E já que será inevitável falar bastante da Argentina e dos - TopicsExpress



          

E já que será inevitável falar bastante da Argentina e dos irmãos de Nuestra América, que tal a entrevista e a música abaixo? Para descermos mais fundo, para além das superficialidades. E como intelectual orgânico, da forma como se define, quais são em sua opinião os principais desafios regionais daqui para frente? Em temas mais globais, o desafio fundamental para a América Latina, nos próximos anos, está em como conectar duas ideias que em princípio são difíceis de combinar: o princípio da autonomia e o princípio da hegemonia. Não há expansão de um sistema democrático sem um sistema de proliferação de cadeias que ampliam as demandas. Isto implica a autonomia. Porém, ao mesmo tempo, se essas formas autônomas da vontade das massas não são unificadas em torno de certos significantes centrais, não haverá ação em longo prazo. Uma das coisas que me preocupa nos movimentos libertários da Europa é que eles enfatizam, quase exclusivamente, o momento da autonomia. Contudo, sem vontade de construir um Estado alternativo, as vontades tenderão a se diluir. E por outro lado, insistir exclusivamente no momento da hegemonia, negando o momento da autonomia, é pecar num hiper-politicismo que nega os movimentos sociais em sua autonomia. Esse é o dilema: a forma como unificar a dimensão horizontal e a dimensão vertical. Parece-me que o chavismo, na Venezuela, a revolução cidadã, no Equador, Evo Morales, na Bolívia, e até certo ponto o kirchnerismo, na Argentina, não estão fazendo mal isto. Por que você diz “até certo ponto”? Na Argentina, ainda não se conseguiu uma confluência completa entre o momento autônomo da vontade dos setores populares e o momento da construção do Estado. Está em processo. Falta ainda a confluência das duas dimensões. Desde 2001, ocorreu uma enorme expansão horizontal do protesto social: as fábricas recuperadas, os piqueteros, etc... Por outro lado, o kirchnerismo tenta construir um Estado popular. Em qualquer regime, a confluência é difícil. No caso argentino, houve avanços decisivos, embora não tenha se vertido em fórmulas. O que retardaria essa confluência? O que pode retardá-la é uma tendência dos movimentos sociais em se afirmar como completamente independentes do Estado, assim como ocorre com os Indignados na Espanha. E o que pode retardar a confluência, no nível do momento hegemônico, seria uma tendência centralizadora que ignora a autonomia. Na Grécia, há uma confluência das duas dimensões. Jean-Luc Mélenchon procura realizá-la na França. Como os conflitos atuam nessa confluência que você indica? Por um lado está o institucionalismo: a ideia de que toda demanda pode ser veiculada através dos aparatos do Estado. Por outro, o populismo: a ruptura frente ao poder. As duas tendências consideradas a fundo, e em termos absolutos, são incompatíveis. É preciso encontrar um meio termo. O conflito não deve ser erradicado com a concepção de que toda demanda pode ser absorvida pelo sistema, como pensava (o primeiro-ministro britânico, entre 1874 e 1880) Benjamin Disraeli, com a ideia de One nation, uma nação. O projeto do populismo estaria no fato das demandas se aglutinarem ao redor de um ponto de ruptura, existindo, então, um conflito que não pode ser obstruído por nada. O institucionalismo puro leva à ausência de política, porque procura fazer com que toda demanda seja mediada administrativamente. O populismo puro também leva à ruptura da política, porque não conta com nenhuma mediação. A ideia gramsciana é a construção de uma mediação política. Estamos nisso. Jorge Abelardo Ramos dizia que a sociedade nunca está polarizada entre o manicômio e o cemitério. O jacobinismo extremo foi uma forma de manicômio do político. O povo era definido de uma forma cada vez mais aberrante e não existia nenhuma possibilidade de construção política institucional. O institucionalismo é a substituição da política pela administração. Julio Argentino Roca pedia paz e administração. Na bandeira brasileira, essa verdadeira igreja do Brasil, que foi o positivismo de Augusto Comte, colocou “Ordem e Progresso”. Se a realidade avançar apenas pelo institucional, se consolidará o poder corporativo. Se apenas o populismo avançar, não haverá um marco institucional para o social. Qual seria hoje a situação da Argentina a esse respeito? Não estamos mal. Existem forças autônomas e existe um Estado que tem capacidade de resposta frente às pulsões sociais. https://youtube/watch?v=zzp3tBSghIc Leia entrevista completa: ihu.unisinos.br/noticias/522127-america-latina-e-o-melhor-momento-democratico-em-150-anos-afirma-ernesto-laclau
Posted on: Tue, 23 Jul 2013 14:04:58 +0000

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