DESABAFO... Quando me sinto assim, órfão de caminho, bastardo de sentido, fico quieto. Os próximos já sabem, mesmo quando não entendem. Fico observando e me nutrindo de irrelevâncias. Me esquivando de qualquer coisa socialmente importante ou grandiosa. Caminho com o Thiago, converso com a Sophia, miro na Cata. Vejo graça em como anda a moça da pipoca. Faço a resenha do dia com o Cláudio, porteiro aqui do prédio. Tento me esvaziar dessas "importantices" todas que pesam a alma e nos mantêm no chão, feito concreto. Eu já quis ser importante. Isso ainda me tenta, mas pouco. Desisti. Culpa do Pessoa, que me ensinou a invejar os mendigos que não sou. Tenho um amigo mendigo. O Ari. Mora na calçada de onde trabalho. Quase ninguém o percebe ali, mas ele me é um amigo muito caro, que talvez não saiba o tanto. Quando estou pra explodir, atravesso a rua e converso um pouco com o Ari. Seu jeito sincero e leve de ver a vida me faz um bem danado. De vez em quando eu compro alguma coisa cara e levo pra ele, só pra provocar a sociedade (como se estivessem vendo...). Há duas semanas ele sumiu. Não tenho mais o amigo com quem desabafar. As amigas do trabalho já não me suportam. Culpa do Ari, ou da falta dele. A verdade, amigos, é que nascemos nus, inocentes e simples. E vamos desaprendendo, complicando, pesando a vida, fazendo-a um fardo, nos cegando para o que faz sentido e investindo em relevâncias demais, até percebermos que são as irrelevâncias que são, de fato, relevantes. Que a vida pode ser simples e leve. Que podemos ser muito mais tendo muito menos e que a beleza do caminho está em trilhá-lo com tempo vagaroso, pra dar tempo de parar um pouco, olhar pros lados, perceber canduras... Mas aí já estamos velhos demais...
Posted on: Fri, 30 Aug 2013 03:19:40 +0000
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