aquilo que se pretende passar. De preferência, esse conteúdo deve também se tornar inesquecível. Se a plateia assiste a uma peça, absorve e compreende o conteúdo e continua a se lembrar dele com clareza, o ator pode se considerar um profissional de sucesso. Exatamente o mesmo acontece ao professor: ele também deve transmitir determinado conteúdo aos alunos, de maneira clara, adequada e inesquecível. Deve saber dar vida à disciplina, para que ela seja absorvida e transforme-se em parte orgânica da plateia – os alunos, que com certeza irão aplaudir uma boa aula da mesma forma que o público aplaude um bom espetáculo, ainda que em sala de aula as palmas sejam substituídas por sorrisos e olhares confiantes. Por isso, as técnicas teatrais podem ser um ótimo recurso para melhorar a comunicação em sala. Saber usar a voz e o corpo é essencial, pois essas são as ferramentas externas do professor. Quem defende sua utilização é Amanda Maya, uma das fundadoras do Centro de Pesquisa Avançada para Atuação Metódica, núcleo da Escola de Cinema e do Actor Studio (actorsstudio.br). Amanda afirma que as técnicas de teatro podem ser aplicadas na rotina do educador praticamente da mesma maneira que um ator as aplica. “Dependendo do texto abordado, o ator faz uma preparação específica de estratégias físicas para transmitir o conteúdo ao público da melhor forma possível. Para tanto, ele não apenas faz as escolhas, mas também deve praticá-las. Já o professor, poderia e deveria atravessar o mesmo processo, ou seja: qual a melhor forma para abordar e transmitir determinado conteúdo? Seria mais adequado abordá-lo de forma mais racional ou emocional? O apelo deveria ser mais físico ou verbal?” A aula pode ser “mapeada” da mesma forma que um ator “mapeia” seu texto, analisando o cerne de cada frase e descobrindo qual o clímax da informação abordada. Também como os atores, o professor deve “descobrir” a voz, saber quais impactos ela pode causar se utilizada de diferentes maneiras. “O ator percebe que o simples fato de acentuar mais esta ou aquela palavra pode alterar completamente o sentido de uma frase”, afirma a atriz, que também considera fundamental saber utilizar o silêncio. São as famosas pausas dramáticas, usadas para criar tensão, expectativa e prender a audiência. Outro ponto de extrema importância é o ritmo da fala. Para que o ator domine um texto ou uma audiência, é primordial que ele desenvolva um senso rítmico profundo, algo igualmente importante no processo de lecionar. “O ritmo geral da aula, o ritmo em que a informação é passada, o ritmo da prosódia, o ritmo do corpo, tudo isso influi diretamente na forma em que o público capta e compreende a informação”, informa a atriz. Outros recursos dramáticos que podem fazer a diferença para qualquer professor são: Desenvoltura e clareza na comunicação e dicção. Não basta saber aquilo que se quer falar, é preciso saber como falar e transmitir. Um dos estudos mais importantes do ator é justamente esse: como dar vida e sentido a um texto? Trabalho corporal associado às ideias que se esteja transmitindo. Ou seja, lembrar que não apenas a voz, mas também o corpo fala, e pode ser trabalhado em virtude daquilo que se queira transmitir. Um professor sem preparo ou consciência corporal pode, ainda que sem querer, perder por completo o interesse de seus alunos, enquanto um professor consciente pode manter toda uma classe interessada em suas palavras do início ao fim da aula. Compreensão das reações dos alunos e adaptação a cada tipo diferente de público. É importante saber interpretar a linguagem corporal da audiência e perceber quando há a necessidade de variar a estratégia de ação adotada para tal ou qual aula. Por exemplo, para determinados públicos, a aula precisa ser mais física? Para outros, a aula deve ser mais humorística? Para outras turmas, há a necessidade de diminuir o ritmo e explicar com mais calma, ilustrando com mais exemplos? Texto de Gustavo Rodrigues
Posted on: Thu, 04 Jul 2013 17:10:26 +0000

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