ExercÃcio tucano de tapar o sol com a peneira Publicado em 23-Ago-2013 (artigo publicado no Blog do Noblat em 23.08.2013) Desde que ganhou as páginas dos jornais o escândalo do cartel que atuou em licitações da área de transporte no Estado de São Paulo, a estratégia dos tucanos — que comandam o governo paulista há 20 anos — tem sido negar seu envolvimento e atribuir caráter polÃtico à s acusações. Mas os fatos têm desmoralizado rapidamente tais respostas, que só revelam o desespero que toma conta do PSDB. Os tucanos querem que o Brasil acredite que eles não têm nada a ver com o cartel denunciado pela multinacional Siemens, apesar de o denunciante ter muita credibilidade (a Siemens admitiu que ela própria fez parte do esquema) e afirmar que as fraudes nas licitações de trens e metrô em São Paulo começaram no governo de Mario Covas, prosseguido nas gestões de Geraldo Alckmin e José Serra. A pior tentativa de tapar o sol com a peneira partiu do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Ele disse que “não apareceu o PSDB recebendo dinheiro†e que “pode ter havido corrupção, mas aà é pessoalâ€. Poucos dias depois, foi contraditado pela reportagem “Todos os homens do propinoduto tucanoâ€, da revista “IstoÉâ€. A reportagem mostrou que há envolvimento direto, sim, de tucanos e de pessoas da confiança de Serra e Alckmin no esquema. Cinco autoridades que ocupavam cargos importantes na administração paulista atendiam, ao mesmo tempo, “os interesses das empresas do cartel na área de transporte sobre trilhos e à s conveniências polÃticas de seus chefesâ€, revela a reportagem. Esses cinco, que segundo a revista agiam sob o comando de José Luiz Portella (secretário de Serra) e Jurandir Fernandes (de Alckmin), “forneciam informações privilegiadas, direcionavam licitações ou faziam vista grossa para prejuÃzos milionários ao erário paulista em contratos superfaturados firmados pelo metrôâ€. Somente no mundo de fantasia em que vivem algumas lideranças tucanas isso não evidencia uma relação direta do PSDB com o esquema. Outros tucanos adotaram discursos ainda mais equivocados. Em um lance risÃvel, Alckmin anunciou que o governo de São Paulo entraria com uma ação na Justiça contra a Siemens, exigindo que a denunciante do esquema devolvesse o valor do prejuÃzo que o sobrepreço nas concorrências causou aos cofres públicos. O tucano agiu de forma cÃnica, como se as autoridades que estiveram à frente do Estado durante todo o perÃodo de atuação do cartel —de 1998 a 2008— pudessem se comportar como meras vÃtimas passivas do esquema de corrupção. O ex-governador José Serra tentou desviar o escândalo para outras paragens. “O principal cliente dela [Siemens] é o governo federal. O importante é que se investigue tudo, se puna os culpados eventuais e se devolva para o Estado —não só o de São Paulo, o brasileiro, todos— o fruto de malfeitos, se eles tiverem acontecidoâ€, disse Serra. No inÃcio do mês, o secretário-chefe da Casa Civil do governo de São Paulo, Edson Aparecido, havia dito que o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que investiga a formação de cartel, estava atuando como um “instrumento de polÃcia polÃtica†para prejudicar o PSDB. O presidente do Cade, Vinicius Marques de Carvalho, deixou claro que a investigação não começou por iniciativa do órgão, subordinado ao Ministério da Justiça, e sim porque a Siemens resolveu apresentar a denúncia. “Eu não posso aceitar esse tipo de acusação de politização quando uma empresa vem ao Cade e faz uma denúncia e pede para fazer um acordo de leniência. Não fomos nós, não foi o Cade, não foi a Superintendência ou Ministério da Justiça que procurou a empresa. A empresa que procurou o Cadeâ€, disse Carvalho. O único aspecto polÃtico que tem sido observado nesse episódio é a timidez com que ele foi ganhando espaço na mÃdia —uma lentidão que não costuma ocorrer quando a suspeita paira sobre alguém filiado a outro partido, especialmente ao PT. Com raras exceções, os jornais impressos, as revistas e os telejornais só noticiaram as acusações quando não tinham outra alternativa: manter o muro de silêncio que sempre protegeu o PSDB seria um vexame grande demais. Mesmo assim, a chamada grande mÃdia fez de tudo para registrar o escândalo como um inédito caso de corrupção em que só se conhece o corruptor, mas não os corruptos. As respostas apresentadas até agora pelos tucanos —negativas não convincentes e tentativas de desviar o foco da investigação— mostram que eles não têm o que responder. Bastou que uma revista rompesse o muro de silêncio que sempre favoreceu o PSDB para que os tucanos entrassem em desespero. Afinal, foram colocados em uma posição com a qual não estão acostumados e da qual não podem fugir: dar esclarecimento sobre seus atos.
Posted on: Fri, 23 Aug 2013 21:11:33 +0000
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