Extintos há dezenas de milhões de anos, os dinossauros habitam o - TopicsExpress



          

Extintos há dezenas de milhões de anos, os dinossauros habitam o imaginário popular como monstruosos répteis que passavam a vida caçando ou sendo caçados em um mundo violento. O próprio nome coletivo destes animais, cunhado em 1842 pelo paleontólogo inglês Richard Owen, deriva das palavras gregas deinos (terríveis, poderosos) e sauros (lagartos), reforçando esta imagem. Mas esta visão clássica dos dinossauros estaria completamente errada, afirmam o paleontólogo Darren Naish, da Universidade de Southampton, no Reino Unido, e os paleoartistas Cevdet Mehmet Kosemen e John Conway, autores do livro “All yesterdays” (“Todos os ontens”, em uma tradução livre), em que propõem uma reformulação na maneira de retratar como eles se pareciam e comportavam. Segundo Kosemen, os erros das representações clássicas dos dinossauros surgem tanto por não levarem em conta nuances nas últimas descobertas da ciência sobre eles — como que tinham sangue quente e por vezes eram recobertos de penas — quanto por ignorar que teriam outras características biológicas comuns dos animais, como a presença de tecidos moles como gordura e cartilagem, não preservados nos registros fósseis nos quais elas se baseiam. — Nas últimas décadas, vimos uma renascença dos dinossauros, em que novas descobertas afastaram a imagem obsoleta de grandes e lentos répteis, e trouxeram a de que eram animais muito ativos, de sangue quente, com uma anatomia mais parecida com a dos pássaros atuais — conta Kosemen. — Isso foi bom, mas daí surgiu outro problema: eles começaram a ser desenhados e apresentados tanto no contexto cultural quanto científico como esqueletos ambulantes que ignoram a musculatura, gordura corporal e outras características biológicas básicas. Eles continuaram sem parecer com animais reais, permanecendo idealizados. Diante disso, Kosemen e Conway, artistas profissionais e amigos de longa data, decidiram recomeçar praticamente do zero. Eles esboçaram alguns conceitos e os levaram a conferências internacionais de paleontologia, atraindo a atenção dos cientistas. Motivados pela repercussão de seu trabalho, resolveram então reuni-lo no livro, para o qual buscaram a consultoria do também amigo Naish. — Estávamos presos entre duas ortodoxias. De um lado, alguns artistas continuam com a imagem obsoleta de répteis gigantes, enquanto outros exageram na visão deles como pássaros — lembra Kosemen. — Já a indústria cultural, com seus filmes e livros, ficou parada, temendo que os dinossauros como pássaros não fossem assustadores o bastante para o público. Por muito tempo os dinossauros viveram na cabeça das pessoas ocupando nichos de dragões e outras criaturas míticas, como se fossem animais fantásticos que viveram em outro tempo e outro mundo, e queríamos mudar tudo isso, mostrar que eles eram reais e deixaram seus esqueletos para serem estudados. Mas não foi só a imagem em si dos dinossauros que incomodava Kosemen e Conway. Ambos também procuraram mudar o contexto em que ela é apresentada para além de um mundo dividido entre temíveis predadores carnívoros e pacíficas presas herbívoras. — Estávamos cansados dos dinossauros vistos como monstros de cinema, que não fazem nada além de caçar e matar. Isso também não é nada realista — diz. — Mesmo os maiores predadores de hoje, os leões, tigres e ursos, não caçam e comem a toda hora. Por isso decidimos mostrar,um Tiranossauro rex dormindo. Essa é uma imagem muito mais poderosa que algo correndo sem parar como um maníaco. O outro lado dos animais atuais Para mostrar como a imagem clássica dos dinossauros estaria errada, os autores de “All yesterdays” resolveram encarnar artistas de um futuro distante. Em um capítulo extra, eles desenharam animais atuais usando os mesmos critérios utilizados para retratar os pré-históricos. E os resultados foram assustadores. — Esta foi a parte mais divertida de fazer no livro — diz Cevdet Mehmet Kosemen. — Cometemos os erros de propósito, sabendo que eram erros, para deixar claro o caráter caricato da imagem que temos da aparência e do comportamento dos dinossauros. Mas mesmo propondo uma reformulação na arte de retratar animais há muito tempo extintos, Kosemen admite que as imagens apresentadas no livro podem ser tão errôneas quanto às que criticam. Segundo ele, a especulação sempre será um ingrediente fundamental do trabalho dos paleoartistas, pois algumas características destes animais nunca serão conhecidas. — Tudo que temos para trabalhar são ossos e diagramas de esqueletos. Temos muito pouco com que começar, então somos obrigados a especular muito — reconhece. — Mas o que também conseguimos com o livro foi demonstrar que a especulação é muito mais importante e necessária do que pensávamos, desde que usada de forma cautelosa e baseada em conhecimento científico. Temos que ter consciência que estamos preenchendo lacunas e não desenhando algo totalmente fiel à sua aparência. Mas também temos que reconhecer que algumas coisas nunca saberemos.
Posted on: Tue, 20 Aug 2013 20:39:04 +0000

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