Dias atrás fui presenteado com duas belas camisas por parentes que vivem na Itália. Como faço aniversário nesse mês e logo também será Natal, o pessoal aproveitou e me enviou de uma só vez uma bela maglia da seleção italiana e outra da minha querida Internazionale. Até aí nada de mais. Acontece que domingo, ao assistir ao telejornal da RAI - a rede de televisão italiana - uma notícia me chamou a atenção. Um incêndio em uma fábrica de tecidos ocorrido na cidade de Prato, não muito distante de Florença (Firenze) na Toscana, resultou em pelo menos 4 mortes. Mas o pior vem agora. A imensa maioria das pessoas que ali trabalhavam eram chineses. Prato conta com cerca de 160.000 habitantes e segundo estimativas, os chineses já passam de 17.000. Em 20 anos, a comunidade chinesa assumiu o comando da maior parte da linha de produção de tecidos da cidade, capital da indústria têxtil italiana. Em consequência disso, diversas micro - empresas italianas fecharam, sem poder resistir à concorrência no setor que até pouco tempo empregou até 60 mil pessoas. Um dos sobreviventes relatava a um jornalista que trabalhava até 18 horas por dia comendo apenas uma maçã! A máfia hoje controla todas essas fábricas. Quando não é a Camorra ou a Ndrangheta (italianas) é a Tríade (a máfia chinesa) quem dá as cartas por lá. E algo ainda mais revoltante: inúmeras grifes esportivas de renome mundial também utilizavam da mão de obra escrava para produzirem suas belas camisas. Muitas das quais com certeza, jogadores das mais diversas seleções utilizarão no Brasil ano que vem durante a Copa. Curiosamente, ao observar a etiqueta de onde as camisas que eu ganhei haviam sido confeccionadas, estava lá: made in Italy. No mínimo estranho, visto que quase sempre são produzidas em países como Malásia, Vietnam, Singapura etc. Fiquei perturbado com aquilo e ao mesmo tempo, com um tremendo peso na consciência. Na embalagem estava lá: comprada em um elegante negozio em Milão. Mas talvez produzida pelas mãos de crianças exploradas vergonhosamente pelas grandes multinacionais europeias e norte americanas. Um morador do local disse: Todos aqui sabem o que se passa nessas fábricas clandestinas. O prefeito, a polícia, o governo. Mas ninguém faz absolutamente nada. Agora irão chorar os mortos por dois ou três dias talvez, igual fizeram com os imigrantes vindos da África que morreram afogados na ilha de Lampedusa e que chocou a Itália e o mundo recentemente. Mas aquilo lá já caiu no esquecimento. Aqui vai acontecer o mesmo. Esse país é uma vergonha! O país dessa vez, não é o Brasil. Mas sim a minha querida Itália. Que tristeza...
Posted on: Thu, 05 Dec 2013 04:05:41 +0000
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