Entrevista com Raul Caetano Post 17 Agosto 2013 By CLINICA UP - TopicsExpress



          

Entrevista com Raul Caetano Post 17 Agosto 2013 By CLINICA UP LIFE . Entrevista com Raul Caetano (08/08/2013) ABEAD Raul Caetano é médico psiquiatra. Atualmente é decano regional e professor de Epidemiologia na Escola de Saúde Pública da Universidade do Texas, decano e professor de Ciências de Saúde e Psiquiatria na Escola de Profissões de Saúde do Centro Médico do Sudoeste da Universidade do Texas. O especialista fala a seguir sua visão sobre as mudanças na política de drogas nos Estados Unidos. "O Brasil e os EUA são dois países que têm basicamente a mesma estrutura política, no sentido de que ambos são federações. A diferença é que no Brasil o governo central em Brasília é muito mais forte que o governo dos estados. Já nos EUA, o governo central é forte, mas não é tão centralizado, o que dá aos estados uma autonomia muito grande. Por este motivo, muitas leis mudam de estado para estado nos EUA. No caso da maconha, por exemplo, que é considerada pela esfera federal uma droga ilícita, o Governo tem escolhido não interferir no que os estados querem fazer, pois sabe que se houver interferência pode ocorrer uma reação significativa do Congresso, dos estados e da própria população americana, pois essa autonomia estatal já é parte da cultura americana. Então isso faz com que seja muito mais difícil impor uma política uniforme contra as drogas nos Estados Unidos. Mesmo assim, o governo americano tem políticas centrais contra as drogas, a famosa Guerra às Drogas é uma política central que o Governo Federal tem aplicado por muitos anos e que agora tem sido muito criticada porque na verdade não tem dado muito resultado. Mas a maioria dessa Guerra às Drogas não acontece dentro dos EUA, mas sim fora, na América Latina, então o povo americano perde um pouco o interesse em acompanhar isso de perto. A política do governo federal americano não tem mudado muito nos últimos anos, fundamentalmente é baseada na interdição de drogas nas fronteiras, principalmente na fronteira com o México, na provisão de tratamento e também na prevenção do uso de drogas ilícitas. Mas essa política de três pés (interdição, intervenção e promoção de tratamento) não tem mudado nos últimos 30 ou 40 anos. O que tem mudado é a reação dos estados ao uso de certas drogas e também a reação do governo federal com relação a uma política que começou a ser implementada nos anos 80, que é a política de encarceramento de indivíduos que usam drogas ilícitas. Essa é realmente a única política federal que está mudando, até mesmo porque o Congresso está interferindo e passando leis que estão mudando essa política. O que aconteceu com relação a isso é que a epidemia de crack/cocaína nos EUA aconteceu nos anos 80, e a resposta àquela epidemia foi uma encarceração em massa desses usuários. Até as prisões estatais nos EUA estão absolutamente cheias de prisioneiros que estão encarcerados pelo fato de que foram pegos pela polícia com uma pedra de crack ou cocaína e foram encarcerados por 20 ou 25 anos. O Congresso percebeu este problema e agora existe um movimento de diminuição desse encarceramento e de liberação dos indivíduos que estão presos há muitos anos, e uma mudança dessa política. O restante não tem mudado. Ao nível estatal o que tem acontecido de mais importante é que a maconha tem sido bastante liberalizada. E isso varia muitíssimo de estado para estado. Muitos estados já têm uma política de não interferir se o indivíduo é pego com pequena quantidade de maconha para uso próprio, o que varia, mas é em média considerado de 3 a 4 cigarros, uma ou duas onças de maconha. Isso é uma real tentativa dos estados de diminuir o encarceramento. Mais recentemente o Colorado e o estado de Washington resolveram descriminalizar totalmente a maconha e começar uma comercialização controlada. Isso ninguém sabe ainda qual vai ser a consequência. É muito complexo. Não se sabe realmente se vai haver aumento de prevalência, ou diminuição de criminalidade, ninguém sabe. Ainda vai demorar um pouco para que se implante um regime de regulamentação, quem vai plantar a erva, como vai distribui-la, quem vai vender o produto. Tem uma área muito vaga nessa pequena parte da política nos EUA. Outra coisa notável também com relação à maconha, é que existem muitos estados onde a maconha é permitida medicinalmente, como na Califórnia, por exemplo. O que tem acontecido de modo geral, a tendência é cada vez mais estados adotarem a permissão do uso medicinal. Acontece que os indivíduos começam a abusar do uso medicinal. No sul da Califórnia, por exemplo, em Los Angeles, San Diego, em muitos estabelecimentos é possível comprar maconha para uso medicinal. Mas se você parar na porta e ficar observando, perceberá que provavelmente 70% ou 80% das pessoas que frequentam não vão usá-la para uso medicinal. São na maioria jovens que não é a população que tem indicação para esse tipo de tratamento. Há sem dúvida nenhuma um abuso e um uso corrupto da política de maconha medicinal. Há uns meses, a cidade de Los Angeles queria fechar todos esses estabelecimentos por causa de problemas. Não fecharam, voltaram atrás, e a situação continua mais ou menos como sempre. Os estabelecimentos também atraem a criminalidade, porque quando se compra maconha medicinal, se paga em dinheiro. Eles têm quantidade muito grande de dinheiro na mão ao final do dia e são alvos de assaltos. Tem que ter uma segurança muito grande, pois se não são roubados quase diariamente. Outro ponto é que existem reclamações constantes com a polícia da vizinhança desses estabelecimentos. Cria-se uma série de problemas secundários e ainda não se sabe muito bem como lidar com eles. Por causa da autonomia estatal americana, muitas coisas nos EUA, não só a política contra drogas, mas também política com relação à saúde e imigração, por exemplo, são extremamente fragmentadas porque o governo federal não consegue impor uma política uniforme, existe muita contradição no Congresso. É difícil às vezes o congresso passar leis para implantar uma política unificada. O governo federal se retrai, porque sabe que vai ser muito pouco popular implantar aquela política. E essa é uma característica que não existe em muitos outros países do mundo, pois em sua maioria são pequenos com população mais homogênea, ou em países grandes como o Brasil, o governo central historicamente tem tido um poder muito grande, assim como no resto da América Latina. Atualmente o uso de drogas nos EUA é relativamente estável. Existe uma preocupação que é o abuso de prescrição de drogas de opióides, como Vicodin e etc. Recentemente foi publicado um trabalho mostrando como o abuso de opióides tem aumentado em suicídios entre as mulheres. Existe uma preocupação também grande quanto às tropas americanas que estão voltando do Iraque e Afeganistão, em virtude de ferimentos de batalha onde eles recebem prescrição dessa droga e é muito fácil abusar. Então existe uma preocupação muito grande. O Instituto de Medicina da Academia Nacional de Ciências Americanas já organizou três ou quatro comitês para estudar o problema. Eu estou agora participando de um para examinar o problema de estresse pós-traumático e abuso de opióides. Esse é um problema que está recebendo bastante atenção da política, dos centros de tratamento e do povo americano também."
Posted on: Sat, 17 Aug 2013 22:53:27 +0000

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