Dia 30 de dezembro de 2012. O então assaltante número 1 do - TopicsExpress



          

Dia 30 de dezembro de 2012. O então assaltante número 1 do Estado morre em um confronto. A lenda conta assim: O frio atípico para a época do ano incomodava. A mão esquerda queimava de dor. Os dedos latejavam em sincronia com os cartuchos de .556 que colocava no pente da AKM-47. Um pouco de sangue escorreu pelo lado do pente transparente. Riu. Olhou para a arma: não gostava das chinesas, mas era as mais baratas e fáceis de conseguir com o contato no Sul do Estado. Os antibióticos que tomava havia alguns dias pareciam placebo. Nunca havia tomado um tiro. Vários confrontos. Lembrou da madrugada de Antônio Prado. Do homem do terno preto no meio da fumaça. Recordava apenas de ter corrido, abandonando o flanco esquerdo do banco e entrando na alça de mira do atirador no final da rua. O tiro de 7.62 raspou na mão. Dois dedos ficaram inúteis. Sua mente retornou ao cafofo, que servia de esconderijo antes das ações, quando escutou gargalhadas na cozinha. Não gostava daquele bando. Logo voltou a viajar: não confiava mais de ninguém depois daquele confronto de agosto passado. Não se perdoava de ter abandonado Juliano quando viu o homem do terno preto do outro lado da rua. Mesmo com uma submetralhadora, preferiu fugir. Passos no corredor o trouxeram à casa na Região Metropolitana. - Tá com medo de morrer, homi? Dois coletes?? Fica sereno, essa caminhada tá ganha. O silêncio e o olhar de reprovação afastaram o intruso. Era o único dos quatro com quem já havia assaltado. Não gostava dele. Seu desprezo aumentou quando ele falou em morte. Imediatamente se lembrou daquela madrugada gelada de julho de 2007. A primeira vez que viu o homem do terno preto..... A explosão mal feita do caixa eletrônico, a fuga desastrada com uma van e, pela primeira vez, o terror nos olhos do principal parceiro até então. - Calma, nós não vamos morrer - dizia ele. Cada rajada da metralhadora na direção das sirenes clareava o interior da van A cada clarão, avistava o homem do terno, com barba por fazer, olhos profundos e sorriso irritante. Foi a última coisa que lembrava antes do motorista da van tomar um tiro na cabeça e cair sobre o volante. Todos morreram. Menos ele. Uma noite toda debaixo de uma ponte, água no pescoço, mãos pra cima segurando o Mini Ruger pra não molhar a única arma que tinha. - Vamos, tá na hora. Vamos que a estrada tá livre - gritou um dos comparsas, interrompendo seu transe. - Vamos. Já não aguento mais essa agonia. Vamos lá buscar o que é nosso - disse enquanto levantava da cadeira cuidadosamente arrumando as duas pistolas no colete. A saída do esconderijo foi rápida e pontual. 20h30min. Os carros estavam prontos. Assim como quem os monitoravam por telefone. Um deles resolveu ligar para casa e avisar a mulher. - Tamo subindo a serra com as ferramentas e o pessoal. O alerta correu 64 municípios. Até aquela hora em vão. Como um fantasma, o comboio deixou a região metropolitana e, sem utilizar qualquer atalho ou estrada vicinal, se materializou na Serra. Novo esconderijo, nova espera. ................................... Na pequena cidade já passava da meia noite. Algumas pessoas ainda estavam nas ruas. Quem estava lá sequer imaginava o que estaria para acontecer. ................................... No caminho depois de sair do segundo esconderijo o silêncio dentro do carro perturbava. Ele podia escutar a batida do coração dos comparsas. Aquilo estava lhe deixando maluco. - Só mais essa estrada de chão e estamos lá. 10 quilômetros - disse o motorista. - Pega aquele CD na minha sacola, que minha mão tá ruim. - Bah, mas tu vai ouvir aquelas locuragens agora. - Cala a boca e escuta - sentenciou. Quando ele desembarcou em frente à fábrica Thunderstruck começava a tocar pela terceira vez. Em êxtase, ele desembarcou e atirou para o alto. Era nessa hora que o predador se revelava. Subjugando moradores, gostava de ver o medo nos olhos dos outros. Alias, só desviou o olhar da menina que já chorava quando viu um vulto, no alto, próximo à igreja. Sabia que era ele. .................................. Trinitrotolueno. O composto químico preferido do mundo do crime mostrou sua força. Dois estrondo e a primeira porta caiu. - O que é isso?? Como tem outra porta?? Vocês tão loucos. Vem com a bomba, vem - gritou um dos homens em meio à fumaça. O tempo corria. Voava. A demora começou a lhe inquietar. Foram mais duas explosões. Mais tiros. Mais gritos. Mais lágrimas. - Quem vai dirigir? Quem vai dirigir? - gritava com apreensão. A adrenalina corria nas veias. Já não sentia mais a mão esquerda. Há algum tempo já sabiam do sítio à cidade. Carros de todas as regiões seguiam para o município. Na caçamba da caminhonete a estrada de chão parecia interminável. Para ele e para os reféns. A cada curva, aquele vulto, aquele sorriso irritante. De longe, avistou luzes vindo na direção contrária. Conferiu o pente. Pensou: seja quem for, dou uma rajada. A motorista parou. - Meu Deus, deixaram uma refém dirigir. Vocês estão loucos. O desembarque foi rápido. Saltou para a lateral da caminhonete, respirou fundo e levantou o corpo. Quando ergueu a AKM na altura do peito sentiu um sussurrar no ouvido. O tempo parecia ter parado. - Finalmente nos encontramos. O impacto no peito veio no mesmo momento em que ele virou o rosto. - Vamos, me ajuda a subir na caçamba - gritou com o refém. De imediato viu o motorista do carro da fuga morto. Olhou para trás para se apoiar no refém. Quem lhe estendia a mão era o homem do terno preto. - Chega. Vamos. Quando o terceiro tiro varou a capa do colete na mesma fração de segundo Falcão fechou os olhos.
Posted on: Mon, 01 Jul 2013 01:59:53 +0000

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