Cultura: Falar em política é falar de poder Publicado em: - TopicsExpress



          

Cultura: Falar em política é falar de poder Publicado em: 01/06/2013 Nenhum conceito é mais usado na linguagem da política do que o de poder. Falar em política é falar em poder. Entretanto, este é um conceito da vida diária, que se aplica também para muitos outros aspectos da vida, diferentes da política. Além disso, poder é um conceito muito próximo de outros, particularmente do termo influência. O que é, então, verdadeiramente o poder na política? em que consiste? qual a sua função na vida social? O que o distingue de outros termos assemelhados, como influência? Porque as sociedades organizam-se com base no poder, e não em outros princípios? O poder pode ser visto como uma massa de energia que a sociedade coloca nas mãos do governante, dentro de marcos legais estabelecidos, para realizar os objetivos dos seus membros. Esta massa de energia é composta de recursos financeiros , de ativos instalados e em operação (usinas, estradas, redes de energia etc), e de pessoal contratado para operar as instalações públicas e fazer a “máquina” do governo funcionar, em todas as suas frentes. Quem comanda esta massa de energia, detém o poder, comanda o governo, assumindo a responsabilidade pelo funcionamento do governo (provendo bens e serviços públicos para a população) e pelas suas realizações (tudo que é feito além do que já existia). Este é o poder político, em qualquer nível. O enunciado acima é válido para uma cidade, para um estado assim como para o país. Luta-se pelo poder exatamente para adquirir o comando desta “massa de energia”, com a qual torna-se possível realizar objetivos de natureza coletiva. Por sua própria natureza, o poder não convida, manda; não sugere, determina. Há toda uma estrutura legal que legitima inclusive o “uso ou ameaça do uso da sanção física”, para garantir que as decisões do poder (obtidas em respeito à Constituição) sejam cumpridas e obedecidas pelos cidadãos. Portanto o poder é uma energia muito eficiente para realizar tarefas e para afetar o comportamento das pessoas. Enquanto a influência, para induzir um comportamento, dependerá sempre da aceitação do influenciado, da sua anuência, o poder induz o comportamento desejado, independente da anuência, aceitação, boa ou má vontade do indivíduo afetado. A influência é sugestiva, poder é autoritário, embora, numa democracia, seja o exercício de uma autoridade legítima, dentro dos marcos legais estabelecidos. Porque as sociedades se organizam com base no poder e não com base na influência ? Porque a provisão de bens e serviços públicos, da qual depende a própria sobrevivência da sociedade, exige que o governo tenha capacidade de ação e meios à sua disposição para executá-los, mesmo contrariando interesses de sua população. Ninguém gosta de pagar impostos, e, se este pagamento fosse voluntário, não haveria como financiar o governo; ninguém gosta de ir para a guerra, e se esta decisão fosse voluntária, não se poderia organizar as Forças Armadas para a defesa nacional. Da mesma forma, todos gostariam de dirigir seus carros como bem entendem. Mas se isso ocorresse o trânsito se tornaria um caos. Bertrand Russell Os exemplos podem ser multiplicados, mas em todos os casos nos defrontaremos com a realidade de que, se a vida social tivesse a sua base fundada na influência, na persuasão, jamais haveria a certeza de que os bens públicos (saúde, educação, segurança, limpeza, transporte, investimentos etc) seriam providos à população. Somente fundando-se a vida social no poder, pode-se ter segurança de que os serviços e bens públicos serão providos aos indivíduos, e que estes terão que adaptar seu comportamento às regras legalmente vigentes. Segundo Bertrand Russell, na sua elegante definição, o “poder é a produção de efeitos desejados”. O poder é simplificador, é um “atalho”. Como ele se exterioriza por comandos, garantidos por sanções, a probabilidade de que tais comandos venham a ser observados e cumpridos é muito alta. Esta a razão porque os grupos sociais se organizam politicamente para conquistar o poder. Quem o conquista, ganha o governo, e, com ele, o poder. Em outras palavras, ganha o direito legítimo de usar aquela “massa de energia”, para realizar os objetivos para os quais foi escolhido. O competente exercício do poder, então, não é apenas um atributo ou qualificativo de uma liderança. Muito mais que isto, ele é um imperativo da sobrevivência da sociedade, do seu ordeiro regramento, e da vida civilizada. Cultura: Discurso fúnebre de Marco Antônio em homenagem a César Publicado em: 16/05/2013 Este discurso é uma das mais belas peças oratórias fúnebres. É talvez o momento mais emocionante da tragédia Julius Ceasar de Shakespeare, e um dos mais exigentes testes de eloquência para as legiões de intérpretes de Marco Antônio ao longo da história. Você encontrará este discurso, pronunciado de forma inesquecível por Marlon Brando, no filme dirigido por Joseph L. Mankiewicz, em 1953, acessando o link registrado abaixo. O discurso foi pronunciado por Marco Antônio, nas escadarias do Senado Romano, em frente ao corpo morto de Cesar, assassinado a facadas pela conspiração de Brutus e Cassius. Para se entender o lance político do discurso é preciso explicar um pouco o contexto em que foi feito. O assassinato de Cesar havia sido bem aceito pela população, já que a explicação que seus autores ofereceram para seu ato foi a de que ele estava prestes a dar um golpe e se autonomear rei, o que era inaceitável na cultura politica romana Marco Antônio, era muito próximo de Cesar, correu o risco de morrer junto com ele pois, para evitar que reagisse ao ataque a Cezar, foi distraído por um dos senadores da conspirata para uma conversa fora do local onde Cesar seria assassinado. Consumado o assassinato, Marco Antônio, procurado pelos conspiradores, acertou com eles que falaria no Senado em prol da pacificação dos ânimos. Preservou assim a sua prerrogativa de fazer o discurso fúnebre de Cesar. Neste discurso, frente a uma massa de cidadãos que até há pouco apoiavam e admiravam a Cesar, mas que agora o condenavam, Marco Antônio começa dando razão aos conspiradores, para ganhar tempo e ser ouvido pela massa. Seguindo uma estrutura em que: na primeira frase condena Cesar, reitera que Brutus é um homem honrado, para na próxima frase dizer, “mas...” e dar um exemplo real da grandeza, bondade, lealdade e do amor que Cesar tinha pelo povo de Roma. Assim, pouco a pouco Marco Antônio consegue mudar o estado de espírito da massa voltando-a contra os assassinos. O orador, com invulgar habilidade, inicia submetendo-se ao sentimento dominante (anti Cesar), mas encontra uma forma sutil de dialeticamente afirmar ao mesmo tempo a crítica e a observação positiva. Como esta última é mais poderosa que a primeira, aos poucos vai recuperando a imagem positiva, relembrando suas boas ações, seu patriotismo, suas virtudes, de forma a deixar para o povo a conclusão da enormidade do crime praticado não mais contra Cesar, mas sim contra Roma e o povo romano. O Cesar odiado volta a ser o Cesar amado, e ressurge para a vida política com os que lhe permaneceram fiéis, e pelo ódio aos seus inimigos. É tentador lembrar a dramática mudança da reação popular à morte de Getúlio, depois dos discursos de políticos como os de Tancredo e Brizola. O Getúlio impopular de um dia atrás, ressurgia para a política nas palavras dos seus representantes, e na emoção popular. O texto do discurso de Marco Antônio foi extraído da peça Julio Cesar de Shakespeare e a interpretação de Marlon Brando pode ser vista no link: O discurso: “Amigos, romanos, cidadãos dêm-me seus ouvidos. Vim para enterrar Cesar, não para louvá-lo. O bem que se faz é enterrado com os nossos ossos; que seja assim com Cesar. O nobre Brutus disse a vocês que Cesar era ambicioso. E se é verdade era uma falta muito grave, e Cesar pagou por ela com a vida, aqui, pelas mãos de Brutus e dos outros. Pois Brutus é um homem honrado, e assim são todos eles, todos homens honrados. Venho para falar no funeral de Cesar. Ele era meu amigo, fiel e justo comigo. Mas Brutus diz que ele era ambicioso. E Brutus é um homem honrado. Ele trouxe muitos prisioneiros para Roma que, para serem libertados, encheram os cofres de Roma. Isto parecia uma atitude ambiciosa de Cesar? Quando os pobres sofriam Cesar chorava. Ora a ambição torna as pessoas duras e sem compaixão. Entretanto, Brutus diz que Cesar era ambicioso. E Brutus é um homem honrado. Vocês todos viram que na festa do Lupercal eu, por três vezes, ofereci-lhe uma coroa real, a qual ele por três vezes recusou. Isto era ambição? Mas Brutus diz que ele era ambicioso, e Brutus, todos sabemos, é um homem honrado. Eu não falo aqui para discordar do que Brutus falou. Mas eu tenho que falar daquilo que eu sei. Vocês todos já o amaram e tinham razões para amá-lo. Qual a razão que os impede agora de homenageá-lo na morte? Neste momento Marco Antônio faz uma pausa no discurso, e as pessoas do povo começam a refletir sobre o que ele disse, e a questionar se Cesar tinha afinal merecido a morte que teve. Passado este interlúdio retorna Marco Antônio a falar: “Ontem a palavra de Cesar seria capaz de enfrentar o Mundo; agora jaz aqui morta. Ah! Se eu estivesse disposto a levar os seus corações e mentes para o motim e a violência, eu falaria mal de Brutus e de Cassius, os quais como sabem, são homens honrados. Não vou falar mal deles. Prefiro falar mal do morto. Prefiro falar mal de mim e de vocês do que destes homens honrados. Mas, eis aqui, um pergaminho com o selo de Cesar. Eu o achei no seu armário. É o seu testamento. Quando os pobres lerem o seu testamento (porque, perdoem-me, eu não pretendo lê-lo), e eles se arrojarão para beijar os ferimentos de Cesar, e molhar seus lenços no seu sagrado sangue.” O povo reclama de Marco Antônio e exige que ele o leia: “Tenham paciência amigos, mas eu não devo lê-lo. Vocês não são de madeira ou de ferro e sim humanos. E, sendo humanos, ao ouvir o testamento de Cesar vão se inflamar, ficarão furiosos. É melhor que vocês não saibam que são os herdeiros de Cesar ! Pois se souberem... o que vai acontecer ? Então vocês vão me obrigar a ler o testamento de Cesar ? Então façam um círculo em volta do corpo e deixem-me mostrar lhes César morto, aquele que escreveu este testamento. Cidadãos. Se vocês têm lágrimas, preparem-se para soltá-las. Vocês todos conhecem este manto. Vejam, foi neste lugar que a faca de Cassius penetrou. Através deste outro rasgão Brutus, tão querido de Cesar, enfiou a sua faca e, quando ele arrancou a sua maldita arma do ferimento, vejam como o sangue de Cesar escorreu. E Brutus, como vocês sabem, era o anjo de Cesar. Oh! Deuses, como Cesar o amava. O golpe de Brutus foi, de todos o mais brutal e o mais perverso. Pois, quando o nobre Cesar viu que Brutus o apunhalava, a ingratidão, mais que a força do braço traidor, parou seu coração. Oh! Que queda brutal meus concidadãos. Então eu e vocês e todos nós também tombamos, enquanto esta sanguinária traição florescia sobre nós. Sim, agora vocês choram. Percebo que sentem um pouco de piedade por ele. Boas almas. Choram ao ver o manto do nosso Cesar despedaçado. Bons amigos, queridos amigos, não quero estimular a revolta de vocês. Aqueles que praticaram este ato são honrados. Quais queixas e interesses particulares os levaram a fazer o que fizeram, não sei. Mas são sábios e honrados e tenho certeza que apresentarão a vocês as suas razões. Eu não vim para roubar seus corações. Eu não sou um bom orador como Brutus. Sou um homem simples e direto, que amo os meus amigos.” Seguem-se novamente comentários das pessoas, já agora lamentando o assassinato e condenando os assassinos. Volta Marco Antônio : Aqui está o testamento, com o selo de Cesar. A cada cidadão ele deixou 75 dracmas. Mais, para vocês ele deixou seus bens. Seus sítios neste lado do Tibre, com suas árvores, seu pomar, para vocês e para os herdeiros de vocês e para sempre. Este era Cesar. Quando aparecerá outro como ele? Revoltada a massa sai rumo às casas dos conspiradores para vingar Cesar. ADENDO – Uma curiosidade histórica: Em novembro de1864 no Teatro de Winter Garden, os irmãos Booth fizeram, em Nova York, sua única aparição juntos nessa peça de Shakespeare. John Wilkes Booth – que viria ser o assassino de Lincoln em 1865 - representava Marco Antônio; Junius Booth Jr.- Cássio e Edwin Booth – Brutus. A exibição era beneficente e destinava-se e captar recursos para pagar a estátua de Shakespeare no Central Park, onde se encontra até hoje Cultura: Roosevelt, a grande depressão e o New Deal - Parte I Publicado em: 08/05/2013 RooseveltO discurso de Roosevelt, ao tomar posse pela primeira vez em Março de 1933, como Presidente dos EUA, é mais conhecido pela frase brilhante: “A única coisa que devemos temer é o próprio medo” A frase é um sound bite, de raro brilhantismo, anunciando o espírito com que Roosevelt assumia a presidência, com os EUA atolados na Grande Depressão, conseqüência da Crise Econômica de 1929. Roosevelt assumiu a Presidencia um mês depois de Hitler ter tomado posse como o novo Chanceler do Reich, na Alemanha, e permaneceu no poder como Presidente, pelo mesmo período que seu principal inimigo – Hitler - iria também permanecer. É muito singular a coincidência das datas: Hitler fora nomeado Chanceller em 30 de janeiro de 1933 – Roosevelt assumira a presidência em 4 de março de 1933; Hitler suicidou-se em Berlim em 30 de abril de 1945 – Roosevelt morreria em 29 de março de 1945. Na data desse clássico discurso os EUA estavam no fundo da crise. O desemprego aproximava-se dos 30%; os efeitos na agricultura provocavam uma brutal queda dos preços dos produtos, levando os pequenos e médios proprietários a vender suas casas e ir para as cidades, em busca de emprego (especialmente as da Califórnia) . Essa saga é admiravelmente descrita em As vinhas da Ira, romance de John Steibeck, levado ao cinema por John Ford, com Henry Fonda no papel principal. (Recomendo a leitura e/ou assistir ao filme) Cartaz do lançamento das Vinhas da ira Franklin Delano Roosevelt nasceu em 30 de Janeiro de 1882 na cidade de Hyde Park no estado de New York. Seu pai James Roosevelt, e sua mãe Sara, pertenciam a antigas, ricas e tradicionais famílias de Nova York. Suas famílias tinham árvores genealógicas que chegavam ao período anterior à colonização americana. Ascendentes de sua mãe tinham vindo no Mayflower (1620) primeiro navio de colonizadores a chegar aos EEUU. Roosevelt integrava portanto, o segmento social mais próximo de uma aristocracia que os EEUU conheceram. Franklin era filho único, tendo crescido em meio a uma atmosfera de segurança, privilégios e luxo, tendo estudado nas melhores escolas - Grotton, Harvard, Columbia . Era primo distante do presidente Theodore Roosevelt, com cuja sobrinha Eleonor, casou. Foi senador estadual, secretário adjunto da Marinha, candidato derrotado a vice-presidente da república, governador do estado de Nova York, e presidente da república. Em agosto de 1921, Roosevelt contraiu uma doença diagnosticada como pólio, que o deixou com uma paralisia permanente da cintura para baixo. Roosevelt entrou em guerra com sua doença. Submeteu-se a toda a sorte de tratamentos, sobretudo hidroterapia (Há um filme deste período cujo nome não me lembro e que vale a pena ser visto). Mentia para os outros que estava melhorando, para não prejudicar sua carreira política. Conseguia caminhar um pequeno trecho, com enorme esforço. Uma das duas únicas fotos em cadeira de rodasTorcia seu tórax para um lado e apoiava o corpo em suas bengalas e na estrutura de aço que mantinha eretas suas pernas. Em casa e nas demais situações privadas, usava uma cadeira de rodas embora não permitisse ser fotografado com ela. Normalmente aparecia em público em pé apoiando-se num assessor. Usava também um automóvel com controles manuais. Nessas condições físicas disputou e ganhou a presidência da república em1932. Acampanha eleitoral desenvolveu-se em meio à Grande Depressão. No seu discurso de aceitação da candidatura, durante a Convenção do Partido Democrático, Roosevelt anunciou o New Deal, nos seguintes termos: “Através de toda a nação, homens e mulheres, esquecidos pela politica econômica do atual governo, olham para nós aqui em busca de liderança e de uma oportunidade mais eqüitativa de participar na distribuição da riqueza nacional....” “Eu prometo com vocês e pessoalmente me comprometo com um novo começo (New Deal) para o povo americano... Isto é mais do que uma campanha eleitoral. É um chamado às armas.” Roosevelt sabia muito bem a dimensão do problema que ia enfrentar. A crise econômica gerara uma aguda crise social, embora ainda não tivesse se constituído numa crise política. Ele cunhou uma expressão (New Deal - novo jogo, novo recomeço) que ficou identificada com ele, e com um certo tipo de política econômica, que implicava na intervenção maior do estado no estímulo e controle das atividades econômicas. Cultura: O político também tem “prazo de validade” Francisco Ferraz Publicado em: 12/04/2013 churchill bulldog No auge de sua popularidade, Churchill sofreu uma derrota tão humilhante quanto inacreditável Na primeira eleição às vésperas do fim da Segunda Guerra Mundial, os eleitores ingleses surpreenderam o mundo ao darem maioria no Parlamento ao Partido Trabalhista, mandando Churchill para casa e fazendo de Clement Attlee o novo primeiro ministro do governo. A derrota de Churchill foi uma surpresa. Ele havia sido o grande líder, não só da Inglaterra, mas da democracia, na guerra contra o nazi-fascismo. Com sua liderança, levou uma Inglaterra hesitante para a guerra nos oceanos e no norte da África, acolheu voluntários das nações derrotadas, enfrentou os bombardeios aéreos, o risco da invasão e, de 1939 a 1941, sustentou sozinho a guerra contra Hitler, enquanto as nações democráticas caiam sob o jugo nazista e os EUA e a URSS mantinham suas posições de distanciamento do conflito. Não fez campanha para a eleição de julho de 1945. Fazia “tournées” triunfais pelo país, onde era invariavelmente saudado como o grande líder e herói nacional. Na realidade, para o povo, aquelas manifestações não significavam apoio político, e sim o agradecimento pelos serviços que prestara à nação durante a guerra. Churchill não soube entender o sentimento dos ingleses ao fim da guerra. Supôs que continuavam os mesmos de durante a guerra. Supôs que o povo continuava disposto a verter “sangue, sacrifícios, suor e lágrimas”, quando o que desejavam agora era recuperar-se do trauma da guerra, viver a vida com mais leveza. Queriam um governo que fosse tão sensível às suas necessidades sociais, quanto o governo de Churchill havia sido, na defesa da nação e na condução da guerra. Churchill já havia conquistado seu lugar de honra no panteon da glória da nação inglesa. Mas eles sabiam que Churchill, um determinado membro do Partido Conservador, não lhes daria o que desejavam e precisavam. Sabiam que ele não estaria disposto a expandir o estado para atender a novas funções sociais. Além de tudo, estavam cansados da guerra, da oratória de guerra, do interesse nacional vindo sempre em primeiro lugar, em relação aos interesses dos cidadãos. Para os novos tempos queriam outros líderes. Queriam líderes identificados com outras prioridades e outras políticas.Ora, os trabalhistas estavam ali, à espera, prontos por razões políticas e ideológicas a realizar aquelas expectativas e desejos. A incapacidade de ler o pensamento do cidadão, quando o político goza de enorme popularidade, a quase unanimidade, como era o caso de Churchill, é muito comum na política e costuma produzir desfechos inesperados (para o governante popular). Os políticos vitoriosos têm dificuldade de entender uma sutil mudança que ocorre nos sentimentos dos eleitores. Tendem a confundir a enorme popularidade que gozam com igual disposição para mantê-los no poder. O fato é que todo o político, por maior que tenha sido o sucesso que alcançou no seu período de governo tem um “prazo de validade para o cargo que ocupa”. Este prazo está escrito na cabeça do eleitor que, por estimá-lo, esconde, no princípio até de si mesmo aquele sentimento. O povo grato ao seu governante não quer magoá-lo, mas também não quer mais mantê-lo. Parece-lhe que está sendo ingrato, principalmente porque, como aconteceu com Churchill, para o político de grande aprovação popular, em muitos casos, é muito difícil reconhecer que há uma hora de sair. Nixon chegou a desistir da política em 62, mas voltou triunfante como presidente Sua insistência em continuar constrange o eleitor. Mas ao fim e ao cabo prevalece o fato de que a própria permanência no poder dá origem a um profundo desejo de mudança! A derrota de Churchill nesta eleição tornou-se o exemplo emblemático de que nenhuma vitória é definitiva na política, assim como nenhuma derrota. Alguns anos mais tarde Churchill retorna ao poder como primeiro ministro do governo. Dia 6 de novembro de 1962. Na Califórnia, Nixon, tendo sido derrotado na eleição para o governo do estado, faz uma declaração, em entrevista coletiva, que também se tornou emblemática, anunciando que estava abandonando definitivamente a política. Dirigindo-se aos jornalistas, em relação aos quais nutria grande ressentimento, declarou: “Deixo-os agora e vocês vão escrever isto. Mas quando eu os deixar, quero que pensem no quanto estão perdendo. Vocês não terão mais Nixon para se divertir, pois esta é a minha última entrevista para a imprensa...” . A frase de Nixon correu os EUA e a cena gravada foi repetida por todas as estações de TV. Mais do que a derrota (a segunda em dois anos), foi a pública manifestação do seu imenso ressentimento contra os jornalistas (mas também contra os eleitores), que sepultou a carreira política de Nixon. Sepultou? Apenas seis anos mais tarde seria eleito presidente. Não porque tenha se atirado à disputa, mas por ter sido “convocado” por um sentimento coletivo que o queria na presidência. Nixon provou, de sua parte, que nenhuma derrota é definitiva, mesmo quando o derrotado assim a declara. Numa eleição democrática, por definição, a grande maioria das pretensões eleitorais é derrotada. Disputa-se, portanto, não apenas para ganhar o cargo, mas também para conquistar posições, tornar-se conhecido, formar ou preservar seu patrimônio político. Há derrotas que parecem definitivas, quando acontecem. As derrotas de Churchill e de Nixon, recém descritas, são exemplos antológicos. Os próprios líderes derrotados as recebem como finais e definitivas, como o fim de uma carreira. Não obstante, tanto Churchill como Nixon, assim como outros casos, passados alguns anos, foram reinstalados no poder pelo voto popular. Independentemente do que pensaram e sentiram, há um fator com o qual não contam no momento da derrota, mas que opera em seu favor: o tempo. Se um político conseguiu ser conhecido, por suas obras e por suas ideias, da maioria do eleitorado e se sua passagem pela vida pública foi intensa e produtiva, ele continuará sendo uma referência política e, conforme as circunstâncias, uma alternativa política.O tempo e o momento histórico têm o “mágico” poder de ressuscitar carreiras políticas que pareciam mortas, quando na verdade estavam em hibernação. O tempo e o momento histórico têm o “mágico” poder de ressuscitar carreiras políticas que pareciam mortas Ocorreu com Nixon e Churchill, como ocorreu com De Gaulle e Mitterrand, com Perón e Getúlio. Houve o momento em que o povo os mandou para casa e passados alguns anos, o povo foi buscá-los e os entronizou novamente no poder. O tempo e as circunstâncias políticas podem operar este feito. A passagem do tempo e a decepção com as novas experiências fazem com que arestas deixadas sejam aparadas e se reconstrua uma imagem predominantemente positiva do líder. As circunstâncias políticas podem buscá-lo da hibernação e reposicioná-lo como uma alternativa para o momento. Que a vitória também não é definitiva é mais fácil de entender. Numa democracia, a eleição é sempre um chamado à renovação e à mudança. A reeleição, ou a continuidade político-administrativa de um governo, ocorre, com maior frequência, em duas situações: 1 - quando há uma aguda crise (econômica, política, ou militar), que vem sendo enfrentada energicamente pelo governo; 2 - quando o governo em exercício tem muito sucesso no seu desempenho, sobretudo naquelas questões mais priorizadas pela população. No primeiro caso, forma-se uma unidade em torno do governo que barra as divisões políticas. Primeiro há que resolver a crise, que é percebida como um desafio supra político. No segundo caso, é o temor de mudar para pior aquilo que está funcionando bem e satisfazendo a maioria, que então sustenta a pretensão da continuidade. Fora destas duas situações, a regra é a mudança no governo. Esses dois exemplos de políticos de sucesso, na Inglaterra e nos Estados Unidos, confirmam o princípio político que afirma: “Na política nem a vitória nem a derrota são definitivas”
Posted on: Wed, 11 Sep 2013 01:40:54 +0000

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