Hoje saí de casa para trabalhar às 6 da manhã. Médico coxinha, - TopicsExpress



          

Hoje saí de casa para trabalhar às 6 da manhã. Médico coxinha, descomprometido, mercenário. Isso foi o meu plano - não muito magistral, como vocês vão ver - para evitar o caos urbano insuportável decretado na região do cais do porto. A idéia era ir sem carro (coisa de gente rica, preguiçosa e sem consciência social, no meu caso, reunido com os defeitos de ser médico, coxinha, etc), porque não há mais como chegar ao hospital e não há mais como estacionar o carro. É claro que o fechamento da perimetral (o porto vai ficar lindo e com muito mais valor comercial...) não precisava considerar um plano de contingência para proteger o acesso ao hospital. Inclusive para os pacientes. É claro que médicos andam de carro por comodismo, eles não precisam disso. São coxinhas, mercenários, etc. É claro que o fechamento da perimetral é ANTES de se pensar num esquema realmente suficiente e eficaz de transporte público. E é claro que o prefeito do Rio não tem que considerar ninguém de Niterói e São Gonçalo. Pois é. Saí às seis, peguei um ônibus até a estação das barcas (2,75). Peguei a barca (4,50). Cheguei à praça quinze. Considerei outro ônibus. Tem o engarrafamento. Segui a pé. Chovia a cântaros. Quase 40 min de caminhada. Levando uma mochila com uma porção de exames radiológicos de pacientes (do serviço público) que eu levei para estudar em casa (coxinha, descomprometido, desintessado...). Atendi uma porção de gente no ambulatório (sorri para quase todos, apalpei todos (aprendi que é isso que é um bom médico). Alguns doentes faltaram. Alguns ligaram dizendo que não conseguiriam chegar ao hospital tendo limitações, depois do caos instalado, usando transporte público, com chuva e tendo limitações físicas. Foram remarcados. Saí do hospital na direção do outro hospital. Em Niterói. Andei até a central do Brasil. Mais 15 min. Fui procurar a parada do ônibus para Niterói. Não havia informações em lugar nenhum. Ninguém sabia direito. Descobri que há duas, uma quase na Candelária, outra depois da central do Brasil. Palavra de honra, quase chorei. Não por mim. Por ver o que esta gente egocêntrica e irresponsável faz com idosos que precisam de ônibus. Mulheres com crianças. Gente que trabalhou o dia inteiro. Porque eles mandam as pessoas comerem brioches. Porque há bolsas família, mais médicos, cotas. Mas não há respeito à integridade e à autonomia das pessoas. Porque as pessoas merecem sobreviver, aparentemente, mas não merecem ter estatura, ter opinião, ser cidadãos. Porque as pessoas não importam como pessoas, importam como modelos, como números para a estatística, como bonequinhos para tiro ao alvo. O país empobrece dia a dia.
Posted on: Thu, 07 Nov 2013 21:31:41 +0000

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