Como nem sempre prestamos atenção à beleza que nos rodeia, aqui deixo algumas palavras à nossa fiel companheira de sempre: À Lua Aí na abóboda celeste, tu, paciente e amante, vigias o sono deste pedacinho de terra de onde foste arrebatada em tempos idos. Vigias-lhe o sono e alimenta-lhes os seus inúmeros e vorazes filhos qual companheira silenciosa dos infortúnios desta malfadada alcova humana. Sinto no corpo as carícias quentes da tua eterna saudade renovada e empalideço sob o teu luar gélido de censura, pressentindo já o desespero de uma alma moribunda. E, enquanto a Terra dorme, eu contemplo-te daqui, muito distante e muito próxima, numa cálida troca de olhares onde te ofereço a minha amizade e devoção. Estendo o braço e procuro tocar a aura da tua presença, imaginando como seria feliz por ser eu o objeto de amor tão dedicado. Mas o teu amor fiel resistiu à sucessão de inúmeros devaneios românticos com que te brindam em recantos íntimos de jardins e livros esquecidos. E o meu fervor é tal que me deixo deslizar numa cascata rodopiante de imaginação onde te transformas num príncipe de infinitos reinos, indistinto do seu corcel prateado, aguardando ansioso a sublimidade do reencontro. Oh! Que vergonha sugerir-te a traição, pecado ignóbil da multiplicação da miséria humana que não deve sequer ensombrar a imaculada nobreza da tua primordial afeição! Vamos, então, ser amigas: trocamos confidências mudas, partilhamos segredos intemporais, damos as mãos e rodamos, rodamos como crianças despreocupadas que se enleiam em alegres brincadeiras numa intimidade comprometida. E, rodo, rodo tanto que fico tonta e, sem fôlego, deixo-me cair no teu abraço confortante e refresco-me no teu hálito rejuvenescedor. Já sonolenta, adormeço com o olhar enternecido da Mãe Terra que, provavelmente, acordou com os ruídos das nossas brincadeiras, não se importando de suspender o seu sono para guardartais quadros de ternura nas suas recônditas memórias.
Posted on: Sat, 27 Jul 2013 01:48:48 +0000
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