Flavio Arruda Tenho acompanhado, como todo brasileiro e - TopicsExpress



          

Flavio Arruda Tenho acompanhado, como todo brasileiro e principalmente por ser médico, o repetitivo debate sobre a situação da Saúde Pública no Brasil. A única unanimidade é que vivemos um caos e não só na Saúde. Educação e Segurança, para ficar nos parâmetros mais óbvios, vivem semelhante descalabro. As opiniões, determinação de culpados e sugestões de melhoria variam de acordo com o posicionamento ideológico, interesses pessoais ou de classes, ignorância das causas e um simplismo que chega a ser cômico, se não fosse trágico. Antes de mais nada declaro minha posição em relação à política. Não sou eleitor do PT e provavelmente jamais o serei. A admiração, se um dia existiu, por acreditar que era o único partido com unidade ideológica e que pregava a moralidade, o combate aos corruptos e “entregadores da Pátria”, há muito afundou no mar de lama que se implantou com o (des)governo do referido partido. Contudo, ainda que raros, penso que há os idealistas, só que eles não mais influenciam mais em nada. Penso até que a situação da Educação seja mais grave pois um povo, quanto mais educado (e não semi-alfabetizado), pode usufruir melhor os benefícios das políticas de saúde, cidadania, etc, que possibilitaria a melhor escolha dos seus dirigentes e a consciência de poder lutar por seus direitos. Penso porém que as classes dominantes não querem um povo educado, politizado, pois temem reivindicações de direitos que não seriam caladas com bolsas com qualquer denominação. É o cabresto político. Quanto à importação de médicos, seja de Cuba, Portugal, Espanha ou de Marte, é evidente o discurso populista e o desejo de conquistar a simpatia da imensa população desassistida. Posso falar com certa experiência pois, durante 14 anos, exerci minha profissão no extremo da Amazônia, em condições precárias tendo necessidade de, muitas vezes, dar assistência às tribos indígenas. Essa assistência não poderia ser considerada como médica, mas simplesmente paliativa, fugaz (era itinerante) e com prescrições baseadas na prática corpo-a-corpo, sem nenhum apoio logístico. Ainda assim as comunidades ansiavam pela chegada do doutor. Vivi a realidade que, hoje até mais atenuada, me fez, embora pediatra, fazer partos, atender pacientes cirúrgicos, exercer a medicina tropical na área de maior incidência de malária do mundo, por um salário que era levemente inferior ao que eu auferia em Belém, em Hospital Militar. Constatei ao vivo que, para melhorar a situação da saúde da comunidade, não bastava a presença do médico. O que eu fazia, uma enfermeira treinada poderia fazer igualmente. Não adiantava fixar um médico em uma cidade da fronteira com a Bolívia, onde vivi, sem um mínimo de estrutura de apoio: leitos,laboratório de análise que pudesse realizar um simples hemograma, sumário de urina, glicemia, ex. de fezes e pesquisa de plasmódio (malária). Sem isso, era a decisão: tenta-erra-tenta-erra-tenta-acerta. Quando havia tempo para o acerto. Devo dizer que tenho Diploma de Saúde Pública (básico) pelo Instituto Oswaldo Cruz e sei, mais do que ninguém, que a assistência deve ser multidisciplinar (enfermeira, dentista, etc) pois o médico não é um deus e muitas das tarefas estão na esfera de outras profissões. Não sou contra a vinda de cubanos. Mas não sou a favor do atropelamento das leis e normas em nome de uma resposta imediatista aos clamores das populações desassistidas. Não adianta encher de pedreiros e carpinteiros uma obra que não tem espaço físico para a construção, nem cimento, nem tijolos. É mais desperdício de dinheiro público para aliviar a pressão emanada do povo. Não consigo entender o porquê da dispensa do revalida. É a admissão de que a competência é dúbia. Os próprios brasileiros formados no exterior se submetem ao exame. Por que o privilégio aos cubanos ou marcianos? Minha filha chegou há 2 dias de Portugal. Os médicos com quem conversou desdenharam qualquer proposta. Aliás, será que um profissional, formado numa universidade europeia, viria morar em Capistrano (CE) por 10.000,00? Em uma cultura, clima, universo de doenças que desconhecem (será que os portugueses estão familiarizados com esquistossomose? Malária? Tuberculose?). Será que já viram ao menos um caso? O mais provável seria a vinda dos menos qualificados, que não tiveram chance de se estabelecer nos seus países. Eu não diria “a escória” pois esse é um termo forte, mas certamente não será um médico com residência, competente, que virá da Espanha ou Portugal, para ganhar 10.000,00 nos interiores de Brasil. Já os cubanos.... Bem, para quem está se afogando, jacaré é tronco. Fora uma possível intenção de ideologizar os menos esclarecidos de nossos sertões. Que venham, certo, mas com revalida e com a observação cerrada da segurança nacional e que tenham condições de exercer a medicina preventiva, tão decantada mas tão pouco conhecida. Não há prevenção sem saneamento básico por menor que seja (fossas, água tratada, etc), educação, recursos, conhecimento da cultura local e credibilidade. Pelo visto vão proliferar postos de atendimentos, como cogumelos, em todos os municípios “beneficiados”. É fácil culpar corporativismo, mercantilismo, desinteresse para explicar porque os médicos não vão para o interior. Difícil é aceitar que o governo nunca aplicou verba do IOF que seria todo para a Saúde, porque o Brasil investe em Saúde metade do que a Argentina, porque o Ministério da Saúde não aplicou 17 bilhões de reais (amb.org.br/Site/Home/NOTÍCIAS/AMB-explica-o-processo-contra-o-ministro-Padilha%2036884.cnt Para calar o clamor dos ingênuos, vêm os 8000 médicos-mágicos para atuar neste Circo Brasil.
Posted on: Tue, 09 Jul 2013 23:31:00 +0000

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