Confiança e investimento: o que faz falta é animar… 27 - TopicsExpress



          

Confiança e investimento: o que faz falta é animar… 27 Setembro 2013, 00:01 por José M. Brandão de Brito Quando as autoridades intervêm com o intuito de contrariar o curso da recessão introduzem distorções que muito ampliam a propensão para o erro nas decisões de investimento. Como a própria recorrência dos ciclos comprova, a introdução de estímulos artificiais não salva os projetos inviáveis. Ninguém contesta a proposição de que não há investimento sem confiança. Mas… confiança em quê? Ora, no vigor da economia! Esta resposta intuitivamente apelativa conduz, porém, a uma tautologia insanável: o investimento precisa de crescimento, sendo que não há crescimento sem investimento. Na verdade, a confiança de que se nutre o investimento produtivo (por oposição ao especulativo) é essencialmente da estirpe institucional - é a simplicidade das "regras do jogo" e a segurança quanto à sua estabilidade que encorajam o empreendedorismo. Tudo o resto são epifenómenos. A ideia de que a procura agregada é a batuta por que se rege o investimento colide com o facto de esta componente da despesa andar desfasada do PIB. Mais concretamente, o investimento tende a arrancar antes de a economia bater no fundo e a perder vigor na fase de maior exuberância. Isto significa que os investidores são mais arrojados na fase mais deprimida do ciclo e mais conservadores na fase mais dinâmica. Mas não são estes os momentos, respetivamente, de menor e maior "confiança" na economia? Não era suposto ser ao contrário? A solução para este aparente paradoxo remete-nos para a noção de ciclo económico. A mera existência de ciclos e a sua regularidade no tempo e no espaço decorre de um padrão de comportamento oscilatório do investimento. Em particular, as fases ascendentes dos ciclos são desencadeadas por uma profusão de projetos de investimento inadequados que, não obstante, vão empregando recursos (capital e trabalho), causando uma expansão da atividade. Acontece que passado algum tempo, a insustentabilidade desses projetos leva à sua inevitável liquidação, com nefastas consequências sobre o emprego e a procura agregada, dando origem à fase recessiva. Como as más decisões de investimento resultam da falibilidade inerente à condição humana dos empresários dir-se-ia que os ciclos económicos são inevitáveis. Assim não tem de ser. Em condições normais, os erros empresariais são aleatórios e limitados. Contudo, quando as autoridades intervêm com o intuito de contrariar o curso da recessão introduzem distorções que muito ampliam a propensão para o erro nas decisões de investimento. Como a própria recorrência dos ciclos comprova, a introdução de estímulos artificiais não salva os projetos inviáveis, limitando-se a protelar a sua descida ao purgatório empresarial, com a agravante de impedir que se vá processando a tão necessária transferência de recursos dos empreendimentos insalubres para os viáveis. Dessa forma reduz-se a capacidade de crescimento e de renovação da economia, pois os recursos que a política canaliza para empresas "condenadas" não podem ser utilizados para dar corpo aos projetos de maior potencial e, sobretudo, de maior conteúdo inovador. As referidas políticas são prejudiciais mesmo para os projetos que singram, uma vez que o estímulo é financiado por via do aumento da carga tributária futura (dívida pública) ou introduzido através da redução do poder aquisitivo da poupança (via inflação gerada pela política monetária). Em qualquer dos casos, diminui o poder de compra dos consumidores no horizonte temporal em que o investimento presente entra em fruição: o futuro. Serve este palratório para enquadrar a discussão que atualmente grassa com grande fragor no nosso país sobre a necessidade (ou não) de se flexibilizar o objetivo orçamental para 2014 por forma a não comprometer a retoma nascente. É aqui que a verdadeira questão da confiança se coloca. Mais défice significa mais dívida e, logo, um risco acrescido de nova crise financeira, como esta semana avisou Mario Draghi. Para a retoma sustentada do investimento concorre exclusivamente o cumprimento tão rigoroso quanto possível dos termos do programa de assistência externa, tanto na dimensão das finanças públicas como na das reformas estruturais - a tal simplicidade e estabilidade das regras do jogo mencionadas no início deste texto. Aludindo à bem conhecida canção de Zeca Afonso, o que faz falta é animar - não embriagar - a malta. Negócios online
Posted on: Sat, 28 Sep 2013 15:02:37 +0000

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