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DA SÉRIE “ESTRANHEM O QUE NÃO FOR ESTRANHO” Uma das características da ideologia dominante é a naturalização das relações sociais. É tomar como natural aquilo que é histórico e, portanto, mutável . Na forma da ideologia dominante, os interesses particulares de uma classe aparecem como se fossem o interesse de todos, como se fossem universais. Assim, a ideologia dominante tenta apagar da memória coletiva as referências do passado de luta da classe trabalhadora em sua busca pela emancipação. Faz-se isso através de maneiras sofisticadas (escolas, trabalho, família, Estado, mídia, mercado editorial, enfim, da cultura), mas também por expedientes aparentemente singelos, como, por exemplo, nomeando ruas, praças, pontes, viadutos, etc. Assim, impõe-se uma releitura do passado que incorpore os valores dominantes e marginalize a memória dos que lutaram por uma nova sociedade. Gramsci, em um artigo do jornal “Avanti!”, analisando a substituição dos antigos nomes de ruas de Turim por nomes de príncipes, reis e personalidades da burguesia, dizia que estes novos nomes eram, na verdade, “sons inertes, que não suscitam nenhuma imagem da vida, que caem no fundo da consciência material, morta, que não criam vínculos com o passado, que com um ato violentamente ilógico rasgam os laços tradicionais entre o homem e a rua. Os novos nomes das ruas tornam-se um museu, um cemitério de ilustres desconhecidos, um ajuntamento de ossos podres e esbranquiçados pelo oportuno esquecimento, porque melhor ressaltam quem realmente atuou na história”. Ontem, 11/07/2013, em São Paulo, aconteceu uma coisa muito legal. Manifestantes rebatizaram simbolicamente a ponte Otávio Frias de Oliveira (falecido, criador da Folha de São Paulo e apoiador da ditatura empresarial-militar brasileira), dando a ela o nome do jornalista Vladimir Herzog (comunista que foi torturado e assassinado nos porões do DOI-CODI por lutar contra a ditadura que Otávio Frias apoiava). Estes manifestantes seguem o conselho de Brecht de estranhar o que não é estranho, de tomar por inexplicável o que é habitual, de sentir perplexidade ante o cotidiano. E, assim, nos ajudam a seguir a luta contra a naturalização do que é histórico e pela reapropriação da memória das lutas passadas por aqueles que só poderão emancipar-se, como dizia Walter Benjamin, escovando a história a contrapelo.
Posted on: Fri, 12 Jul 2013 14:17:34 +0000

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