Indigesta liberdade À noite, solitário, resolveu beber. Retirou - TopicsExpress



          

Indigesta liberdade À noite, solitário, resolveu beber. Retirou da geladeira um livro a tempos guardado e com saca rolhas o abriu. No copo despejou líquidas palavras e girando-as nos dedos, cheirou. Das moléculas que se desprenderam do rompimento de sílabas formou-se o bouquet. Degustando página, bebeu doses de palavras. As novas expressões não lhe cairam bem, indigestas, não curtiram. Foi à janela sorrir para lua. Buscou no ar algumas estrelas e de olhos fechados fitou o céu. Mastigou com lentidão as luzes da cidade e inebriado, viu o mundo se descortinar. No escuro sentiu o aroma das cores, com mãos agarrou o silêncio. Aos goles ingeriu Neruda e riu de Camões. Pincelando parágrafos fizera picadinho de clássicos, e despresara as sobras. Buscou no armário novas composições. Empilhou, mas sem sentido as frases ficaram tortas. Vibrou ao som frenético de trechos literários e se sentiu maestro. Abraçou livros e apertou palavras. Imaginou escrever um poema no ar mas sonâmbulo adormeceu. Palavras adocicadas lhe pesaram a cabeça. Contorceu-se por dentro e frases escorreram por todo corpo. De madrugada a chuva acorda o silêncio. O homem braveja com o trovão. Foge quando suas flechas estouram o espelho deixando mais escura a noite. O céu que se derrete em águas continua gritando e riscando o tempo com espada de zorro. Na sala o animal sacoleja algumas vogais e forte cheiro de poesia se espalha. A cabeça estimula palavras que sem métrica ou rima escorrem pelas mãos e mancham papeis. Novamente adormece e atrasado pela manhã acorda. Vai rotineiramente ao trabalho. Como nunca entendera de gramática o faxineiro do poeta passa juntando frases obscuras e lendo conotativos textos. Descobre nesse instante a liberdade de expressão. INÉDITO DE “IMAGINÁRIOS” MARCIO DE PAULA --
Posted on: Thu, 24 Oct 2013 00:31:09 +0000

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