Devagar, os negros ganham espaços As diferenças raciais - TopicsExpress



          

Devagar, os negros ganham espaços As diferenças raciais persistem, mas há avanços. Em 10 anos, os negócios criados por negros cresceram 29% e, por brancos, apenas em 1%. Salários também subiram mais Foi capinando no interior da Paraíba, na área rural do município de Patos, que dona Dália aprendeu uma lição para a vida toda: “A história da gente é muito forte, meu filho. O que vale é a personalidade da pessoa. Pode ser preto, branco, o que for: se não tiver respeito e honestidade, não vale de nada”. Febrônia Maria de Castro é o nome de batismo dessa paraibana de 76 anos, viúva, dois filhos, dois netos e um comércio para cuidar de domingo a domingo, em Ceilândia. Desde que desembarcou com a família na capital do país, em 1961, dona Dália “caça um meio de vida”. Antes de tomar gosto pelo comércio, trabalhou como ajudante de cozinha em restaurantes da então Cidade Livre — hoje Núcleo Bandeirante. Frequentou a escola até a 5ª série. Quando pensou em retomar os estudos, o marido adoeceu. Hoje, tem orgulho de cuidar do próprio negócio, do carro, da casa e de tantas outras conquistas que surgiram a partir dele. Ânimo para trabalhar não falta. “Estou aqui todo dia”, conta a comerciante, que não entende o “tal do racismo”. “Tenho fé de que uma hora isso vai acabar. Nem que seja na hora em que o mundo acabar junto”, comenta. “O povo está criando mais educação. Está vendo que pode ter um pretinho beleza e um branco desmantelado, e vice-versa”, emenda dona Dália, que alimenta um único sonho: “Viver, né? Desfrutar das coisas, sabe como é? Mas não canso de trabalhar, não”. Emprego Eles avançam, melhoram de vida e conquistam o que, antes, um abismo racial não permitia. As diferenças entre negros e brancos no mercado de trabalho brasileiro persistem. Em todos os indicadores socioeconômicos, a desvantagem se mostra bastante evidente. Mas também é inegável que diminui a distância entre esses dois mundos que desde sempre deveriam ter sido um só. As oportunidades parecem longe de se tornarem iguais. Os negros predominam no universo dos desempregados, o que não desmerece em nada os espaços preenchidos até aqui. A taxa de desocupação entre eles caiu de 7,5% para 5,2% nos últimos cinco anos, enquanto, entre a população branca, essa queda, no mesmo período, foi bem mais tímida: de 5,7% para 4,1%. Os negros seguem com nível de escolaridade menor. E também continuam ganhando menos, na média. Os salários concedidos a eles, no entanto, têm registrado as maiores altas. Desde 2009, o rendimento de homens negros saltou 22,5%; e o dos homens brancos, 9,1%. Em relação às mulheres, a variação das negras, como dona Dália, foi de 22%, contra 12,4% das brancas. Há, no Brasil, defendem especialistas, um cenário propício para rompimentos mais drásticos com o preconceito racial no mundo corporativo. Sociólogos e economistas defendem que chegou a hora de acelerar avanços, além de sufocar de vez o que chamam de “racismo cristalizado”, permitindo, assim, um maior protagonismo negro. O total de empreendedores negros no Brasil cresceu 29% entre 2001 e 2011, segundo levantamento concluído este mês pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Esse percentual supera e muito o crescimento de 1% dos que se declaram brancos. Negros que têm o próprio negócio faturam, em média, quase a metade dos demais, mas o rendimento deles aumentou o dobro, na mesma comparação e no mesmo intervalo analisado. Alternativa A maior concentração de negros empreendedores está no Nordeste — só na Bahia, 12% do total. Atuam geralmente em atividades como produção de milho, pesca, pequenos comércios, sucatas, resíduos e construção civil. “Negros, mulheres e jovens são segmentos em processo de maior inserção produtiva na sociedade”, sustenta o presidente do Sebrae, Luiz Barretto. “Como ainda sobressai a predominância de brancos nos cargos de maior poder, o empreendedorismo virou alternativa”. Chico, 43 anos, hoje sócio de restaurante de comida nordestina no Mercado do Núcleo Bandeirante, não acredita na própria trajetória. “É verdade, moço. Às vezes, paro e fico pensando: como é que tudo isso aconteceu? Cheguei longe, graças a Deus”, comenta o maranhense de Santa Quitéria Francisco José dos Santos, que se emociona ao falar da mulher, do filho de 10 anos, da casa construída em Luziânia, no Entorno goiano, e do desejo de fazer o negócio crescer. Chico saiu do Maranhão quando o pai já tinha morrido, vítima de infarto. De lá, mudou-se para o minúsculo litoral do Piauí, onde fez da pesca de camarão diversão e trabalho. A última notícia que teve da mãe foi 30 anos atrás. Em 1994, um carioca aposentado do Senado o convidou para ser caseiro em Brasília,aqui também atuou de flanelinha e auxiliar de serviços gerais. “Os brancos achavam que a gente não tinha capacidade, aí o espaço pra gente ficou pequeno mesmo”, disse. O restaurante que Chico toca com mais dois sócios está sempre cheio na hora do almoço. Ele estudou até a 4ª série e nunca fez curso de gastronomia. “Aprendi vendo os outros fazerem. E todo mundo sai daqui com o paladar bom”, diz o empreendedor, que fica na cozinha. “É difícil de entender, mas a sociedade pensou que a gente não daria conta. Eu sei que dou”, comenta. Fonte: impresso.correioweb.br/app/noticia/cadernos/economia/2013/09/15/interna_economia,99109/devagar-os-negros-ganham-espacos.shtml
Posted on: Sun, 15 Sep 2013 21:44:25 +0000

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