De como morreu o coração de Silvestre da Silva Meter-se na - TopicsExpress



          

De como morreu o coração de Silvestre da Silva Meter-se na política XV (continuação) O Episódio em Leça VIII • Os bailes No Carnaval desse agitado ano de 1849, o Porto iria folgar. O Porto inteiro iria dançar, como nunca antes se vira: dançariam os janotas e os que não eram janotas, as meninas casadoiras e as grisetes, os pais e as mães das meninas casadoiras e o povo da rua. O folhetinista de O Nacional do dia 29 de Janeiro, dera o mote: “O Porto quer dançar, e dança periodicamente todos os sábados numa sociedade da Rua Chã. Toda a sua originalidade se perdeu no último soi disant baile, em que alguns janotas penetraram os umbrais vedados até ali à suprema elegância. A primeira excelência fez um efeito terrível no meio da sociedade. Foi como o trovão que surpreende o viajante nos desfiladeiros dos Alpes. Aqueles parcos ouvidos, por onde roçara senão um módico – senhora – alarmaram-se com um afectado voscencia meio comido, meio pronunciado.” É necessário ler várias vezes o excerto para apreciar a fina ironia, sob a qual o folhetinista - Ricardo Guimarães, o futuro Visconde de Benalcanfor, certamente - esconde o menosprezo que sente pela ânsia da pequena burguesia – no caso concreto a que se reúne na sociedade da Rua Chã - de imitar os requintes, os modos e os gostos da grande burguesia / aristocracia de que ele próprio faz parte. Numa leitura mais atenta é fácil verificar que esta é uma constante dos folhetins que O Nacional publica durante o Carnaval de 1849, facto que, como veremos, se revela muito útil na apreciação que aqui será feita do episódio em Leça. Fechado, pois o parênteses, devolvo a palavra ao folhetinista, que, nesse mesma crónica, depois de dar notícia dos preparativos para os muitos bailes de Carnaval anunciados, termina informando: • “Depois de amanhã temos balancé numa sociedade que vai fazer suas reuniões numa casa da Travessa da Picaria. Não sabemos se concorrerá ali a alta aristocracia; mas consta-nos que é coisa mui decente. Veremos.” Já o nosso Saragoçano, na crónica do dia 3, de O Eco Popular, voltava a insistir no caldo de galinha servido, num baile da Ferraria de Baixo: • “São 5 da manhã. O cronista cheio de impressões amorosas, vinho, e caldo de galinha – acaba de recolher-se dum baile da Ferraria de Baixo” (...). Prosseguia a crónica com uma duríssima crítica teatral, que lhe valeria ser insultado, à hora do meio dia, em plena Praça nova , por um dos artistas, que O Nacional (1849.02.05) em notícia de primeira página, identificaria como sendo “um caceteiro chamado Mourão que foi, segundo nos dizem, sargento mor de infantaria 6 e que hoje não tem modo de vida”. Nesse mesmo dia 1849.02.05, o folhetinista de O Nacional comentava: • “O Saragoçano diz que nós ainda não estamos civilizados para teatro italiano, e a nós parece-nos que o estamos menos para o português”. Vinham depois os bailes: • “Os bailes multiplicam-se (…).A burguesia de Santo António do Penedo vai por hora na vanguarda; segue-a da moeda forte da Ferraria, e no couce, com ar coquette, a folgasã costureira da Picaria. É uma escala descendente em bailar até se confundir com a Geraldinha”. Estou certa que poucos dos meus e minhas fiéis internautas saberão quem é essa tal de Geraldinha que se encontra no fundo da escala descendente do bailar. Mas EU posso informar, recorrendo a alguém tão conceituado como foi António Arroyo (ou Arroio) (1856-, um dos filhos do nosso já conhecido José Francisco Arroyo, nascido no Porto, em 1856. É ele que no prefácio da obra intitulada Velhas canções e romances populares portugueses, publicada em 1913, nos informa: • “Entre nós as cantigas populares só começaram a interessar os músicos aí por meados do século xix. Que eu saiba, quem primeiro as transportou para fora do seu campo inicial foi José Francisco Arroyo, logo após a Patuleia. Este compositor era, ao tempo, chefe da banda da Guarda Municipal do Porto e arranjou, em passo dobrado, uma sequência de cantigas a que deu o nome de Geraldinha, certamente porque começava pelo Geraldinho.” Quem era o Geraldinho é-nos explicado em nota: • Encontra-se esta canção a pag. 31 do volume 11 do Cancioneiro de músicas populares compilado por César das Neves e Gualdino de Campos, Porto, 1895. Acompanha-a a seguinte nota : « Esta cantiga, humorística, alusão a Giraldo — sem pavor, era uma ironia dirigida a D. Fernando, esposo de D. Maria II, quando se apresentou comandante do exército, por ocasião da revolta de 1847. Da canção do Geraldinho não encontrei rasto na Nuvem. Em alternativa deixo-vos cantada a Carochinha. Nos tempos que correm, nada me parece mais adequado do que recordar a história da Carochinha. youtube/watch?v=VG4wUNKNTgw Outros links: FERNANDES TOMÁS, Pedro - Velhas canções e romances populares portuguêses. Coimbra, F. França Amado, 1913. Aqui: archive.org/stream/velhascancoeser00arrogoog/velhascancoeser00arrogoog_djvu.txt Sobre António José Arroio: Arroipt.wikipedia.org/wiki/António_José_Arroio
Posted on: Thu, 14 Nov 2013 11:17:15 +0000

Trending Topics



Recently Viewed Topics




© 2015