Concluí ontem a nona leitura de "O Nome da Rosa". Um velho monge franciscano e seu pupilo, um noviço beneditino, tentam desvendar uma série de homicídios perpetrados em um mosteiro não nomeado, situado algures na Itália, no final de um inverno em meados do séc. XIV. O Santo Ofício, de que frei William of Baskerville, o monge franciscano que protagoniza a trama, fora membro, intervém poderosamente na trama e a "Questão das Investiduras", que opôs o Papado ao Sacro Império Romano-Germânico, faz também parte do plano de fundo para o desenrolar as investigações sobre as mortes suspeitas de vários monges. Acredita-se na direta intervenção do demônio e numa ligação com as profecias do Apocalipse e toda a ação se dá ao redor da rica biblioteca do mosteiro. O autor (o italiano Umberto Eco, caso alguém não o saiba) revela ao fim que os crimes foram maquinados por um idoso monge cego e para evitar que viesse a lume a última cópia sobrevivente da segunda parte da "Arte Poética", de Aristóteles, dedicada à comédia, pois a divulgação dessa obra, aliada à autoridade do pensador grego, poderia levar à aceitação do riso como veículo da verdade espiritual e a uma consequente diminuição da autoridade da Igreja Romana, com seu discurso baseado no temor e obediência. Ora, a Inquisição e a caça às heresias pertencem ao passado, bem os embates entre o Papa e o Imperador. A dúvida a respeito de Cristo ter rido ou não, que de fato preocupava os teólogos medievais, hoje nos parece ela própria merecedora de risos, independente de qual pudesse ser a opinião de Aristóteles sobre o valor de uma gargalhada. Nenhum dos problemas que determinavam as vidas dos personagem desse grande livro têm agora qualquer relevância. Na superfície, "O Nome da Rosa" é uma narrativa totalmente de outra época, desligada do mundo moderno. Entretanto... Usar quaisquer expedientes para conservar o poder, esconder ou distorcer informações e ainda matar, se parecer necessário... Isso é de todas as épocas.
Posted on: Thu, 22 Aug 2013 20:53:57 +0000
Recently Viewed Topics
© 2015