Django Livre, Tarantino à solta Depois do impecável Bastardos - TopicsExpress



          

Django Livre, Tarantino à solta Depois do impecável Bastardos Inglórios (2009) e do divertidíssimo À Prova de Morte (2007), já classificado por Quentin Tarantino como seu pior filme, o imprescindível cineasta norte-americano volta às telas de cinema com o controverso Django Livre, um filme único ambientado no período escravagista dos Estados Unidos pouco antes da Guerra de Secessão. O longa é uma história de amor, tragédia e vingança repleta de violência e da tradicional (e bem dosada) mistura de gêneros cinematográficos constantemente orquestrada por Tarantino. Em 1858, no Sul estadunidense, Django (Jamie Foxx), um escravo barbarizado pelos irmãos Brittle, feitores de seu antigo dono, é separado de sua mulher, Broomhilde (Kerry Washington). Django acaba sendo encontrado por King Schultz (Christoph Waltz), um caçador de recompensas que está atrás dos Brittles. Sabendo que Django conhece bem seus carrascos, Schultz convence o escravo a ajudá-lo na captura, oferecendo seu apoio para que ele possa recuperar sua amada após a caçada. Parceria feita, os dois seguem em uma sangrenta jornada para atingir seus objetivos. Django Livre, você sabe, causou a revolta do não menos genial Spike Lee, que acusou o longa de ser “desrespeitoso aos seus ancestrais” ao tratar a questão escravagista com certa veia cômica. Lee disse que se recusa a ver o filme. Na verdade, a obra de Tarantino basicamente mescla western tradicional com faroeste spaghetti e black exploitation muito mais para satirizar o gênero bangue-bangue e a própria trama fictícia de Django Livre do que para ridicularizar um tema tão grave quanto a escravidão. O cineasta está longe de tratar com desrespeito uma questão espinhosa como o regime escravo. Ao contrário. Tarantino mostra com realismo, na medida do possível, passagens doloridas deste momento histórico quando aponta o lamentável cotidiano escravo, o tratamento desumano a que negros eram submetidos, o pútrido negócio de compra e venda de pessoas por oligarcas avarentos e também a vida nas violentas comunidades brancas sulistas norte-americanas. Mais do que isso, Tarantino relata as interseções sociais tensas presentes no convívio entre brancos e negros em terras gringas no século XIX, algo até hoje perceptível tanto em cidadezinhas da América profunda quanto nas ruas de megalópoles como Nova York. Exemplos claros disso no filme são as estratificações variáveis, como no caso de escravos que assumem postos de confiança na Casa Grande de Candyland, propriedade do fazendeiro Calvin Candie (Leonardo DiCaprio), ou de brancos toscos relegados a atividades periféricas de menor importância. Emolduram bem esta situação personagens como o velho escravo Stephen (Samuel L. Jackson), que após ser liberto torna-se uma espécie de secretário-administrador, traidor da raça, olho-vivo e puxa-saco de Candie, e também a gangue de brancos paupérrimos e ignorantes que trabalham para o mesmo patrão como feitores ou arrimo de fazenda. É também curioso o fato de que estas variantes sociais geram, no filme, algumas vinganças surpreendentes em que brancos se voltam contra brancos e negros acertam contas com negros. Figuras e situações intrincadas deste tipo tornam a trama de Django Livre mais realista, apesar do tom cômico-violento que predomina no filme. Além disso, Tarantino mostra que não perdeu a mão em fazer diálogos hilários durante cenas críticas, como a absurda e divertida discussão entre fazendeiros brancos linha Ku Klux Klan sobre seus capuzes igualmente brancos pouco antes de um ataque a Django e King Schultz. Quem não lembra do papo bizarro entre os personagens de Samuel L. Jackson e John Travolta sobre lanches do McDonald’s em Pulp Fiction? O cineasta também acerta a mão no elenco. Jamie Foxx está preciso e discreto no papel do escravo sedento por vingança e que, nem mesmo por isso, mete os pés pelas mãos. Criou um personagem centrado, calmo, racional e objetivo, sem desesperos nem arroubos de heroísmo, porém deixa claro desde o início ser Django um herói nato. DiCaprio está bem como um herdeiro milionário, mimado, frio e sádico. Christoph Waltz também tem um bom desempenho, porém apresenta praticamente os mesmos trejeitos e afetações cômicas de seu oficial nazista Hans Landa, de Bastardos Inglórios, o que de certa forma diminui sua atuação como um todo. Mas quem rouba a cena mesmo é Samuel L. Jackson, excelente ao interpretar o negro racista (contra outros negros), odiável e bajulador Stephen. Jackson rouba as atenções do filme inteiro apenas com uma fala e um olhar já na sua primeira cena. Vilão perfeito.
Posted on: Fri, 14 Jun 2013 21:11:24 +0000

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