Eu amo o Paulo Brossard, por Ney Mario Brasil do Amaral Só me dei - TopicsExpress



          

Eu amo o Paulo Brossard, por Ney Mario Brasil do Amaral Só me dei conta disso há uns dias atrás, ouvindo Daniel Barenboim tocar Adios Nonino, num concerto de rua, em Buenos Aires, num final de tarde bem bonito. Para quem não conhece, Adios Nonino é um tango composto por Astor Piazzola, para o falecido pai, e Daniel Barenboim, um descendente de emigrantes russos judeus, nascido em 1942, na Argentina, de onde saiu, muito cedo, para ganhar o mundo como um dos grandes maestros da atualidade. Adios Nonino executado ao piano por Barenboim é a soma de duas genialidades que resulta no que há de mais erudito na música popular argentina. Comove às lágrimas. No entanto, quantos de nós teremos a oportunidade de identificar essas ilhas de genialidade no entulho cultural que verte como lava da rede de comunicação capilar do mundo contemporâneo? Poucos, certamente, porque a maioria quase absoluta das pessoas estará surfando as ondas do Big Brother Brasil e suas espumas cheias daquela banalidade e esperteza pós-colonial que em nada contribuem para pavimentar o caminho que nos levará a uma sociedade mais equilibrada e justa. Assim como a erudição, porém, outras coisas ainda mais estratégicas na estruturação de um povo respeitável vêm surfando ondas perigosas nesses últimos tempos. Valores morais, sobretudo. Acompanhamos coisas assombrosas passarem ao largo da cena política brasileira, como se estivéssemos em pleno Big Brother Brasil, tomando uma cervejinha gelada e comendo amendoim torrado. Coisas do arco-da-velha que eram para dar cadeia, no mínimo, mas que, acomodadas dentro desse saco de cultura capilar mediana, acabaram virando um combate patético entre os que respeitam as regras e aquele ladino esperto que, com sua ginga de malandro, acaba por levar a taça e, de quebra, o aplauso geral da audiência segundo os mais respeitáveis institutos de pesquisa. E é por isso que eu amo o Paulo Brossard, esse expoente da cultura maciça na sua mais pura essência, que inclui chapéu e guarda-chuva em dia de sol, incansável, que, com sua caneta gasta pelo uso abusivo do dia a dia, enfrenta, semanalmente, as hordas bárbaras que agridem os valores mais básicos da sociedade brasileira, mantendo vivo o ideal de um contingente de “partisans”, talvez pequeno ainda, mas decidido a não deixar a vaca ir para o brejo com tanta facilidade. Precisamos manter ativo esse dinossauro teimoso, forjado nos tempos em que os valores éticos eram tão importantes quanto o fio do bigode que ele cultiva com tanta elegância. Daniel Barenboim é um virtuoso genético. Nasceu com o dom. Poderia ter feito carreira sem saber ler ou escrever. Mesmo assim, deu-se ao trabalho de se fazer Doutor em Filosofia e Música pelas universidades de Jerusalém, Bruxelas, Oxford e Londres. O dom não se modificou, imagino, mas a relevância de Barenboim como uma celebridade que inspira os melhores valores para seus compatriotas cresceu de maneira exponencial, é só assistir a seu discurso. Cultura não faz mal a ninguém. Transparência, honestidade e coragem para dizer isso toda semana numa coluna de jornal, menos ainda. E é por isso que eu digo e repito sem nenhum constrangimento. Eu amo o Paulo Brossard, amo mesmo, do fundo do coração.
Posted on: Mon, 01 Jul 2013 01:35:44 +0000

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