Eu já fiz parte de dois dos três lados do problema do barulho: - TopicsExpress



          

Eu já fiz parte de dois dos três lados do problema do barulho: eu já contribuí com o barulho que irritou a vizinhança e já fui a vizinhança que ficou irritada com o barulho. A essa altura da vida, já posso dizer que não fui e nem serei policial. Fui parte do barulho, por exemplo, numa festa de república em março de 1991, no meu primeiro fim de semana como estudante da UEL. Ou foi no segundo? Bom, sei que foi numa república da rua Huamitá. A PM foi chamada e foi educada: ficaram no portão – repúblicas também são domicílio e a Constituição diz que entrar em domicílio, só com mandado e ainda assim, de dia (artigo 5º “XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial”). Mandaram desligar o som, que pelo que eu lembro, nem era tão potente quanto os que existem hoje. E foram obedecidos. Ficou assim. Festas em repúblicas são ótimas para estudantes: boas e baratas. Mas a galera tem que segurar o barulho. Como parte da vizinhança, me incomodei muito por conta de uma molecada sem noção – tanto de música quanto de educação – com seus sons no volume máximo ouvindo música de má qualidade, o tal sertanojo universitário. Mas tudo bem, mau gosto não é crime. Chamei a polícia. E que eu saiba, quando a polícia apareceu – raras vezes –, não houve abuso. Ninguém em são consciência pode ser contra a existência de uma força policial. Qualquer Estado, por mais democrática que seja uma sociedade, ela é a soma (em maior ou menor grau) de coerção + consenso, como diria Gramsci. Ou, como lembra Hannah Arendt, para que pudessem agir na polis, os gregos eram protegidos pelos muros. Ou seja, as sociedades democráticas precisam de um certo nível de “proteção”, que não ultrapasse a linha e que não signifique repressão pura e simples. Não fosse por isso, era só o crime organizado tomar conta de tudo. O problema brasileiro é que a elite vê o povo como um adversário, E nossa polícia militarizada, normalmente assume essa visão. Embora tenha sido muito usada na República Velha (1889 – 1930), a visão da questão social como caso de polícia segue firme no Brasil do Século XXI. Digo, segue viva para muita gente. O “adversário” são os pobres, os estudantes – no caso os universitários, que são vistos por alguns policiais como “privilegiados” – e são esses os principais alvos da violência policial, como mostram os noticiários. Os que sacam da manga o famoso “sabe com quem está falando”, esses sim privilegiados, não são vitimados. O país se democratizou, avançamos nos direitos individuais, a transparência virou obrigação para as excelências, membros do partido do governo são julgados e condenados por mal feitos – estou aguardando o julgamento dos membros dos partidos da oposição que também têm culpa em outros cartórios – e houve algum avanço social. Mas a polícia, ou melhor dizendo, parte dela, não se acostumou com a democracia. Muitos deles ainda veem o povo – os pobres, os que nadam contra a corrente, os movimentos sociais – como “inimigos” a serem combatidos. É claro que existem policiais que pensam diferente. Mas um exemplo corrente de certo tipo de mentalidade presente dentro da polícia é a infeliz declaração de um ex-comandante do Batalhão da PM em Londrina em maio de 2005, quando o carregador do Ceasa, Jamys Smith da Silva, foi espancado até a morte por causa do som alto numa festa na sua casa. Disse o então comandante que foi um “acidente de trabalho”. Felizmente ele foi demitido, mas o que ele deixa escapar é que quando o espancamento não resulta em morte é porque ocorreu a “normalidade”. Eu vou defender a Polícia como quando, numa visita recente do governador Beto Richa a Londrina, um deputado estadual quis bater um carteiraço no policial militar que fazia a escolta do governador. O motivo? O PM cumpriu a sua função ao avisar que a excelência estacionou seu carro irregularmente. Publiquei na coluna e saí em defesa do policial. O Brasil precisa de mais democracia. E isso passa por respeito tanto aos cidadãos, quanto aos policiais que cumprem corretamente o seu dever.
Posted on: Sun, 22 Sep 2013 23:20:14 +0000

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