Diário de um baderneiro - 22/06/2013 Acordei por volta de 8hrs, - TopicsExpress



          

Diário de um baderneiro - 22/06/2013 Acordei por volta de 8hrs, apesar de ter ido dormir tarde, e rapidamente fui tomado pela excitação de mais um dia poder ver e colaborar com o despertar da minha cidade, do meu estado e do meu país. Havia marcado com um amigo para descermos juntos rumo ao Iguatemi às 13hrs, saindo de minha casa. No horário previsto, após o almoço e o compartilhamento de mensagens/informações e denúncias de abuso/violência policial (algo que virou rotina desde a onda de protestos que se espalhou pelo Brasil), partimos rumo às imediações do shopping Iguatemi. Quando chegamos, devo admitir que fiquei um tanto quanto decepcionado com o números de manifestantes presentes (cerca de 200 a 300, no máximo), mas como sabíamos que havia sido marcada uma marcha (ao meu ver insana) do Campo Grande ao Iguatemi, passando pelo Vale do Canela, resolvemos esperar a chegada desta para ver o desenrolar dos fatos. O olhar curioso/atento fazia piscar a todo momento observações que passavam desapercebidas aos olhos da maioria: a maioria dos manifestantes, ratificando os anteriores atos do movimento, era formada por jovens de classe média, cheios de energia, porém um tanto quanto desorientados (algo absolutamente natural dada a originalidade e magnitude desse movimento que sacode o país há mais ou menos uma semana); militantes tentando, pra variar, direcionar a pauta para a questão da mobilidade urbana e a prática do passe livre; pais e mães de família; e a adesão, ainda que pequena, da periferia. Quanto ao cenário/entorno, paulatinamente iam-se multiplicando as viaturas e policiais das mais variadas espécies - especialmente da Choque, Rondesp, Cavalaria (Polícia Montada), Praças e Oficiais -, o que contrastava com o número pequeno, apesar de crescente (cerca de 500 manifestantes por volta das 16/17hrs). Entre encontros, desencontros, palavras de ordem e cenas um tanto quanto estéreis/risíveis - como o bater de palmas em homenagem aos policiais que faziam a "segurança" dos manifestantes (os mesmos que nos massacraram impiedosamente/vergonhosamente na última quinta-feira - 20/06) -, eis que as coisas começaram a esquentar... Um certo frisson tomou conta de todos os presentes com a chegada de umas 6/7 viaturas que faziam a escolta dos manifestantes que desciam do Campo Grande (especulava-se, quem estava presente no local, algo em torno de 2 a 5 mil pessoas). O encontro dos dois grupos foi uma explosão de ânimo/euforia - que que, por si só já deve ter provocado certa inquietação por parte dos policiais (em especial os cães-humanos das Companhias Independentes: Choque, Rondesp... Confesso que não vi a Caatinga presente). Nesse momento tive o primeiro de dois motivos/momentos de muito orgulho em relação à minha profissão e sua respectiva entidade de classe. Encontrei, uma vez mais (assim como havia ocorrido na quinta, nos Barris - literalmente...) um conselheiro da OAB/BA designado pelo Presidente a fim de acompanhar/observar e prestar assistência se necessário (e na medida do possível, evidentemente) - algo que falta e deve ser cobrado de outras relevantíssimas entidades como o Ministério Público, a Associação dos Magistrados, bem como a dos Defensores Públicos do estado, que além de completamente ausentes relativamente às zonas de protesto/conflito, não emitiram sequer uma nota oficial a respeito do tema (enfocando a brutalidade e a violência policial, ou mesmo a legitimidade do movimento). Os olhos atentos mais uma vez não me deixaram escapar o peso da periferia nessa pequena multidão que chegara do Canela. O nível de agitação/excitação era crescente de ambos os lados, manifestantes e policiais... Percebia-se claramente o chamado "sangue no olho" (expressão tipicamente baiana para designar o ódio, a revolta) exalando/transparecendo por parte do gueto... Ora, e como esperar algo diferente? Como você se sentiria ao ter a oportunidade de falar/gritar tudo o que sente ante o algoz seu de todo dia (aquele que só aparece pra bater/prender/matar/punir, aquele que discrimina, aquele que ofende/tripudia/massacra diariamente o povo negro, rasta, e pobre dessa cidade - e desse país)?? O único e irrisório risco que estavam correndo era de respirar um pouco de gás lacrimogênio e tomar uns tirinhos de borracha... Pra quem arrisca a vida todos os dias apenas por ser o que é e morar onde mora isso é praticamente sinônimo de carnaval... O clima de agitação/frenesi continuava a subir. A felicidade e a agitação dos excluídos era visivelmente exacerbada, assim como o era o medo e a vontade de bater dos policiais (me refiro aqui especificamente aos cães-humanos da Choque e da Rondesp, posto que os Oficiais e Praças da PM ali presentes estavam - desde o início das manifestações - o tempo todo protegendo/dialogando com o povo, inclusive criticando duramente a atuação do Governador, a Lei Geral da Copa, e declarando abertamente apoio ao movimento)... Os pacifistas, pseudo defensores da pátria(dos playgrounds), sentindo o clima de tensão crescente no ar, tentavam abafar/conter de algum modo o grito exaltado, vibrante, por vezes ameaçador mesmo dos excluídos pedindo para que todos sentássemos no chão, outros começaram a ir embora... Frise-se: até então nenhum ato de "violência"/vandalismo". Seria justo/lícito/legítimo essa tentativa de calá-los? Seria justo/lícito/louvável impedir que o grito historicamente sufocado/amordaçado a balas/chutes/socos prisões e pontapés fosse vomitado em frente aos simbólicos Shopping Iguatemi e Estação Rodoviária? Nesse momento tive um insight interessante e revelador. Percebi claramente que o gueto veio com a determinação de verdadeiros soldados, órfãos de uma liderança que esperavam/ansiavam encontrar na classe média (que começa a despertá-los e trazê-los para as ruas). Todos (ou a maioria esmagadora deles) com alguma dívida a acertar - oriunda de uma história trágica de perda de pai, irmão ou amigo em confronto com a polícia ou executados por ela... E não me venham com essa de que "eu nunca dormi", "eu sempre estive acordado", "a periferia nunca dormiu" etc, pois eu estou falando de pessoas que nunca tiveram oportunidade de vivenciar qualquer experiência política (a não ser, no máximo, votar). Conversei com diversos deles, muitos, inclusive, envolvidos, sim, com a criminalidade (especialmente furto, roubo e tráfico de drogas), mas... E daí? São os filhos de um Estado pródigo em repressão/coerção/violência e ausente em tudo o mais/todo o restante... Produtos do meio. E, sendo o crime algo circunstancial, que todos nós estamos sujeitos a vivenciar/experimentar a qualquer tempo (a depender da situação fática a que formos submetidos), isso não lhes tira o caráter humano e, consequentemente, seu direito de (finalmente!) protestar. De repente, mais uma vez (como de costume) a Tropa de Choque dá início ao espetáculo - o circo dos horrores fez-se presente materializando-se numa cinematográfica praça de guerra em frente ao Shopping Iguatemi. Os dois únicos possíveis "motivos" para mais esse massacre regado a chuva de bombas de efeito moral (gás lacrimogênio) e tiros de balas de borracha: a deliberação de alguns manifestantes para realizarem o passe livre nos dois sentidos da Av. ACM e a decisão de outra parte, ao que parece, no sentido de migrar para a Av. Paralela ("Jaquinho Malvadeza" deve ter pego ar/se injuriado - pois aqui na Bahia, ao que tudo indica os protestos contra o governo devem ter metas/roteiros e horários ditados/determinados pelo próprio governo... Bem lógico/coerente/sensato, não?); ou simplesmente a perda de paciência por parte da Choque e da Rondesp, coitados... Já estava tarde e eles queriam jantar e ver os melhores momentos do jogo Brasil x Itália... Outro motivo não pode ter. Eu - felizmente/infelizmente - mais uma vez estava lá na linha de frente e vi com meus próprios olhos de onde partiu a violência/o vandalismo... Adivinhem! Uma dica: veio por meio de chuva de bombas de gás lacrimogênio (efeito moral)... Dessa vez faz-se necessário ressaltar um agravante: os Oficiais e Praças da PM que faziam a "escolta"/"segurança" da gente tomaram a chuva de bombas e correram junto conosco!! Isso mesmo, minha gente... Fogo amigo!!! A partir de então instalou-se o caos. Playboys e patricinhas "pacifistas" (manifestantes de ocasião - aqueeeeeeeles a quem chamei de pseudo defensores da pátria[dos playgrounds]) correndo desnorteados empurrando e passando por cima de todo mundo, correndo e gritando "sem vandalismo, gente!!!" "Pra que isso?!?!"; bombas e gás espalhados por tudo quanto é lado; uma boa parte de "vândalos" (parcela essa na qual orgulhosamente me incluo) resistindo bravamente com fogos de artifício, pedras e paus contra os cães-humanos do Estado e suas armas químicas, balas de borracha, cavalos e cacetetes... A solidariedade entre os "combatentes" me impressionou muito - todos contra a polícia (que nesse representava o Estado corrupto, escroto, falido e violento/autoritário). Houve quebra quebra sim. Os alvos: vidraças do Iguatemi; Banco Bradesco; pontos de ônibus, placas, câmeras... Todos elementos simbólicos do inimigo opressor na luta de classes. Afinal, quem são - e o quanto exploram o trabalhador - os donos de Shopping Centers? Que interesses representam?? E os bancos (senhores do planeta)...??? E o Estado falido, corrupto, violento, truculento, cínico, burocrático, ineficiente em tudo (salvo na coerção/repressão)????? Querem transformar, com a pecha de "vândalos"/"vandalismo" e a mentira descaradamente e diuturnamente repetida de que (sempre) quem dá início aos confrontos com a polícia são os manifestantes, o oprimido (nós) em opressor (políticos/polícia/grande mídia/mega empresários) - e este, em vítima. Mais um dia de muitas lições, encerrado nas delegacias dos Barris (DTE) e da Boca do Rio (9ª), junto com outros colegas voluntários e representantes da OAB/BA (segundo momento de orgulho relativamente à minha profissão), prestando auxílio aos que foram detidos (em vão, posto que o crime de dano necessita de representação do ofendido, além da pena máxima e a circunstância de crime multitudinário - o que dificulta a revelação da autoria - impedirem a manutenção da prisão). Na delegacia dos Barris houve tempo, ainda, para uma conversa elucidativa - que me trouxe esperança. Três Oficiais conversaram abertamente comigo e mais três amigos acerca dos acontecimentos de hoje, da onda de protestos/manifestações, as estruturas de poder dentro da(s) polícia(s) do estado, bem como a atuação do governador e a Lei Geral da Copa. Todos mostraram-se extremamente descontentes/putos/insatisfeitos com o governo Wagner, o qual acusam de utilizá-los como escudo/arma, para calar a voz das ruas e fazer valer a sua vontade soberana. Disseram achar absurdo o que está a ocorrer em Salvador (e no Brasil como um todo) com a famigerada Lei Geral da Copa, que nos retirou - palavras deles - a soberania nacional para entregá-la à Fifa. Reafirmaram/ratificaram o que já é de conhecimento de todos: a lavagem cerebral e o treinamento que transformam os policiais integrantes das Companhias Independentes em cães-humanos que apenas executam ordens (de bater e matar). Ratificaram que há, sim, verdadeiramente/notoriamente um descontentamento geral por parte dos Oficiais e Praças da PM/BA, que querem muito aderir ao movimento - não o fazendo pelos dogmas militares (hierarquia e disciplina) e pelo medo de represálias. Pontuaram que caso os médicos, professores, magistrados, promotores aderissem eles também o fariam (posto que são o elo mais fraco da corrente - no contexto das estruturas de poder da máquina pública do estado). Dia de muita adrenalina e muita reflexão. A luta continua (está apenas começando)... Homens de boa vontade, indignados dessa cidade, desse estado e desse país: UNI-VOS!!!
Posted on: Sun, 23 Jun 2013 07:25:49 +0000

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