Grupo Mensagem - Avaliação - ELÓI PIETÁ OS MOVIMENTOS SOCIAIS - TopicsExpress



          

Grupo Mensagem - Avaliação - ELÓI PIETÁ OS MOVIMENTOS SOCIAIS DE JUNHO MUDARAM A CONJUNTURA BRASILEIRA É preciso trabalhar com o conceito de que mudou a conjuntura política do Brasil com as grandes manifestações de massa nas ruas no mês de junho. A calmaria dos últimos dez ou mais anos, de ausência de movimentos sociais que mobilizassem setores não organizados da sociedade, acabou. Para onde vai isso, é a grande pergunta que exige buscar a resposta. 1- O estopim. O estopim foi o aumento de 6,5% no preço das passagens de transporte coletivo. Foi bem abaixo da inflação do período de dois anos sem aumento (15,5%) . Mas, a inflação de alimentos alcançou recentemente o sentimento popular, e a mídia e a oposição ajudaram bastante o movimento neste tema. As manifestações foram convocadas por um movimento que existe há mais de uma década e que já tentou sem êxito mobilizar outras vezes. O estopim poderia ter sido outro, porque as condições para o movimento acontecer estavam maduras. 2- Composição social. Composição social predominante: juventude universitária de classe média, com ampliação para outras idades ainda relativamente jovens de classe média, e, pelo tamanho alcançado, muita gente jovem das classes populares. 3- Razões da amplitude assumida pelo movimento. Influência ideológica a- juventude excluída ou autoexcluída da política tradicional; b- campanhas sistemáticas da grande mídia contra o governo central e seus aliados, cujo efeito é contra todos os políticos, especialmente contra a corrupção, as deficiências do sistema público de saúde, o crescimento baixo do PIB, os gastos com obras da Copa do Mundo, a inflação. c- presença no meio universitário de ativistas organizados de pequenos partidos de esquerda e extrema esquerda, opositores de todos os governos. Influência social a- novas demandas populares após dez anos de avanços sociais significativos na renda popular, nos salários em geral, na ampliação do emprego formal, no acesso da população ao consumo, ao crédito, ao ensino universitário gratuito. A juventude pensa: o que encontrei está dado, quero saber o que melhora para nós agora. b- uma subjacente vontade de sair da exclusão e se incluir nas grandes decisões da sociedade. c- a influência de fortes manifestações da juventude em outras partes do mundo. d- o uso das formas diretas e baratas de comunicação pela internet. Influência da conjuntura política a- Proximidade das eleições nacionais de 2014, com candidaturas a presidente da República e a governadores dos estados já colocadas e em campanhas explícitas. b- A visibilidade proporcionada pela Copa das Confederações. Reações das instituições ao movimento a- A surpresa sempre dá vantagem a quem a usa nas disputas, seja na guerra, seja no esporte, seja na luta social. Embora nas análises políticas sobre a juventude antevia-se que a exclusão/autoexclusão da política iria dar em algo diferente, faltaram adivinhos ou pesquisadores mais aplicados para saber o que e como seria. b- A reação primeira dos governos foi na linha do não e/ou da repressão, quando o movimento ainda mobilizava pouca gente. A mídia se pautava na mesma linha, mirando o público prejudicado em sua mobilidade pelo bloqueio de ruas. Até aí todos raciocinavam que nada de diferente do normal estava acontecendo. c- Com a súbita e inesperada ampliação do movimento nas ruas, estimulada pelas subjacentes razões ideológicas, sociais e políticas, e facilitada pela indignação com a violenta repressão policial, os governos e a mídia mudaram a postura. A mídia aderiu ao sentimento popular de indignação com a violência policial. Os governos recolheram a polícia, que chegou até a ser humilhada (pela sua conhecida natureza há de se vingar mais tarde). Governadores e prefeitos mudaram o discurso. Baixaram apressados as tarifas. A nova realidade administrativa exige pagar a conta e muda o planejado pelos governos. Suas consequências políticas hão de se revelar mais adiante. d- Os governos sofreram evidente derrota. A reação de governantes, partidos e outras instituições com as quais os jovens estão aborrecidos, foi de saudar os novos movimentos, tentar encostar neles, ou ficar calados. Mas o movimento os rejeita. Daí, movimentos paralelos de militantes de partidos (governistas, antigovernistas) e sindicatos começam a tentar se formar. e- No caso específico do PT, os governantes, parlamentares e dirigentes, passaram a saudar o renascimento dos movimentos sociais de rua, especialmente da juventude. Já era recorrente no partido a queixa de que a sociedade não mais se mobilizava, e que o partido estava longe da massa da juventude. A juventude do PT é mais do PT, e menos da juventude. A atitude dos governos petistas, e dos outros também, foi buscar uma forma de cair fora da mira dos manifestantes. Perspectivas Esta parte, quanto ao futuro de algo que ainda não se revelou em toda sua extensão, é difícil de comentar, porém, a mais importante. a- Existem razões ideológicas, sociais, políticas e conjunturais, para estes novos movimentos se manterem e ampliarem. Mas nem seus organizadores sabem exatamente o que fazer. A única certeza é que tem que continuar na rua. Há também clima para movimentos das classes populares nas periferias e nos setores pobres da sociedade. b- Como os governos cederam na reivindicação imediata, novas reivindicações tendem a ser colocadas em face da repercussão e da vitória obtidas. Elas em parte estão anunciadas: outras reivindicações relativas ao transporte coletivo, ao funcionamento do sistema público de saúde, à educação, exigências no combate à corrupção, medidas contra a violência policial e pela liberdade de manifestação. Oportunistas, como o partido do Ministério Público, tentam colocar seus interesses corporativos, mas não terão êxito, porque ao movimento aborrecem as instutições públicas. c- Como historicamente ocorreu com os movimentos de classe média, eles tentarão atrair sob sua liderança os setores das outras classes sociais populares, que formam a maioria. No passado isto se mostrou inviável. A classe média e a juventude podem por o movimento em marcha, mas as lições do passado indicam que não será ela que há de liderar ao final das contas. Conforme a marcha do movimento, a liderança passará a ser disputada por outros atores sociais mais fortes. d- Os partidos políticos no poder nacional, estadual ou municipal, os sindicatos e outras instituições vão tentar estar próximos ou sair da mira do movimento, mesmo sabendo que este tem entre seus ingredientes ser contra a atuação dos partidos, das instituições estatais, e das velhas organizações. Até os partidos de extrema esquerda, com certa paternidade do movimento no meio universitário, estão se queixando da rejeição. e- Os partidos nos governos, e que disputarão com chances as próximas eleições, tendem a ter problemas internos na adaptação à nova realidade. Já deu para ver as divergências no PT e no PSDB. Quem reprimiu violentamente com a polícia terá mais dificuldade de se recuperar, as imagens estão lá. Os prefeitos que recuaram não saíram com vantagem. O governo federal se safou no caso das tarifas do transporte, mas, pela amplitude nacional do movimento, ele é o principal prejudicado. Ele é o símbolo maior do poder cujas ações ou omissões estão sendo contestadas nas ruas. A ausência do carisma político de Dilma pesará negativamente nestes momentos. Na calmaria, destaca-se o administrador. No fragor da luta, destaca-se o carisma e a visão do político. f- A conjuntura eleitoral do ano que vem ficou incerta. Entre as candidaturas postas, apenas a da Marina tem algo a ver com o movimento, por ser uma figura solitária, excluída, frágil, tentando jogar por fora das tradicionais instituções. Mas, quem está organizado para eleições são as fortes máquinas partidárias e governamentais. Estas são profissionais no ramo de disputar eleições e dirigir governos. Um parênteses internacional: com todo o vigor da Primavera Árabe, em nenhum país as forças intensamente mobilizadas da juventude conquistaram o novo poder. Este ficou com os mais velhos e mais tradicionalmente organizados. g- Terá mais vantagens eleitorais quem souber mais se afinar com a nova conjuntura, que é muito mais do que os novos movimentos. São dois mundos são diferentes. O mundo do movimento é emergente, sem destino ainda claro, sem organização e lideranças consolidadas, sem raízes para dirigir a sociedade. Ele repercute, anuncia novidades. Mas o mundo do poder é outro, é o das instituições públicas, dos partidos, das organizações consolidadas, da mídia, dos grandes grupos econômicos. Os partidos vão disputar entre si no seu mundo específico, com uma linguagem que leva em conta o novo sujeito social ora surgido. f- Devido à amplitude das manifestações, aos problemas que elas criam na vida cotidiana das cidades e das pessoas, à ação de grupos violentos e de aproveitadores para saquear propriedades, pode surgir na sociedade um contra-movimento conservador que clame por ordem, neste caso favorecendo as posições conservadoras. Mais um fator de imprecisão do futuro. g- O que cada partido vai fazer em face da nova conjuntura é o grande debate agora. O PT tem pela frente um PED e um 5º Congresso, para debater como este transatlântico reorganiza sua rota e em que tempo o fará. h-Tratar da disputa eleitoral, do comportamento de nossos governos e do partido em face dos adversários já postos e tratar do tema de como eles se comportam na conjuntura, o PT sabe fazer muito bem. Nos tornamos profissionais de governo e de política partidária. i- O problema está como agir nos novos movimentos sociais. Este já deu uma valiosa pista. Tem que ter muita gente de esquerda, que pensa a luta pela igualdade como está nas raízes do PT e do socialismo, cuja energia toda seja dedicada ao movimento social, deixando de lado o ambiente das reuniões partidárias e as aspirações de querer ser vereador, deputado, prefeito, funcionário público ou assessor, ou dirigente partidário. As máquinas partidárias e governamentais não vão gostar disso, porque perdem o controle sobre este pessoal. Mas, apesar delas, tem que ter um novo jeito de ser na juventude e nos meios populares, que persiga um ideal coletivo, e que, no individual, deixe a vida levar para onde ela for, num futuro ainda insondável. É uma aposta que tem como motor um ideal de progresso das camadas populares em todas as dimensões sociais, econômicas, culturais. Foi assim no passado. j-A nova conjuntura exige uma cabeça diferente, cujo modelo não é o atual modelo praticado pela juventude do PT, pelos sindicalistas do PT, pelas estruturas do PT. Todos estão amarrados ao profissionalismo político e institucional, que valerá para ganhar eleições, externas e internas, mas não valerá para construir um futuro que começa a se desenhar sem que ainda revele sua obra. No PED e no Congresso do PT, menos do que ganhar agora ou mirar postos secundários, os comandantes da máquina hão de ganhar a parada, o melhor caminho é trabalhar para um novo futuro. E depois construí-lo de modo paciente e inteligente.
Posted on: Sun, 14 Jul 2013 04:26:39 +0000

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