Eu não fico feliz por ter passado esses anos mantendo Fukushima - TopicsExpress



          

Eu não fico feliz por ter passado esses anos mantendo Fukushima em pauta, ainda sob o risco de ser chamado de paranóico, como fazem aqueles que pautam seu fluxo de informação pela Veja, pelo JN e, quando muito, alguns outlets da MSM global, presos a compromissos editoriais e comerciais que os impedem de agir com a urgência e contundência necessária para alguns assuntos. Durante esses anos, fontes agregadoras de informações relevantes sobre a maior crise humanitária desde o surgirmento da indústria como o ENENEWS e o Fukushima Diary, nos mantiveram alarmados com o descaso do governo japonês, que nunca tomou as rédeas de um processo eficaz para reduzir o impacto global das emissões radioativas. Deixou a TEPCO agir de maneira irresponsável desde o primeiro dia, quando retardou a liberação de informações sobre o impacto do desastre. Existem complicadores. A TEPCO, apesar de ser uma empresa privada, tem como principal acionista a Cidade de Tóquio. Ou seja, em um país marcado pela corrupção corporativa, uma das maiores cidades do planeta Terra não pode correr o risco de perder receita proveniente de seus investimentos. Ainda que para isso, milhões tenham que morrer prematuramente, e outros milhões tenham que conviver com doenças e deformações provocadas pelo césio 137 e estrôncio 90. Também falamos ao longo desses dois anos sobre as questões levantadas por especialistas em energia nuclear que consideraram no mínimo irresponsável o modelo de armazenamento de varetas de combustível usadas, colocadas em local inadequado e vulnerável em caso de acidentes, como o que ocorreu. Acontece que esse armazenamento irregular é norma global em todas as nações que usam o subproduto da geração de energia para aumentar seus estoques de plutônio em nível de pureza suficiente para a fabricação de armas nucleares. É assim na Índia. É assim no Paquistão. É assim na Africa do Sul. É assim em Israel. É assim na Coréia do Norte. É assim na Coréia do Sul. É assim na Inglaterra. É assim na França. É assim na China. É assim nos EUA. É assim na Rússia. É assim no Brasil (sim, fazemos parte do clubinho). São 12 nações com projeto nuclear bélico ativo. 9 delas com capacidade de lançamento imediato, seja via mísseis balísticos, seja via peças de artilharia, seja com mísseis de cruzeiro em submarinos. E percebam que não mencionei os detentores de armas nucleares que não são estados nacionais, como algumas casas de guerra irregular, com seus nomes de fantasia palatáveis para a mídia, que precisa identificar inimigos, vilões, como se a dinâmica do poder global emulasse a lógica dos quadrinhos de super heróis e filmes de ação… Temos de armas nucleares táticas a bombas sujas em mãos "descontroladas", sendo o "proprietário da chave da morte" mais famoso o IS, serviço secreto paquistanês, praticamente um governo paralelo dentro do país. A diferença é que o Japão é, ingenuamente, considerado como não participante do clube nuclear fora do mundo dos analistas geopolíticos e interessados em distribuição do poder global. A eleição de Abe só evidenciou o road map da direta japonesa, e o único caminho possível para retomar o protagonismo econômico global. Estão em uma escalada armamentista desde 2005, muito semelhante aquela que antecedeu a Segunda Guerra Mundial. Do ponto de vista do cidadão comum, a maior preocupação é quanto a cadeia alimentar. Uma parte importante do alimento que frequenta as mesas brasileiras sofre influência das águas do Oceano Pacífico (Mar Amarelo) e Oceano Indico. Não apenas peixes e frutos do mar, mas a circulação atmosférica e a formação de precipitações leva a contaminação para lugares que produzem alimentos que influenciam no cotidiano do brasileiro comum. "Nosso" feijão é importado de regiões que estiveram sob a influência da contaminação radioativa durante 2 anos e meio. "Nosso" arroz é importado de regiões que estiveram sob a influência da contaminação radioativa durante 2 anos e meio. "Nossa" banana é importada de regiões que estiveram sob a influência da contaminação radioativa durante 2 anos e meio. Não, os fazendeiros não vão criar protocolos para nos avisar sobre o nível de radiação que estamos consumindo. Tampouco os distribuidores farão recall desses produtos para respeitar sua saúde e de seus descendentes. Morra. Ou seja, a distância geográfica de Fukushima para o Brasil não torna nossa saúde menos vulnerável. É preciso pensar em alimentação alternativa. Em substituição da base alimentar para produtos locais. O problema é que os produtos locais ou são muito mais caros ou possuem uma qualidade péssima e baixo rendimento. E o povão não tem bala na agulha para comprar orgânicos. Quanto aos peixes e frutos do mar provenientes do Pacífico (o peixe mais consumido no Brasil, o pollock, vem Pacifico Norte, a maior parte deles pescados no Japão) evitar o consumo é o melhor caminho. São dois anos e meio jogando 400 toneladas de água radiotiva diariamente no oceano, sem qualquer espécie de tratamento. Tem gente brincando de Homer Simpson no Japão. Se pararem de usar água para resfriar as varetas de combustível, elas entrarão em estado crítico. Ao contrário de Chernobyl, onde o sarcófago de concreto isolou a maior parte da radiação e ainda assim toda a população foi evacuada, em Fukushima é impossível fazer o mesmo, seja pela localização litorânea, seja pela extensão da catástrofe. Quando o único reator de Chernobyl teve problemas, funcionava a 7% de sua capacidade. Quando os três reatores de Fukushima entraram em meltdown, a usina operava a 100%, uma vez que a TEPCO não a desligou depois do terremoto, como previa o protocolo. A TEPCO manteve a usina funcionando em plena carga, mesmo com os sistemas de resfriamento danificados pela série de abalos sísmicos. Quando o tsunami chegou, completou o estrago. E tome estrôncio 90 e césio 137 em quantidades jamais sonhadas pelo pior escritor de ficção científica. Adeus ossos. Adeus tecidos moles. Já vimos esse filme em Goiás e na Rússia. Agora, o mesmo cenário, multiplicado em escala global. O que nós temos com isso? Como já disse, uma questão primordial é a da saúde pública. Não podemos ingerir produtos contaminados que nos causarão sequelas irreversíveis a curto, médio e longo prazo. Quanto a contaminação oceânica, pouco ou nada poderá ser feito com a tecnologia atual. E como eu não rezo, só me resta invocar a inteligência coletiva em busca de soluções para novos cenários de natureza semelhante, inclusive com nossas usinas nucleares. Precisamos de energia barata? Sim. Mas acho que é hora de aprendermos, como coletividade, a lidar com os problemas de sua geração e distribuição.
Posted on: Wed, 07 Aug 2013 22:25:41 +0000

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