Eric Belhassen foi bastante feliz em seu documentário de estreia. "Por Que Você Partiu" trata de chefes franceses que por vários motivos (gostar de viajar, se apaixonar aqui, ser convidado e gostar do país, ser mandado em "missão" pro Brasil), se "exilaram" aqui e não voltaram à terra natal. Não esperem, entretanto, um programa do GNT que ensine a fazer Foie Gras. O que interessa aqui são as histórias, as relações entre essas pessoas com elas mesmas e seus familiares (todos na França), o que elas têm a falar, tornando uma peça de muito conteúdo, sem ser cansativo pelo próprio conduzir equilibrado do documentarista, também um exilado que entrelaça os personagens com ele mesmo e seus pais, e o carisma dos entrevistados. Há nuances interessantes no documentário exatamente pela variedade de personalidades entre os chefs, e a reação de cada pessoa próxima que os "perderam". Emmanuel Bassolei, claramente a pessoa mais generosa (até demais), e meio melancólico, tem um pai que se amargura um pouco da partida mas entendeu que algumas coisas fez bastante errado, como não estimular o filho a trabalhar com o que gostava (muito embora Emmanuel atribua seu exílio ao sonho do pai); Erick Jacquin já é explosivo (e em alguns momentos divertidíssimo), vê o restaurante como "um circo" e tem uma mãe de jeito tão espontâneo quanto ("ele está gordo demais!" / "jamais daríamos certo na mesma cidade"), enquanto Laurent Suaudeau (cuja mãe é a que mais entendeu o processo, e talvez a que mais entenda o filho), introduz aspectos mais políticos e sociais no caldo, como a vida familiar afastada que os chefs tem por serem obrigatoriamente "workaholics", e o papel importante de formar pessoas com qualidade/talento sem ser algo elitista como a culinária hoje é. Relato a relato, vai se fazendo um panorama plural e bastante verdadeiro da culinária contemporânea (para além da simples receita de Foie Gras), da França, dos franceses, e, ponto em que o filme nos capta como espectadores, das problemáticas familiares que todas as casas, de uma maneira ou outra, têm, seja com o apoio total e o orgulho de ver filhos/pais bem, seja com a busca de liberdade não respeitada, seja com a incompreensão e o desejo de se provar ser alguém, seja com o a mágoa pelo desamor meio escancarada (como no último relato do filme). Isso tudo, importante dizer, muitas vezes mais captado pelas imagens e as entrelinhas da expressões/gestos do que pelas falas, o que mais uma vez prova bastante maturidade de direção. Me fez pensar, ao final e observando muitos relatos de "reencontros" dos chefes consigo mesmos aqui, em uma explicação de Arnaldo Antunes para todas as partidas além dessas, do rompimento de um namoro/amizade a saída de casa, da troca de um carro a saída de um emprego: "como toda gente tem que não ter cabimento para crescer".
Posted on: Fri, 16 Aug 2013 22:02:12 +0000
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