"(...) Contem-lhe, bem em segredo, que eu devo estar prestes, que - TopicsExpress



          

"(...) Contem-lhe, bem em segredo, que eu devo estar prestes, que meus Ombros não se devem curvar, que meus olhos não se devem Deixar intimidar, que eu levo nas costas a desgraça dos homens E não é o momento de parar agora; digam-lhe, no entanto Que sofro muito, mas não posso mostrar meu sofrimento Aos homens perplexos; digam-lhe que me foi dada A terrível participação, e que possivelmente Deverei enganar, fingir, falar com palavras alheias Porque sei que há, longínqua, a claridade de uma aurora. Se ela não compreender, oh procurem convencê-la Desse invencível dever que é o meu; mas digam-lhe Que, no fundo, tudo o que estou dando é dela, e que me Dói ter de despojá-la assim neste poema; que por outro lado Não devo usá-la em seu mistério: a hora é de esclarecimento Nem debruçar-me sobre mim quando a meu lado Há fome e mentira; e um pranto de criança sozinha numa estrada Junto a um cadáver de mãe (...) Contem a ela da minha certeza no amanhã Que sinto um sorriso no rosto invisível da noite Vivo em tensão ante a expectativa do milagre; por isso Peçam-lhe que tenha paciência, que não me chame agora Com a sua voz de sombra; que não me faça sentir covarde De ter de abandoná-la neste instante, em sua imensurável Solidão, peçam-lhe, oh peçam-lhe que se cale Por um momento, que não me chame Porque não posso ir Não posso ir Não posso. (...) Digam-lhe que é este O meu martírio: que às vezes Pesa-me sobre a cabeça o tampo da eternidade e as poderosas Forças da tragédia abastecem-se sobre mim, e me impelem para a treva Mas que eu devo resistir, que é preciso... Mas que a amo com toda a pureza da minha passada adolescência Com toda a violência das antigas horas de contemplação estática Num amor cheio de renúncia. Oh, peçam a ela Que me perdoe, ao seu triste e inconstante amigo A quem foi dado se perder de amor pelo seu semelhante A quem foi dado se perder de amor por uma pequena casa Por um jardim de frente, por uma menininha de vermelho A quem foi dado se perder de amor pelo direito De todos terem um pequena casa, um jardim de frente E uma menininha de vermelho; e se perdendo Ser-lhe doce perder-se... (...)"
Posted on: Mon, 10 Jun 2013 09:28:27 +0000

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