Coluna - Carlos Rubeno A ESTÁTUA DO DITADOR Falarei hoje das minhas lembranças acumuladas pelo viver andarilho de minha profissão pelo país afora, nosso Brasil grande tem muitas coisas diferentes, mas algumas insistem em trazer de volta à nossa mente aquilo que já conhecemos, e foi essa a experiência vivida nas minhas andanças, algumas vezes tive a impressão de estar vendo o mesmo filme de novo, aquela sensação de que o tempo e o espaço não existem, como se estivesse no mesmo lugar, numa data anterior, mas não era real, estava muito longe e o tempo tinha passado. Foi em 1.989, saí de Paulo Afonso na Bahia para Rondônia, meu destino foi um dos distritos do Município de Costa Marques, o nome é Príncipe da Beira, mas os militares chamam de Forte Príncipe ou simplesmente, “O Forte”, é um pelotão de fronteira instalado numa vila em torno de uma fortaleza construída no tempo do império, o nome inusitado foi uma homenagem a um dos filhos do rei que era o segundo na fila para substituir o soberano, ficou na “beira”. Cheguei lá e logo no segundo dia fui fazer reconhecimento da área, vesti calção, camiseta e tênis e fui andando, entrei na pista de grama que serve de aeroporto, e fiz um aquecimento, são 1.800 metros de chão plano com floresta dos dois lados, de lá fui até a margem do rio Guaporé, o quartel fica numa área em que há um barranco de uns 10 metros de altura, muito perto do rio, voltei para o centro da vila e sentei numa pracinha na sombra de uma árvore, a temperatura naquele fim de tarde ainda passava longe dos 30 graus. No meio da praça havia uma estátua, lembrei minha cidade de nascença, que também tem um arco na praça com uma estátua de Getúlio Vargas, fica de frente para a avenida do mesmo nome. Fiquei meditando sobre quem estaria representado num monumento de bronze ali, naquele lugar esquecido e distante, seria naturalmente um militar, Caxias, ou quem sabe o patrono da infantaria, já que a unidade era dessa arma, ou quem sabe o Marechal Rondon que havia passado por ali na década de trinta numa de suas expedições para o norte, levantei e fui ver o “semblante” do ilustre representado no metal já oxidado pelo tempo, não era nenhum dos que eu imaginava, era o mesmo vulto representado no arco em que passei inúmeras vezes em Santiago, era outro banco, era outra praça, era outro jardim, mas a estátua era a mesma, era ele, aquele que definem hoje como “o ditador”, mandava matar, torturar, era um horror, e tudo mais que tenha feito foi ideologicamente esquecido, para que o espaço no ensino e na mídia seja ocupado por importantes vultos históricos como Fidel Castro, por exemplo, que não tem nada a ver com os brasileiros, matou, torturou e não fez mais nada, e nós não temos nada com isso, não somos cubanos, nem comunistas, a estátua de bronze em agradecimento ao governo federal da parte dos que ali viviam ainda no tempo do antigo Território do Guaporé ainda esta lá, e prova que tem coisas que não se pode esquecer nem mudar. Falo do homem que iniciava seus discursos com a frase: “Trabalhadores do Brasil”, o criador da CLT, do voto feminino, da Petrobrás, da Eletrobrás iniciada em 48 com o início das usinas de Paulo Afonso na Bahia, da Usina de Volta Redonda negociada com os americanos durante a 2ª Guerra, que viabilizou o nascimento da indústria automobilística inaugurada por JK, sem ele os 50 anos em 5 não teriam acontecido por que não haveria tecnologia de fundição pesada, nosso sistema elétrico interligado teria se atrasado décadas e a nossa indústria não seria hoje a mais desenvolvida da América do Sul, não sou defensor de ditaduras, defendo empreendedores, homens de visão como Monteiro Lobato, quantos getúlios, jucelinos, quantos generais com a mesmas metas, o mesmo nacionalismo, o mesmo amor a camiseta o Brasil ainda precisa para aprender que é impossível apagar a história, ainda que a esquerda a reescreva, por que o papel aceita tudo, um dia a mentira será escancarada e todos vão saber quem fez mais mal para todos nós.
Posted on: Tue, 22 Oct 2013 22:47:10 +0000
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