Esperança: espere... Sapato bico fino pé de baiano camiseta social calor tropical gravata alinhada pobre suburbano Eu andei! Andei de Pinheiros à República, do Embu à Itapecerica, avenidas, viadutos e ruas, andei até criar calos e até estes calos sangrarem, as pernas fraquejarem, o corpo ficar cansado molhado e desidratado pelo sol maltratado. Ah! O sol! Dá vida a este mundo e maltrata os moribundos. Ah! São Paulo! Terra da garoa, sol, tempestade, neblina e frio tudo junto. Como te conheço de você me alimento, a quem tanto odeio! Mas eu andei! Bati de porta em porta, apertei campainhas, subi elevadores, visitei buracos que não conhecia. Carregava dezenas dessas descrições que nada diziam sobre mim além de o empírico do empiríco A camisa já grudava nas costas e a postura já estava em descompostura no céu formavam nuvéns escuras minha sorte ia de pior à... indescritívelmente pior E então a selva de pedra foi regada me senti como a merda boiando na água. Que diabos de homem não consegue trazer o pão pra casa?! Em outros tempos não seria homem, eu seria piada. Eu cantava na chuva, apenas cantava na chuva, mesmo assim meus males não se espantavam Eu era a bosta no oceano lamentando por ser bosta um monte de estrume de carne que não seria noticiado se suicida-se, não faria falta, não seria história, nem relato, nem nenhum caralho. Eu olhava a papelada totalmente manchada e inutilizada, num desespero incontrolável cubri-a abaixo da roupa molhada corri pra debaixo de um toldo rasgado O cheiro veio me seduzir meu estômago roncou, rugiu, gritou! Meu bolso pensou na passagem Foda-se! Pulo a catraca não to nem ai! entrei ali, com 3 reais, olhei A vitrine como um cachorro já não era merda, mas um vira-lata! e entre as coxinhas e esfihas um placa dizia: "Precisa-se de balconista" Então um cara disse: "Do que você precisa?" "cês tão mesmo contratando?" "Pera ai, que eu vou chamar o gerente" e de repente o homem estava ao meu lado, ele me olhou eu parecia um gato escaldado já não era um cachorro era comedor de ratos, e disse de imediato: "Vem aqui comigo" Ele era direto "Oi, qual seu nome?" " Fulano da Silva Neto" "Tem expêriencia?" repondi irônico e depressivo: "Talvez de vida" sorriu e respondeu em seguida: "Tem um cúrriculo com você?" e eu disse: "Tenho, mas estão todos molhados, me desculpa." e pra minha surpresa: "Não é sua culpa, é a natureza, se chove é porque Deus quis." ele continuou: "Gostei de você, vem aqui amanhã fazer um teste." "Que horas? "as sete; e acaba as três pode ser?" "Sim." Apertou minha mão com força, meu pai sempre dizia, quem tem aperto de mão firme, é gente de honra, a favor da justiça e sem boiolice. sai de lá contente Eu cantava no metrô, apenas cantava no metrô lotado de gente, já não era mais gato era cigarra cantante querendo ser formiga.
Posted on: Fri, 30 Aug 2013 00:25:33 +0000
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