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DISCUSSÃO EM FORMA DE DIÁLOGO PRIMEIRO DIÁLOGO UM CLÉRIGO e ELIPHAS LEVI O CLÉRIGO — Tuas pretensas ciências vêm do inferno e tuas razões são blasfêmias. ELIPHAS LEVI — Não sei se tua ignorância vem do céu, porém, tuas razões assemelham-se muito às injúrias. O CLÉRIGO — Eu chamo as coisas pelo seu nome; pior para ti se estes nomes te resultam injuriosos. Como tu, que tendo saído da Igreja, que procurando ajudar a impiedade a minar em sua base seu edifício eterno, tens o louco orgulho de crer que ela vacila sob os golpes de teus semelhantes; e para o cúmulo do ultraje, estendes, para sustentá-la, tua mão sacrílega? Não temas a sorte de Oza, a quem Deus castigou mortalmente, porque, com intenção melhor que a tua e com mãos talvez mais puras, quis sustentar a arca Santa? ELIPHAS LEVI — Detenho-te aqui, Senhor; citas a Bíblia sem compreende-la e preferiria em teu lugar, compreendê-la sem citá-la. A morte de Oza, da qual me falas, assemelha-se um pouco ao trágico fim dos quarenta e dois meninos devorados pelos ursos por terem-se rido do profeta Eliseu, que era calvo. Felizmente, diz Voltaire à este respeito, não existem ursos na Palestina. O CLÉRIGO — Então a Bíblia é um tecido de mentiras e ris dela como Voltaire? ELIPHAS LEVI — A Bíblia é um livro hierático, ou seja, sagrado; está escrita em estilo sacerdotal, misturado com histórias e alegorias. O CLÉRIGO — Somente a Igreja tem o direito de interpretar a Bíblia. Crés na sua infalibilidade? ELIPHAS LEVI — Sou da Igreja e não tenho dito e nem escrito nada que seja contrário aos meus ensinamentos. O CLÉRIGO — Admiro tua desenvoltura. Não és um livre pensador? Não crês no progresso? Não admites as temeridades da ciência moderna que dá todos os dias desmentidos à Santa Escritura? Não acreditas na antigüidade indefinida do mundo e na diversidade, seja simultânea, seja sucessiva das raças humanas? Não consideras como mito ou fábula, o que é a mesma coisa, a história da maçã de Adão, sobre a qual fundamenta-se o dogma do pecado original? Porém, tu sabes bem que então tudo se derruba, não mais revelação nem encarnação, pois todo o cristianismo não tem sido mais que um longo erro; a Igreja não pode se manter senão prescrevendo o bom senso e propagando a ignorância? Admites isto e ousas chamar-te católico? ELIPHAS LEVI — Que quer dizer a palavra católico? Não quer dizer universal? Creio no dogma universal e me cuido das aberrações de todas as seitas particulares. Suporto-as porém, na esperança. de que o progresso se cumprirá e de que todos os homens se reunirão na fé das verdades fundamentais; o que tem-se cumprido já naquela sociedade conhecida em todo o mundo, chamada franco-maçonaria. O CLÉRIGO — Ânimo Senhor, tiras a máscara por fim, completamente; és sem dúvida Franco Maçom e sabes perfeitamente, que os Franco-Maçons acabam de ser excomungados recentemente, pelo Papa. ELIPHAS LEVI — Sim, o sei; e, desde então, tenho deixado de ser Franco-Maçom, porque os Franco-Maçons excomungados pelo Papa, não acreditavam que deviam tolerar o catolicismo. Tenho me separado deles, para resguardar a minha liberdade de consciência e para não me associar as suas represálias, talvez desculpáveis, se não legítimas; porém, seguramente inconseqüentes, já que a essência da Maçonaria é a tolerância à todos os cultos. O CLÉRIGO — Queres dizer, a indiferença em matéria de religião? ELIPHAS LEVI — Dizes em matéria de superstições. O CLÉRIGO — Oh! Sei que para ti, a Religião e a superstição são uma só e mesma coisa. ELIPHAS LEVI — Creio, pelo contrário, que são duas coisas opostas e inconciliáveis, tanto que, aos meus olhos, os supersticiosos são ímpios. Quanto à religião, não há mais que uma. E não tem havido nunca, senão uma verdadeira. É a esta que chamo verdadeiramente de Católica ou universal. Um muçulmano pode praticá-la como o tem demonstrado muito bem o emir Abd-el-Kader, quando salvou os Cristãos de Damasco. Esta religião é a Caridade; o símbolo da caridade é a Comunhão; e o oposto da comunhão é excomunhão; comungar é evocar a Deus, excomungar é evocar ao diabo. O CLÉRIGO — É por isto que tens o diabo no corpo, pois com certeza, semelhantes doutrinas fazem de ti um excomungado. ELIPHAS LEVI — Se eu tivesse o diabo, serias tu quem me o teria dado, e eu não seria, por certo, bastante mau para devolvê-lo a ti; tratá-lo-ia como os comerciantes tratam as falsas moedas, que pregam-nas no seu balcão para retirá-las de circulação. O CLÉRIGO — Não quero escutar-te mais. És um extravagante e um ímpio. ELIPHAS LEVI — (Rindo). Sabes tudo a meu respeito! E falas coisas das quais estou longe de suspeitá-las em mim; não sou tão sábio e não direi o que és. Faço-te observar, somente que o que me dizes, não é nem caritativo nem cortês. O CLÉRIGO — És um dos mais perigosos inimigos da Igreja. ELIPHAS LEVI — É o senhor de Mirville que tem dito isto. Porém, eu responderei à ele, como à ti, com estes versos do nosso bom e grande La Fontaine: NADA É MAIS PERIGOSO DO QUE UM AMIGO IMPRUDENTE; MAIS VALERIA UM INIMIGO SÁBIO.
Posted on: Tue, 30 Jul 2013 21:48:47 +0000

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