Coluna publicada hoje no Jornal Gazeta do Oeste Os mortos vivos Já ouvi de várias pessoas que andar pelas ruas centrais da cidade durante a noite nos finais de semana, causa a impressão de estarmos fazendo parte do cenário de um filme de terror, daqueles onde os mortos voltam a vida como zumbis. Muitos brincam chamando o cenário de “The Walking Dead Div”, em alusão ao recente sucesso que aborda o tema em seriado da TV À Cabo. Zumbis, são como vem sendo chamados os usuários de drogas e mendigos que estão morando em vários pontos do Centro da cidade. Com olhares vazios em rostos sujos e roupas mulambentas, perambulam enrolados em cobertores abordando todos os que passam, implorando por uma moedinha, seja para comer, seja para ser trocada em uma pedra de crack. São mortos, porque não tem vida, não nos termos convencionados. São vivos, porque em suas veias corre sangue e o coração ainda bate, embora o cérebro não funcione como o dos demais porque está entorpecido pelo álcool e outras drogas mais pesadas. Sim, é um problema social que se desdobra em vários transtornos, maiores ou menores mas sempre incômodos. Nas proximidades dos locais que escolheram como abrigo, muito lixo, caixas de papelão e o característico odor de fezes e urina que são despejados em qualquer canto um pouco mais escondido. Quando caminham pelas ruas, é perceptível o constrangimento e o medo daqueles que são abordados para que cedam um trocado. Fosse apenas a situação de usuários de drogas, doentes ou portadores de sofrimento mental, a situação ainda assim seria grave, mas não tão preocupante. Em meio a estes, se misturam os mal intencionados que aproveitam-se deste cenário caótico para intimidar, roubar e no futuro, até coisa pior, caso nada sobre o assunto seja feito. Nas reuniões das entidades e órgãos da segurança pública o problema já é conhecido e debatido, mas estamos longe de encontrar a melhor solução. Por enquanto, apenas paliativos. Não dar esmolas é um deles, mas não e tão fácil. Como uma senhora idosa, indo para a igreja, com as pratinhas contadas para a hora da coleta, vai se recusar a entregá-las a um corpulento jovem barbudo, cuja as drogas ainda não o devastaram por completo e que por isso tem força suficiente para arrancá-las a força se assim quiser? É verdade que muitos preferem dar a esmola para se verem livres do mau cheiro e daquela imagem de filme de terror o mais rápido possível. Mas como disse anteriormente, para alguns é muito difícil lidar com esta abordagem, principalmente quando se é idoso, doente, deficiente ou criança. Muitos afirmam que deveria ser feito o encaminhamento dos usuários de drogas para clínicas e dos mendigos para suas famílias. É outra situação que não pode ser analisada de maneira tão simplória. Não há nada que proíba uma pessoa de estar nas ruas e elas só poderão ser mandadas para qualquer lugar, se assim quiserem. No caso de terem cometido algum crime, fica menos difícil, mas de forma alguma mais fácil, afinal, todos sabemos que o nossos sistema prisional está sobrecarregado e os pequenos crimes acabam não recebendo pena de reclusão. Na verdade todo este cenário é culpa da triste realidade brasileira que agrava problemas sociais com uma velocidade muito maior do que a da implementação de medidas para promoção humana. Como lidar com esta situação já é tema de debate em diversas rodas profissionais e também nas entidades e instituições que tratam do assunto. Solução definitiva, só a de longo prazo, que é a diminuição das desigualdades sociais, sistema educacional eficiente e suporte psicológico mais acessível a todos os cidadãos. Até lá, temos que discutir os paliativos e fazer o possível para que não nos tornemos reféns dos mortos-vivos, obrigando-nos a fazer parte de um roteiro, de qualidade extremamente duvidosa, que preferíamos que jamais tivesse sido escrito! Para refletir “O pobre prefere um copo de vinho a um pão, porque o estômago da miséria necessita mais de ilusões que de alimento." Georges Berna nos
Posted on: Wed, 04 Sep 2013 00:33:44 +0000
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