EU E O LIMA BARRETO (PARTE 21) EU: “Se o que você me - TopicsExpress



          

EU E O LIMA BARRETO (PARTE 21) EU: “Se o que você me explanou é verdade, então vou mudar o meu conto. Uma coisa não bateu dentro de mim: o seu intenso humanismo não coaduna com uma atitude racista”. MARLI: “O humanismo do Lima era altamente teórico, contraditório e excludente. Na prática ele levava uma vida conflitante: pensava como a burguesia mas vivia como um assalariado. Ele nunca aceitou isso.” Esta última afirmação da professora a respeito do humanismo do Lima pode até possuir um certo embasamento científico no que diz respeito à metodologia da pesquisa histórica, literária e jornalística, a qual leva em conta textos e depoimentos frios e análises puramente objetivas. Ele, sem dúvida nenhuma, possuía uma noção superior de si mesmo, intelectualmente falando, não só com relação aos negros como à maioria do povo com o qual convivia. Também deve ter preferido mulheres caucasianas, descartando as de sua raça. Mas estender estes valores excludentes a todo o seu “humanismo”, ou seja, a todo o seu envolvimento PESSOAL nos interrelacionamentos sociais do cotidiano, é algo que não pode ser aceito. Por que digo isto? Por uma razão bem simples, e de uma importância capital para se entender o escritor na sua dimensão HUMANA. Trata-se do depoimento daquele desconhecido perante o cadáver de Lima Barreto: “- ‘Não sou ninguém, minha senhora. Sou um homem que leu e amou esse grande amigo dos desgraçados’.” Este fato jamais poderia ter sido levianamente inventado, considerando a gravidade e a seriedade do contexto em que ocorreu. E a sua declaração breve e enfática, revelando uma autenticidade e uma sinceridade indubitáveis, deve ter permanecido indelével na mente das testemunhas oculares, desvelando talvez para elas um Lima desconhecido dos meios jornalísticos e literários, um Lima anônimo nos trens dos subúrbios, um Lima despojado nos botequins da vida, entre o populacho autêntico. Tudo isto pode ser resumido em duas palavras: AMOR e COMPAIXÃO. O “humanista teórico” seria aquele intelectual de classe média que jamais se arriscaria a se misturar promiscuamente à plebe ignara, mas que a defende por escrito. É claro que certas contradições são inerentes à nossa humana espécie, e o Lima deve ter tido algumas. Realmente a sua formação acadêmica, cultural e intelectual NÃO ERA a da classe social e nem da raça a que pertencia, mas da burguesia e das elites. Vivendo como assalariado, usando as palavras da professora, tal realidade contraditória para ele era bastante dura e sofrida, dificílima de ser aceita com resignação. Tudo bem! Talvez a historiadora esteja se referindo a um “humanismo literário”. Deve ser isto. Mas na verdade não sei. Há muita coisa a ser analisada. E hoje eu sou uma pessoa bem diferente do Lima Barreto da época, embora permaneçam em minha alma muitos caracteres desta existência anterior.
Posted on: Sat, 17 Aug 2013 20:46:46 +0000

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