Entrevista com Hamilton Ribeiro, militante do MPRA | Movimento - TopicsExpress



          

Entrevista com Hamilton Ribeiro, militante do MPRA | Movimento Popular pela Reforma Agrária Trabalho realizado por Luiza Ribeiro (na Espanha) youtube/watch?v=A0f-buy6AVA&feature Hamilton Marques Ribeiro – Fundador da bandeira MPRA (Movimento Popular pela Reforma Agrária), que é a nível regional (região de Uberlândia), que já atua há 10 anos, com 42 famílias assentadas e 3 acampamentos. 1- O que é o latifúndio para você? O latifúndio não é nada mais do que a concentração de capital na mão de poucos, que impede a agricultura orgânica e saudável, porque essa expansão da monocultura é feita com altos maquinários, ela decepa a condição da força de trabalho, de pessoas menos favorecidas que dependem desse trabalho, e quando se oferece ela é degradadora para o próprio ser humano; é um sistema praticamente escravizado. Para mim ela é um sistema totalmente adverso do que deveria ser. E a visão desse sistema, para mim, é só a concentração de capital na mão de poucos. E isso não é bom para a sociedade. Futuramente ela virá trazer uma pobreza geral para a nação. E agora inicialmente da forma que eles estão, enriquece poucos. 2- Qual seria a influência do agronegócio no Brasil? Eu acho que o agronegócio vem da mesma forma, nada mais do que ser uma exploração. No agronegócio, grande parte das pessoas não é nem o proprietário da terra, ela vem de forma de aluguel ou cedida por políticos, e inclusive muitas vezes no próprio patrimônio público, em grandes expansões de áreas rurais. O objetivo é um só, explorar o menos favorecido, enriquecer poucos e o pior, grande parte desse dinheiro (capital) nem fica no país, porque grande parte da monocultura que existe no Brasil são países de fora que vem explorar, por isso esse capital nem fica aqui. É uma influencia negativa para o país. 3- Há conflitos de terra no Brasil e porque que há esses conflitos? O conflito ocorre na verdade por falta de uma divisão igualitária que deveria ser no nosso país, já que só no estado de Minas Gerais temos mais de 18 mil ha de terras que ainda é da União do Estado e o Estado concentra isso, permanece com isso na mão, não repassando para a classe trabalhadora, para o povo do campo, do pequeno agricultor, das pessoas que lutam pela reforma agrária, que gera uma luta para ser reconhecido, inclusive tentar alcançar minimamente as leis que os aparam. O conflito só aumenta, porque não avança em melhorias para os agricultores, porque o governo não ajuda no avanço da reforma agrária, por mais que criou leis para isso, mas que não as executam. Nos últimos anos, inclusive no governo Lula, essa situação piorou, porque o judiciário também impede a decretação de áreas para a reforma agrária. O governo que deveria realizar programas de distribuição de terras, igualdade social, que seria os melhores projetos de crescimento para o nosso país. 4- Você acha de certa forma que o agronegócio está influenciando o Estado? Para mim o agronegócio hoje manda no Estado. (...) A questão fundiária determina/gera/manda todo um movimento de acordo com a intenção dela, tanto político, partidário, judiciário e parlamentar. Estou na luta pela reforma agrária há mais de 16 anos, e a gente acreditava que através dos movimentos sociais a gente poderia nos fortalecer e nos dar condições humanas para que não avançar a questão da bandidagem, porque quando a pessoa não tem recurso, ela vai se virar de alguma forma (passar fome não vai), mas hoje o governo não dá respaldo. Até mesmo no governo Lula, que foi um cara, que mostrava inicialmente na campanha dele a sustentabilidade política para que a gente avançasse com a reforma agrária. Mas olha a gente aqui, por exemplo, nós estamos com 21 famílias, tentando produzir orgânico, mas quando a gente chegou nessas terras, foram arrendadas duas áreas próximas para produzir monocultura de soja, que antes não existia, e com a utilização de químicos nessa plantação está influenciando/interferindo no crescimento das nossas plantas, que antes tinha muito mais qualidade e hoje estão morrendo; as nossas águas também, que antes tinha uma cor totalmente diferente e hoje está totalmente contaminada. Então, o agronegócio é uma situação opressora para a nação. São 30% da população que manda no país (no parlamentar, judiciário, ...), mas que até eles já estão comendo da química que eles utilizam nas plantações. Os agricultores familiares estão vivendo uma perseguição da monocultura de soja, de usinas de canas e das hidrelétricas, porque nas bacias dos rios aonde são inundadas para construir hidrelétricos, nós poderíamos produzir organicamente, com as estruturas naturais da terra e preservando o meio ambiente. Se brincar, daqui 5 anos nós seremos expulsos dessas terras, pois elas serão inundadas para favorecer uma usina hidrelétrica. 5- O que é agricultura camponesa e qual a sua influência no Brasil? É uma agricultura humana, que respeita a mãe natureza (a terra, a água, o ar, das nossas árvores) e os nossos seres, trabalhando com igualdade social, com respeito, com alimentação pura e saudável (alimentação orgânica), que produz vida, nos dá saúde, diferente da monocultura, que produz químico (agrotóxico), o que está causando problemas de saúde nas pessoas, como câncer. Há pesquisas feitas no Brasil, que cada pessoa consome por ano 5kg de agrotóxicos. Para mim, a agricultura camponesa torna o ser vivo/ser humano saudável; ela é uma conjuntura de respeito, igualdade social, associando a teoria com a prática, dando condições de vida de verdade. E o excedente que você vai vender no mercado é com a garantia que você está vendendo vida para o cidadão e que não é igual a monocultura que está vendendo a morte, em que as pessoas financiam os seus próprios caixões. Para mim a agricultura camponesa surgiu da exclusão social, de uma classe que não é vista/considerada pelo governo e a sociedade, não te reconhece por você não ter um estudo e que não foi por culpa sua, mas sim por falta do Estado atuar. A agricultura camponesa avança com um objetivo muito humano, influenciando no Brasil por meio de uma força igualitária, de forma que o capital é importante para nós, nós não vivemos sem o capital, mas a gente luta para trabalhar com o capital com respeito, em que o ser humano tem que ser considerado além do capital; o capital vai promover para nós alguns momentos de facilidade, mas nós nunca podemos ter a ideologia que o capital vai além, como é no modelo capitalista, em que através do capital, os ricos dispensam os seres humanos, substituindo-os por máquinas. Nesse modelo, a partir do momento que a pessoa tem dinheiro, ela pode tornar o ser humano numa máquina, num escravo, num robô, de forma a se enriquecer cada vez mais, e esses trabalhadores cada vez mais pobres, sendo considerados como descartáveis. 6- Você conhece o sistema agrário da Espanha? Não conheço, mas gostaria muito de conhecer por causa de alguns livros e em alguns seminários que já participei. Espero que lá esteja sendo mais saudável para alcançar os objetivos de mundo com respeito e igualdade. 7- Você acredita que a concentração fundiária é um problema para o Brasil? E qual seria a solução? Totalmente um problema. São muitos milhões de hectares de terras nas mãos de poucos, e muitos chorando para ter um metro de terra para sobreviver. A solução seria promover uma igualdade social, distribuição de terras, de forma que governo execute as leis em prol dos agricultores familiares. Nós somos uma classe que geralmente paga todos os impostos e que mais pagamos impostos em dia. Por isso o governo deveria ter mais senso e distribuir as terras da União para acabar com os conflitos de reforma agrária, mas distribua não só as terras, mas também os investimentos (dinheiro) em projetos, já que atualmente o governo demora de 8 a 10 anos para ajudar com os projetos, e quando ocorre, é pela metade. A reforma agrária é a solução para o nosso país. Mas para ela ser efetiva é preciso ter assistência técnica, com gerenciamento inclusive do Estado. Em toda a nossa história, houve uma exploração com os menos favorecidos. No Brasil, os menos favorecidos são quem paga mais impostos, o rico não vai preso quando é corrupto no governo e já o pobre vai preso até se pegar um ovo para comer. Agradecimentos: Leonardo Shimizu (que filmó y ha hecho la entrevista) y Hamilton Marques Ribeiro (que aceptó ser entrevistado). Abrazos saudosos/nostálgicos a la toda familia MPRA y GUARAS (Grupo Universitário de Agricultura com Responsabilidade Ambiental e Social)! brasilgalicia.blogspot.br/
Posted on: Thu, 19 Sep 2013 16:06:21 +0000

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