Explicações __________ Eu não sei por quanto tempo eu ainda escreverei aqui. E tinha tanto ainda a contar. Que quem já esteve muito perto da morte sabe da necessidade de declarar o amor a todo momento, e com tal intensidade, sem quedar em dúvidas. Que se você for homem, precisa aprender a dançar, para aprender como conduzir e permitir, a ela, se entregar. Ou para entender que sem a sua presença garantida em seu olhar, ela não terá motivos para se movimentar e encantar. Para entender, também, o quanto isso que eu digo, aparentemente conservador, irracional ou banal, é fundamental e libertador. Haverá tempo de eu contar? Que sem jantares românticos, com cortejos e escutas atentas e de ambos, em tempos além de relógios e culpas e pesos, todo e qualquer amor se esvai. Que sem consentimentos de alma não há como alçar voos. Que despedidas abruptas são sempre danosas falhas. E que despedidas, mesmo delicadas, são sempre abruptas e cruas. Mesmo as calmas. Que tudo passa com uma rapidez avançada. E sem saber ou desejar, o que importa é erroneamente percebido como simples detalhe. E cala. E se você consente, de vez emudece. E falta. Que uma única palavra pode reverter realidades complexas. Que um único gesto pode afugentar fantasmas perversos. E que há esquinas, que se atravessadas, impossibilitam tais mágicas: mãos enfiadas na cartola, esperas em olhares, e voilá: eis o nada. A esperança foi-se embora. Haverá tempo de eu contar? Que quando eu tinha dez anos era uma menina linda, por saber que era pianista, por acreditar que podia, e que ninguém se atreveria a ceifar meus dedos. E por intuir que eu seria a minha melhor companhia. Haverá tempo. De contar. In "Memorial de Lilia".
Posted on: Sat, 22 Jun 2013 22:09:17 +0000
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