Diário de um Tímido XXXV. De todas as muvucas, a única em que - TopicsExpress



          

Diário de um Tímido XXXV. De todas as muvucas, a única em que me sentia consideravelmente bem era a feira. Por incrível que pareça. Na minha querida Brasilândia, ao menos, era um verdadeiro mercadão a céu aberto. Inúmeras tendas (!) onde se encontrava de tudo: roupas, chinelos, livros e revistas, além das tradicionais hortaliças e afins. Porém, mesmo lá, conseguia ficar encrencado. Uma das vezes minha mãe deu-me dinheiro e pediu que fosse na frente e comprasse batata e banana. Quer coisa mais fácil? Nem precisei anotar. Chegando ao local, os feirantes berravam tresloucadamente e, claro, ofereciam produtos para degustação. Primeiro uma pera. Não consegui resistir. Provei mas depois fiquei com vergonha de não levar. Peguei meia dúzia. Maçã: uma delícia. Meia dúzia mais. Na sequência uva, figo e morango. Tudo porque a timidez me fazia agir involuntariamente. A cada parada, uma fruta. Enfim, enquanto esperava minha mãe no local do encontro (sem dinheiro e sem a batata) ao lado da primeira barraca, uma senhora com a filha pensou que eu trabalhava lá e pediu-me para pegar laranjas. A garota, de enormes olhos verdes, me encarava fixamente, tenho certeza, por causa da minha fisionomia perdida. Não tinha voz sequer para desfazer o engano. Sem saída, já esticava a mão para pegar a bacia e colocar nela a uma dúzia pedida. Por sorte (?) o rapaz - esse sim trabalhava na barraca - chegou para atendê-las, olhando com cara de “que você está fazendo, pirralho?” e ainda teve o despautério de me desmascarar. Quase peguei uma jaca e enfiei na cabeça. Juro que conseguiria enfiar um coco! Por fim, quando minha mãe chegou, e depois de me dar cinco cascudos, um para cada tipo de fruta pega desnecessariamente, saímos para comprar o que faltava. Mal caminhamos 67 metros e ela escorregou em uma casca. Podia ao menos ser uma casca de goiaba, de manga ou graviola. Mas, era de banana mesmo. Mamãe se agarrou a mim, na vã, infeliz tentativa de permanecer em pé. Conclusão: fomos os dois para o chão. Levantamos sem jeito e seguimos. Naquele dia, eram muitas as barracas de banana, pensei, pois ouvia muitos feirantes gritando “olha a banana!”. Qual nada. Quando saíamos da feira é que minha mãe viu que a casca ainda estava firme e forte, colada em minhas costas!
Posted on: Mon, 07 Oct 2013 23:55:24 +0000

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