Entrevista cedida pela psicologa e neuropsicologa Cleonice - TopicsExpress



          

Entrevista cedida pela psicologa e neuropsicologa Cleonice Medeiros à Juliana Falcão (MB Press) 1- A preferência das mães por um determinado filho é algo inconsciente? Psicóloga: Na maioria dos casos, é provável que sim, pois uma vez que, socialmente, espera-se que os pais não façam distinção entre os filhos, a mãe, então, inconscientemente, mascara tal comportamento seu. Todavia, em alguns casos o favoritismo pode ser mais intenso, tornando-se consciente.Vale esclarecer que o favoritismo temporário, ou seja, aquele que é compartilhado periodicamente com cada um dos irmãos é o ideal. Pois isso transmite à criança noção de identidade e segurança de que é amada. Esse favoritismo ocorre quando, temporariamente, os pais exercem preferência por um dos filhos. Por exemplo, quando um deles está doente, ou quando presta um concurso, e não é aprovado, ou quando termina um namoro e está sofrendo etc. Nesse caso, quando cessa o motivo, a preferência se desfaz, podendo se manifestar em outro filho, se este carecer, ou ficar neutra, até que surja outro fato que volte a instigar o instinto de proteção. 2 - É possível uma mãe amar e proteger todos os filhos com a mesma intensidade? Psicóloga: Sim, é possível a mãe amar os filhos igualmente. Quanto a protege-los, faz parte do instinto natural do ser humano de sempre proteger o mais fraco. De forma que, muitas vezes, os pais, achando que determinado filho é mais frágil, menos inteligente ou é portador de alguma doença, acabam dispensando maior cuidado em relação a ele.O que não se deve confundir é amor com afinidade. Às vezes, os pais amam seus filhos com a mesma intensidade, mas têm mais afinidade com um, ou uns, em relação aos demais. E isso pode gerar ideias distorcidas nas pessoas que estão à volta. Por exemplo, a mãe, às vezes, é mais unida àquela filha que conversa mais com ela e lhe dá mais liberdade para fazer parte de sua vida, enquanto que a outra pode ser mais tímida, quieta, e acaba não sendo tão amiga da mãe, mas isso não significa que a mãe não a ama da mesma forma que ama a outra, ela apenas tem mais afinidade com uma das filhas. Porém quem vê de fora, entende que a mãe ama mais a outra filha. 3 - Existe um critério de escolha (o mais novo, o mais frágil...) para esta proteção? Psicóloga: O que acontece é que muitas vezes os pais acabam se identificando mais com um determinado filho o qual os pais consideram ser mais fácil de lidar (o mais brincalhão ou aquele que eventualmente apresenta algum problema de saúde, que pode dar mais problemas na escola etc). E geralmente o filho que tem personalidade mais marcante acaba sendo deixado meio de lado. 4 - Normalmente os filhos percebem essa diferença de tratamento? Como a mãe deve lidar com isso? Psicóloga: Além desses filhos não preferidos perceberem, outras pessoas do convívio familiar também acabam percebendo. Quando isso ocorre, a mãe deve buscar o equilíbrio e o bom senso, que é o ideal na execução de seu papel de cuidadora. Nem a escassez, nem o excesso, para que a evolução, em todas as fases do crescimento, não fique comprometida. Agindo assim, ela (mãe) proporcionará aos seus descendentes um desenvolvimento salutar. Os pais que não conseguem estabelecer um relacionamento adequado com seus filhos, que seria tratar os desiguais com igualdade, devem procurar ajuda de um profissional, de forma a evitar o sofrimento daqueles que se sentem menos favoritos. 5 - Essa diferença de proteção e atenção muda a relação entre os filhos? Psicóloga: Quando um filho se sente preterido pela mãe acirra-se a rivalidade entre os irmãos e isso pode levá-los a ser inimigos irreconciliáveis. Não é incomum ver-se isso acontecer.A preferência, na maioria das vezes, acaba gerando protecionismo, que, por sua vez, termina causando um mal muito grande ao superprotegido. As pessoas que crescem sob superproteção tem mais dificuldade em criar uma identidade, em obedecer regras, tornam-se medrosas, inseguras, sem coragem para lutar e vencer as adversidades que o mundo lhes oferecem. Já o filho menos favorecido, algumas vezes, consegue criar mecanismos de defesa, tais como: independência, perseverança, de tal forma que, ao estabelecer uma meta, insisti em cumpri-la, até conseguir atingir o objetivo, sente-se menos pressionado para alcançar o sucesso; mas também pode acontecer o oposto, tornando-se ele um indivíduo amargurado, com sentimento profundo de rejeição, propenso à depressão, etc. 6 - Quais as conseqüências sofridas pelo filho menos protegido? Psicóloga: Além do que já foi dito anteriormente, sejam quais forem as razões que levaram os pais a proteger mais um filho do que o outro, o fato pode culminar num distúrbio emocional tanto para um quanto para o outro lado: um se sente fora do contexto, pela falta de amor, fica revoltado; o outro sofre um desajuste, pelo excesso, podendo leva-lo a uma dependência emocional, a uma personalidade mais fragilizada, de tal forma que não consegue dar continuidade às metas estabelecidas, sente-se incapaz, é instável no emprego etc. Além disso, o filho mais protegido, às vezes, pode se sentir responsável por trazer mérito aos pais, por faze-los felizes, e quando ele não consegue cumprir exatamente aquilo que os pais esperavam dele, acaba se sentindo mal, infeliz e impotente. 7 - E o filho mais protegido, costuma tirar proveito disso? Psicóloga: Temporariamente, o filho predileto pode se beneficiar do tratamento especial, porem, isso pode contribuir num futuro mais próximo em desajustes emocionais, na construção de uma personalidade mais fragilizada, tornando-se uma pessoa mais vulnerável, dependente, insegura, afinal ele sempre pôde contar com uma atenção e ajuda especial em diversos momentos da vida, mesmo quando podia resolver determinados problemas sozinho. 8- Como superar as dificuldades emocionais causadas por ter sido o filho rejeitado? Psicóloga: A pessoa deve procurar ajuda emocional e psicológica. O psicoterapeuta ajuda a entender se houve mesmo rejeição ou se o que de fato aconteceu foi uma maior sintonia por um de seus irmãos devido a, por exemplo, esta mãe sentir que as fragilidades deste filho “preferido” são parecidas com suas próprias fragilidades.Quando a psicoterapia identificar que de fato houve uma rejeição, que esta pessoa foi preterida por sua própria mãe, iniciará um processo de autoconhecimento a ponto de se identificar os pontos fortes que não puderam ser reforçados pela própria mãe. A pessoa rejeitada se sente absolutamente sem qualquer atrativo físico ou intelectual. Esta percepção distorcida de si mesmo só será refeita com um processo sério de auto conscientização, nada de dizer a esta pessoa “você é maravilhoso”, pois claro que isso parecerá bajulação.O psicólogo acompanhará um verdadeiro processo de reconstrução interna, de percepção do seu verdadeiro “eu”.
Posted on: Tue, 08 Oct 2013 13:56:57 +0000

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