Há dois anos e meio que estou no Fora do Eixo e há um ano e meio - TopicsExpress



          

Há dois anos e meio que estou no Fora do Eixo e há um ano e meio vive em uma Casa Fora do Eixo. Hoje vivo com + 9 moradores fixos mais uma média flutuante de cinco viventes/hóspedes. O quarto é dividido, comida e guarda-roupas tambem. Exercita-se o desapego e a solidariedade - o que é meu também pode ser seu. E o aprendizado é feito na troca e na base do dia a dia. Do “como é mesmo que se cozinha esse frango?” a entender mais sobre reforma agrária conversando com o outro movimento que veio dividir a mesma sala, ao debate a qualquer hora do dia sobre novo jornalismo possivel,narrativas & afins. A primeira vez que tive contato com o Fora do Eixo foi através de um postal azul que mostrava por um mapa cheio de alfinetes uma série de cidades conectadas. Acompanhando o gráfico vinha escrito Circuito Fora do Eixo. Eu fiquei por algum tempo me perguntando e muito curiosa como tanta cidade e gente reunida pela cultura em um circuito, fazendo as coisas circulares, fluxo, possibilidades mil, etc e como surgiu tudo aquilo. Anos mais tarde, em 2011, a aproximação inaugural com as tecnologias da rede no Grito Rock 2011 em Florianopolis. Logo depois o Cardume Cultural se estruturou e passou a realizar as diversas ações na cidade. E no mesmo ano pisei pela primeira vez na Casa FdE São Paulo, durante imersão do coletivo. Três dias fervilhantes onde pude ver de perto - e o mais importante - vienciar na prática como se dá essa experiência radical de coletividade e compartilhamentos. Sim, de fato 30 pessoas podem morar juntas, trabalhar no que gostam, sem chefes, propor projetos e executá-los, somar com mais um montão de gentes. Tudo sem o "putz, tenho que ir pro trabalho só saio às 18h", mas podem escolher quantas horas vão querer fazer determinada coisa. Isso não é escravidão, é autogestão. No mesmo ano, no Congresso FdE em São Paulo, na época #ideiasperigosas, vi/vivi novamente que os alfinetes que o postal indicavam existiam fora dos avatares e que sim, é possível organizar-se socialmente de uma maneira diferente e trabalhar na construção um novo mundo possível. No ano seguinte iniciei vivência na Casa FdE Sul, em Porto Alegre, onde num processo muito orgânico me tornei moradora. Não à toa quando mudei de cidade optei - sim, escolhi - sair de casa para a Casa, deixei a faculdade. Na época cursava já a metade do curso de Jornalismo da UFSC - já era a segunda tentativa universitária - com meses de embate sobre o que estudávamos e muitas inquietações para que&quem serve a instituição. Então, em um ambiente coletivizado e extremamente instigante, com uma série de informações pipocando de todos os lados é que se deu - e continua! - minha formação. Que, ao contrario dos clássicos e chavões que nos metiam goela abaixo na faculdade, é fruto da prática vivência e pela troca com o outro, e a "autonomia intelectual" se dá justamente aí. O que muitos não conseguem entender porque ultrapassa a barreira de tempos definidos de sua vida agora estou estudando // agora estou curtindo adoidado // agora estou trabalhando. Por que permite construir na prática nova possibilidade de viver, trampar e ser feliz, sem que se estabeleça relação de exploração, muito menos auto-exploração, pois se faz o que se gosta. Não é workaholic, é viver em sua máxima potência =) Por essa trajetória que entrei no processo. Trocar o apê, o carro na garagem, cartão de crédito, a terapia, por sair do casulo individualista e se abrir prum processo complexo, veloz e deliciosamente provocador. É também estar disposto a rever os seus vícios mais arraigados. É saber que o caixa coletivo é uma tecnologia foda, funciona e é de longe uma das coisas mais tranquilas. Que todas essas vivencias possibilitaram um contato muito mais vivo com a realidade e pessoas do que se tivesse seguido a faculdade de jornalismo - da dança contemporanea no uruguay ao agreste de alagoas. Que não tem plano de carreira e decimo terceiro, é plano de vida e como a gente resolve agora. É também sair da logica egoica do artista ilumiado & sua querida obra. Nenhum processo criativo é isolado, o artista não é filtro entre subjetividade e realidade, que vem trazer uma mensagem de deleite, pura fruição ou forte caráter político. Assumimos a radicalidade coletiva e quanto a autorilidade por entender que o percurso para produto que possa ser é sempre difuso, vindo de participações e repertórios. Acho que esse e uma série de outros relatos que tão rolando por aqui, a contribuição de quem tá dentro do processo todo dia, em seus 99% ralação e 1% inspiração, devem ser mesmo muito difíceis de entender para intelectuais que não saem de suas zonas de conforto e altares sagrados de arte&cultura. No mais, a gente segue juntos, atendos e fortes. #VidaFdE
Posted on: Thu, 08 Aug 2013 16:45:34 +0000

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