FORTALEZA DIGITAL, Livro de Ficção (?) do Dan Brown, Capítulo - TopicsExpress



          

FORTALEZA DIGITAL, Livro de Ficção (?) do Dan Brown, Capítulo 4, Publicado em 1998 - Sobre Espionagem de E-mails... ***************************************************** O TRANSLTR, como todos os grandes avanços tecnológicos, era produto da necessidade. Durante os anos 1980, a NSA presenciou uma revolução nas telecomunicações que mudaria o mundo da espionagem para sempre: o acesso público à Internet. Mais especificamente, a chegada do e-mail. Criminosos, terroristas e espiões, fartos de ter que lidar com linhas telefônicas grampeadas, voltaram-se imediatamente para essa nova forma de comunicação global. O e-mail combinava a segurança do correio convencional com a velocidade do telefone. Como as transferências eram feitas através de cabos de fibra óptica e nunca transmitidas por ondas de rádio, era impossível interceptar e-mails — ou, ao menos, era o que parecia. Na verdade, interceptar e-mails enquanto eles viajavam pela Internet era trivial para os tecno-gurus do NSA. A Internet não era uma nova revelação originada dos computadores pessoais, como muitos acreditavam. Havia sido criada pelo Departamento de Defesa dos EUA três décadas antes — uma gigantesca rede de computadores projetada para assegurar as comunicações do governo em caso de uma guerra nuclear. Os olhos e ouvidos da NSA eram profissionais veteranos da Internet. Aqueles que estavam conduzindo negócios ilícitos através de e-mails rapidamente descobriram que seus segredos não eram tão secretos assim. Órgãos do governo americano, como o FBI, a DEA (Drug Enforcement Administration) e outros, auxiliados pela hábil equipe de hackers da NSA, tiraram proveito disso para realizar uma leva de prisões e condenações muito útil. É claro que, tão logo os usuários de computadores ao redor do mundo descobriram que o governo americano tinha livre acesso a suas comunicações por e-mail, houve uma onda de protestos. Até mesmo amigos que usavam e-mail apenas para correspondências pessoais acharam a falta de privacidade perturbadora. Por todo o planeta, programadores independentes se lançaram à tarefa de tornar os e-mails mais seguros. Rapidamente encontraram uma forma de fazê-lo, e foi assim que nasceu a codificação por chave pública. A codificação por chave pública era um conceito ao mesmo tempo simples e brilhante. Consistia no uso de um programa simples, para computadores pessoais, que alterava as mensagens de e-mail de tal forma que estas se tornavam impossíveis de ler. Os usuários passaram a poder escrever suas mensagens e codificá-las usando um programa desse tipo. O texto resultante parecia um bloco de caracteres aleatórios e sem sentido: um código. Qualquer um que interceptasse a mensagem iria ver apenas lixo em sua tela. A única maneira de decifrar o código era digitar a senha do remetente — uma série secreta de caracteres que funcionava basicamente como a senha de um cartão de crédito. Geralmente, as senhas eram longas e complexas e transportavam as informações para transmitir ao algo ritmo de decodificação as operações matemáticas necessárias para recriar a mensagem original. Os usuários desses programas voltaram a poder, então, enviar e-mails com total confiança. Mesmo se a transmissão fosse interceptada, apenas aqueles que tivessem a chave poderiam decifrá-la. A NSA sentiu o peso dessa nova forma de criptografia imediatamente. Os códigos com os quais se deparava não eram mais simples cifras de substituição que podiam ser decifradas com lápis e papel quadriculado. Eram agora funções de hash geradas por computadores que usavam a teoria do caos e múltiplos conjuntos de símbolos para codificar as mensagens de forma que parecessem absolutamente aleatórias. No início, as chaves geradas eram pequenas o suficiente para que os computadores da NSA fossem capazes de decifrá-las. Se a chave desejada tivesse dez dígitos, um computador era programado para testar todas as possibilidades entre 0000000000 e 9999999999. Mais cedo ou mais tarde, o computador iria encontrar a sequência correta. Esse método de tentativa e erro era conhecido como “ataque de força bruta”. Era demorado, mas também matematicamente garantido que iria funcionar. A medida que o mundo foi compreendendo o poder da abordagem por força bruta para a quebra de códigos, as chaves foram se tornando cada vez maiores. O tempo necessário para que os computadores descobrissem a chave correta passou de semanas para meses e, finalmente, para anos. Na década de 1990, as chaves já tinham mais de 50 caracteres e empregavam todos os 256 caracteres do código ASCII usado pelos computadores pessoais letras, números e símbolos. O número de possíveis combinações para uma chave era próximo de 10120 — ou seja, 1 com 120 zeros depois. Adivinhar uma chave de tamanha complexidade era mais ou menos tão improvável quanto escolher o grão de areia correto em uma praia de cinco quilômetros. Estimavase que, para obter sucesso na descoberta de uma chave-padrão de 64 bits usando um ataque de força bruta, o supercomputador mais poderoso da NSA levaria 19 anos. Quando o computador finalmente conseguisse encontrar a chave e quebrar o código, o conteúdo da mensagem certamente já seria irrelevante. Paralisada em um vazio virtual de inteligência, a NSA traçou uma diretriz ultrassecreta que foi endossada pelo presidente dos Estados Unidos. Munida de financiamento governamental e com carta-branca para fazer o que fosse preciso para resolver o problema, a NSA decidiu construir algo considerado impossível: a primeira máquina do planeta capaz de decifrar qualquer código. Apesar de muitos engenheiros considerarem a proposta de criação do novo computador inviável, a NSA persistia em seu lema: “Tudo é possível. O impossível apenas demora mais.” Cinco anos, 500 mil homens-horas e 1,9 bilhão de dólares depois, a NSA provou mais uma vez do que era capaz. O último dos três milhões de microprocessadores, cada um do tamanho de um selo postal, foi soldado em seu lugar, a programação interna do computador foi finalizada e o revestimento de cerâmica, fechado. O TRANSLTR havia nascido. Ainda que os segredos do funcionamento interno do TRANSLTR fosse produto de muitas mentes e não houvesse um único indivíduo que compreendesse todos esses segredos simultaneamente, seu princípio básico era simples: muitas mãos tornam o trabalho mais leve. Seus três milhões de processadores iriam trabalhar em paralelo, executando cálculos a uma velocidade impressionante, experimentando cada uma das permutações possíveis no processo. A esperança era de que mesmo códigos que possuíssem chaves fabulosamente grandes não estariam a salvo da tenacidade do TRANSLTR. Essa obra-prima de quase dois bilhões de dólares usaria o poder do processamento paralelo, assim como alguns avanços altamente secretos em análise de mensagens claras, para descobrir chaves e códigos de quebra. Seu poder viria não apenas do número colossal de processadores, mas também dos avanços obtidos em computação quântica, uma tecnologia em desenvolvimento que permitia que a informação fosse armazenada como estados quânticos em nível atômico, em vez de meros dados binários. O momento da verdade veio em uma manhã tempestuosa de outubro. O primeiro teste real. Apesar das dúvidas quanto à velocidade final da máquina, os engenheiros concordavam quanto a uma coisa: se todos os processadores funcionassem em paralelo corretamente, o TRANSLTR seria um computador poderoso. A questão era saber o quão poderoso ele seria. A resposta chegou 12 minutos mais tarde. Em silêncio, admirados, os poucos privilegiados que estavam presentes observaram quando o computador mostrou o resultado: a mensagem clara, o código decifrado. O TRANSLTR havia descoberto uma chave de 64 caracteres em pouco mais de 10 minutos, cerca de um milhão de vezes mais rápido do que as duas décadas que o segundo computador mais veloz da NSA teria levado. Conduzido pelo vice-diretor de operações, comandante Trevor J. Strathmore, o Departamento de Produção da NSA havia triunfado. O TRANSLTR era um sucesso e, para manter esse sucesso absolutamente secreto, o comandante Strathmore deixou vazar prontamente informações de que o projeto havia sido um fracasso total. Todas as atividades na Criptografia eram, supostamente, uma tentativa de salvar o fiasco de dois bilhões de dólares. Apenas a elite da NSA conhecia a verdade: o TRANSLTR estava funcionando a pleno vapor, quebrando centenas de códigos todos os dias. Com a divulgação de que nem mesmo a todo-poderosa NSA era capaz de decodificar as mensagens encriptadas pelos computadores, os segredos começaram a ser revelados. Chefões do mundo das drogas, terroristas e criminosos em geral, preocupados com a possibilidade de interceptação de suas transmissões por celular, voltaram-se para o fantástico mundo dos e-mails codificados a fim de se comunicarem instantaneamente através do planeta. Nunca mais teriam que encarar um júri no tribunal e ouvir suas vozes saindo de uma fita, prova de alguma ligação por celular há muito esquecida, mas captada por um dos satélites da NSA. O trabalho de inteligência nunca foi tão fácil. Os códigos interceptados pela NSA entravam no TRANSLTR como cifras absolutamente ilegíveis e saíam, minutos depois, como mensagens perfeitamente claras. Não havia mais segredos. Para tornar o mistério em torno de sua incompetência completo, a NSA mantinha um forte lobby contra qualquer novo programa de computador para encriptação de dados, insistindo que isso atrapalharia seu trabalho e tornaria impossível que os agentes da lei perseguissem e prendessem os criminosos. Os grupos de direitos civis ficaram felizes, defendendo que, de qualquer forma, a NSA não deveria estar lendo os e-mails das pessoas. Programas de encriptação continuavam a ser criados e vendidos. A NSA havia perdido a batalha, exatamente como havia sido planejado. Toda a comunidade eletrônica mundial fora enganada... Ao menos, era o que parecia.
Posted on: Tue, 09 Jul 2013 18:17:20 +0000

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