Do mural da Aida Santos Aqui vos deixo, com autorização dele, - TopicsExpress



          

Do mural da Aida Santos Aqui vos deixo, com autorização dele, um texto de um companheiro (José Cavalheiro, associado da "APRe" - Porto) - que me parece ser de ler, por enquadrar uma perspectiva que há que ter em conta: refiro-me ao jugo financeiro sobre a política. Já aqui chamei a atenção para o relatório da JPMorgan de 28 de Maio, em que, entre outras coisas, se referia, no que toca a Portugal, o entrave que é a nossa Constituição. Se isto é importante para nós? Se tem que ver com reformas e reformados? Ah, sim, podemos crer. Tanto que desta linha devíamos estar todos cientes. Importa muito mais (por ser a outra escala) do que a espuma dos recortes de jornais, a cujo rebentar diário aqui vamos dando tanta, e às vezes escusada, atenção. «Cavaco segue conselhos do JP Morgan Com uma maioria e um presidente a direita já não se satisfaz e quer ainda mais: integrar os representantes das vítimas nos seu programa de holocausto financeiro, económico e social, para garantir assim a impunidade futura dos seus actos. Usar a crise para acabar com a alternância democrática eis o sonho dos criadores dos paraísos fiscais, dos subprime, dos fundos tóxicos ou dos swaps. Mais do que discutir os nomes e os comportamentos dos protagonistas é necessário encaixar toda esta ópera bufa no contexto da crise financeira internacional. O aumento vertiginosos da produtividade e a desregulação do capitalismo financeiro fez nascer uma liquidez impressionante de triliões de dólares que por serem muito mal distribuídos permitiram a acumulação de verbas astronómicas num reduzido número de pessoas. Para rentabilizar toda essa massa monetária as aplicações produtivas não respondem com a rapidez de retorno e as margens consideradas satisfatórias. Foi preciso encontrar, depois das negociatas imaginosas e fraudulentas dos sub prime que originaram a crise, outros negócios com mais garantias, e um deles é o das dívidas soberanas. Os Estados não desaparecem, e a crise de crédito paradoxalmente gerada pelo excesso de liquidez, permite uma actividade financeira altamente rentável, que no caso da Europa tem ainda a vantagem de ser garantida pelos outros estados. Em 5 anos a dívida pública portuguesa a credores privados foi maciçamente transferida para credores públicos, demonstrando assim que os riscos dos “mercados” são histórias apenas contadas pelos economistas do costume. Para que o retorno dos empréstimos seja rápido e dada a falta de liquidez dos países endividados é necessário que seja toda a população a pagar o negócio, isto é o lançamento de uma operação generalizada de empobrecimento, que obviamente deixa de fora os interessados na operação, isto é as grandes empresas –que até reclamam agora melhores condições tentando baixar o IRC- os investidores na bolsa, os “frequentadores” de offshores, ou as empresas que simplesmente deslocalizam as suas sedes fugindo ao fisco. Ao aplicarem uma politica austeritária atingem dois objectivos: libertam as verbas a canalizar de imediato para pagamento dos juros e reduzem as áreas de intervenção do Estado criando novas áreas de negócio para os tais capitais excedentários. Monta-se assim um sistema de drenagem da riqueza dos países intervencionados, ao mesmo tempo que os Gomes Ferreira em exercício vêem ameaçar com as desgraças dos prazos, dos compromissos e da fatalidade do incumprimento. E como a operação é impossível, cada vez a dívida é maior e menores são os recursos disponíveis para a pagar , a tal espiral recessiva que liquida a economia e torna o doente cada vez mais doente enquanto os agentes dos credores sobem de tom nas suas ameaças. E a população desorientada esquece, como sucede aos reformados, que eles são os primeiros e mais antigos credores, pois passaram a vida a financiar um fundo que agora se lhes tenta roubar em nome de uma crise montada para ser um negócio de retorno rápido. Esta operação conta com o apoio de estados , como a Alemanha , que beneficiando do pânico dos depositantes se financia a custos baixíssimos, capitais que depois empresta às vitimas num processo auto alimentado sem fim. Contudo, como consta de um relatório do J P Morgan divulgado recentemente, existe ainda um obstáculo que impede que os chamados programas de ajustamento sejam um negócio durável: esse obstáculo chama-se democracia, uma chatice em que os responsáveis são eleitoralmente responsabilizados pelos seus actos, o que limita a sua actuação e acaba por afastá-los do poder. Os governos que aplicam cegamente a recita que serve os interesses do J P Morgan correm o risco de serem varridos do poder, se não forem feitas alterações politicas que evitem a "proteção constitucional dos direitos laborais" e "direito de protesto contra alterações indesejadas ao status quo político"[1] Em Portugal a aplicação dos planos de austeridade rapidamente demonstrou que não resolvia o problema da dívida, que cresceu muito, do deficit que continua a derrapar, da suposta acalmia dos mercados que mais uma vez se eriçaram perante a crise do governo. A crise PSD/CDS é apenas o resultado da aplicação de uma solução falhada que não tinha qualquer suporte social nem dos trabalhadores nem da maioria dos patrões. Eis que surge uma tentativa do CDS de alterar a política seguida por Gaspar, tentando um novo equilíbrio que salvasse o partido da bancarrota eleitoral; Cavaco que tem suportado todo o programa de ajustamento e implicitamente tentou ir ainda mais longe com a implementação da ideia lumiosa de Vítor Bento- a TSU apresentada pelo lacaio Gaspar- compreende agora que o desmoronamento da direita está eminente e que nas eleições os dois partidos serão fortemente penalizados .A receita falhada corre o risco de não ser aviada até ao fim. Como evitar isto? Eis a solução do PR, uma velha receita dos carrascos: envolver as vítimas no processo de punição. Se o PS se deixar apanhar pela armadilha, acreditando na ameaça de ser considerado um traidor à Pátria se não participar na tal coisa de salvação nacional, então passaria a ser co- responsabilizado eleitoralmente e a penalização da direita seria menor. Temos assim a mesma ideia de fundo que presidiu à proposta de que a TSU deixasse de ser paga pelos patrões e passasse integralmente a ser suportada pelos trabalhadores: aproveitar a confusão da crise para subverter os mecanismos de responsabilização democrática deixando o capital financeiro mais liberto de compromissos e peias que impeçam o seu apetite devorador. Cavaco afinal segue os conselhos do banco: amarrar os socialistas às políticas suicidárias impostas pelos credores, neutralizando assim a resposta democrática ao falhanço social do plano. Uma maioria no Parlamento e um presidente conivente já não chega: é preciso garantir um passaporte de impunidade para o futuro, nem que para isso o presidente antes imóvel se transforme agora no chantagista da oposição. Como de costume, os partidos mais à esquerda comportam-se como comentadores: auto excluídos das responsabilidades do poder, em tempos de decisões graves fazem apenas parte da paisagem.» José Cavalheiro, 11 Julho de 2013
Posted on: Sun, 14 Jul 2013 15:55:06 +0000

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