Durante os séculos XVIII e XIX, era corriqueira uma espécie de "manifestação popular" protagonizada por grandes massas humanas. A atividade começava INTEIRAMENTE PACÍFICA, como se diria hoje em dia, e assim se desenrolava em sua maior parte: os homens marchavam lado a lado, altaneiros, confiantes, plenos de ideal. Havia música. Rufavam tambores, tocavam flautas, soavam gaitas, tremulavam as mais belas bandeiras. Acampava-se, contavam-se histórias - e sobretudo estórias -, falava-se em glória, progresso e riqueza. É bem verdade que, após tanta paz, costumavam aflorar incidentes isolados de violência quando os homens atingiam a linha estipulada por seus comandantes, no melhor alcance dos canhões ou dos mosquetes. É correto também que, naquele tempo, ninguém tinha dúvidas: tais manifestações "inicialmente pacíficas, entremeadas por picos de violência", atendiam a um nome inequívoco: GUERRA. Naqueles dias, todos sabiam que a caminhada pacífica das tropas, as pomposas paradas na partida, os momentos lúdicos no acampamento e todo o transcorrer mais ou menos livre de incidentes e sangue eram somente o movimento inicial das peças no tabuleiro, Que a tomada de posição tinha um fim logo adiante, dentro do tempo, inteiramente previsível. Que o fim era bélico. E que, portanto, toda a conduta era afetada por seu fim, e de pacífica nada tinha em qualquer de suas fases. Sim, era uma outra época. Uma época na qual, ao que parece, a distribuição da burrice era notavelmente menos igualitária do que na nossa. (Leonardo Faccioni)
Posted on: Fri, 16 Aug 2013 03:25:52 +0000
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