Flavia Galloulckydio Últimos momentos da ocupação Flavia - TopicsExpress



          

Flavia Galloulckydio Últimos momentos da ocupação Flavia Galloulckydio ÚLTIMOS MOMENTOS DA OCUPAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO NA CÂMARA DOS VEREADORES Hesitei um pouco antes de relatar o que vivenciei nos últimos momentos da ocupação dos profissionais da educação na câmara dos vereadores. Achei que poderia não conseguir transmitir através das singelas linhas deste texto emoções tão únicas, tão fortes e tão minhas. No fatídico sábado, começamos o dia lendo notícias a respeito do nosso movimento. O clima estava agradável e a harmonia era visível. Estávamos todos cansados, mas felizes pela certeza do valor de nossa luta. Recebemos a visita de vereadores que apoiam nosso movimento e do Dr. Modesto da Silveira, que nos proporcionou uma aula de cidadania. Continuávamos alegres e de certa forma seguros, porque contávamos com a presença e apoio dos companheiros do lado de fora que cantavam, falavam palavras de ordem e nos faziam doações, que garantiram nossa permanência na clausura. Mal sabíamos o que nos esperava... Cerca de 20h, chegou uma notícia de que a polícia tinha recebido uma ordem para que desocupássemos o local. Prontamente, a direção do SEPE perguntou se havia algum mandado da justiça. O comandante da polícia disse que não. Afirmou simplesmente que a ordem partia do governador Sérgio Cabral , a pedido do presidente da casa Jorge Felipe e, paralelamente, do prefeito Eduardo Paes. A medida era ilegal, afinal, não havia nenhum mandado da justiça; mas, mesmo assim, ficamos alerta. As negociações continuavam e nos pautávamos na ausência de documentos que legitimassem a ação. À medida que o tempo passava, mais policiais se posicionavam do lado de fora. Temíamos pela nossa segurança e pela segurança dos companheiros em vigília. Quando vimos que os policiais já estavam do lado de dentro do prédio, na frente da porta de acesso principal da plenária, um grupo composto só de mulheres, no qual eu me encontrava, resolveu dar os braços e se posicionar na frente da porta, a fim de minimamente tentar proteger os outros companheiros e demonstrar nossa incapacidade de confronto. Nunca me esquecerei desta cena.... Olhei para o lado e, quando vi minhas companheiras, compreendi totalmente o sentido da palavra IGUALDADE. Éramos três professoras, uma secretária escolar, uma agente auxiliar de creche e, se não me engano, duas ou uma merendeira. Alguém começou a cantar “o povo unido é povo forte, não teme a luta, não teme a morte”... Prontamente as mulheres da direção fizeram um cordão na nossa frente e acompanharam o movimento. Além delas, vereadores que nos apoiavam, Reimond e Jeferson Moura, também tomaram a dianteira. Neste momento, olhei para a Florinda que trazia, como já Ilhe é peculiar, flores nas mãos, demonstrando nossa cordialidade. Em seguida, reparei que vários profissionais começaram a se posicionar da mesma forma à espera da ação policial. Foi quando, no auge da tensão, alguém resolveu cantar e bater os pés. Começamos a seguir o ritmo. De repente a porta se abriu e, com ela, começaram momentos de verdadeiro terror. Os vereadores foram retirados à força e, em seguida, o Prof. Gustavo, que teve de se posicionar junto à direção, pois tentava acompanhar os movimentos da polícia por um vidro, foi arrancado de nós, sem nenhuma justificativa, e agredido terrivelmente com um choque elétrico. Ele perdeu os sentidos na mesma hora. Nos desesperamos. . Vi as flores sendo arrancadas das mãos da professora. Enquanto isso, a polícia nos atacava pelas costas, invadindo o outro lado da plenária e aterrorizando senhoras de idade, deficientes físicos, homens e mulheres com barulhos de choque, empurrões, agressões físicas ... Lembro-me que eu gritava “Os companheiros do outro lado!” E alguém me respondia “Não podemos sair daqui!” Os cães de Cabral e Eduardo Paes continuavam agindo. O medo e desespero tomaram conta de nós diante da truculência da polícia. Reparei que eles arrancavam com muita violência os homens mais altos que estavam presentes. Nós, mulheres, continuamos em vão de braços dados e fomos também arrancadas da plenária. Neste momento, reparei que, atrás de mim, dois policiais seguravam a professora Ana Carolina violentamente no alto e a arrastavam para a escada. Vendo o desespero transformado em lágrimas e gritos da amiga, resolvi tentar ajudá-la. Foi quando eu me dirigi a eles e gritei “ Larga ela! Ela é professora! Não precisa disso! Olha pra gente! Não somos violentos!” Peguei no braço dela e eles a soltaram. Fomos sendo todos empurrados escada abaixo, como se fôssemos marginais de alta periculosidade. Meu grupo foi um dos primeiros a chegar no corredor com acesso à rua e verificamos que a violência e o caos também aconteciam com os companheiros do lado de fora. Eram bombas, gás, um verdadeiro terror... Ficamos sufocados. Policiais adentravam o corredor para se refugiar dos efeitos das bombas que eles mesmos usaram. Rapidamente, outros grupos iam chegando e, com eles, a certeza da ausência de amigos. Gritávamos os nomes dos desaparecidos, que eram majoritariamente homens. Começamos a ser arrancados para a rua e, no meio da confusão, alguns policiais já estavam nos empurrando com menos força, pois já haviam percebido a nossa fragilidade. Foi quando o oficial responsável resolveu intervir para mostrar com se faz. Já no final do corredor, consegui achar e puxar o amigo Bruno que também resgatou o querido Hugo para a saída. Tonta, vi, no meio da multidão, com os olhos vermelhos de tanta bomba de gás os valentes Marcela (minha irmã), Marcio (meu marido) e os companheiros Bentolila e Douglas. Sabia que com eles estaria segura. Tive a sorte de não sofrer agressões físicas mais severas, mas, apesar disso sinto uma enorme dor na alma. Não esperava uma ação tão truculenta, afinal, o que poderíamos fazer diante da força? Somos profissionais da educação! Nossa marca é a cordialidade, a harmonia, a união, a coerência e eles sabem disso. Só então compreendi nossa periculosidade: pensamos, somos críticos, somos organizados, unidos, refletimos e não cruzamos os braços diante da ditadura de Paes e Cabral. Isso é muito perigoso! Obrigada aos valentes companheiros que estavam do lado de dentro e de fora da ocupação! Ps. Toda a minha solidariedade aos companheiros Gustavo e Ércio que foram agredidos ferozmente e presos sem justificativa e que tive o prazer de conviver.
Posted on: Mon, 30 Sep 2013 01:22:41 +0000

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