Infelizmente, no Brasil, muitas coisas são aprendidas na base da - TopicsExpress



          

Infelizmente, no Brasil, muitas coisas são aprendidas na base da tentativa e erro ao invés do planejamento e estudo. Já me parece definido a vinda de médicos do exterior para suprir uma demanda que realmente existe no Brasil. Vamos aos fatos: faltam médicos em MUITOS municípios do Brasil, não faltam médicos no Brasil. A região Norte tem 0,98 médicos por 1.000 habitantes, a cidade de São Paulo tem 4,33. (mais detalhes sobre a demografia médica no Brasil em um trabalho de 2011: cremesp.org.br/pdfs/demografia_medica_brasil_29112011.pdf) Essa desigualdade não é explicada por nenhum dos argumentos "jogados" na mídia e regurgitados por várias pessoas pelos facebooks e bares afora. Essa desigualdade de distribuição de médicos se justifica pela desigualdade de meios de trabalho. É muito fácil entender o problema quando se faz uma abordagem mais ampla e menos obcecada do assunto. Nas cidades aonde faltam médicos, faltam professores, arquitetos, engenheiros, enfermeiros, etc, etc. Todos têm o direito de opinar sobre o assunto, mas muito me ofende quem NUNCA trabalhou em um desses lugares julgar e desmoralizar um profissional que se recusa a trabalhar sob condições impróprias e de risco. Quem nunca viu uma pessoa morrer nas suas mãos por falta de meios. Eu, como médico que trabalho no SUS há 12 anos, já presenciei várias cenas e situações revoltantes, coisas que às vezes até faz querer largar o SUS de vez. Falta de materiais básicos, falta de vagas de UTI, falta de exames complementares, falta de luz e água em unidade de emergência (isso na capital de Goiás, não no interior). Então, voltamos à medida do governo: que venham mais médicos, dessa vez de fora, médicos que farão um sacrifício para mudar de país, deixar suas famílias e ganhar um ótimo salário no Brasil. Médicos que possam ser manejados como peças em um tabuleiro, que não precisem de estrutura nem direitos trabalhistas, médicos que sejam subordinados ao governo, que dispersem a fumaça, que acalmem a população carente. Mas na verdade, o que esses médicos, na minha humilde opinião, conseguirão fazer não será nada diferente do que já foi feito por inúmeros de nós, brasileiros. Eles irão TENTAR. Irão resolver uma parte do problema, algumas dores de garganta, alguns vômitos. Mas quando precisarem de um ultrassom, de uma tomografia, de um antibiótico melhor, de uma avaliação de cardiologista, neurologista, vão parar no mesmo ponto em que todos nós paramos. Agora se o que a população quer, e o que acha que precisa, é uma solução temporária para resolver problemas básicos, ficarão satisfeitos com os médicos importados. Mas se o que precisamos é de um sistema de saúde que funcione, que atenda a maioria da população, que trate e cure doenças, que faça um trabalho de prevenção, planejamento e descentralização da saúde, a solução é mais complexa, exige combate à corrupção e desvios de verbas, investimento na formação e especialização dos profissionais, planos de carreira e concursos públicos, investimento na estrutura física e logística de insumos. Mas infelizmente essas últimas sugestões são muito "batidas", estão na boca de todo mundo, são muito óbvias, são prometidas em todas as eleições. É muito mais popular sugerir algo novo, ousado, rápido! Que venham os médicos importados e boa sorte para todos nós.
Posted on: Tue, 06 Aug 2013 16:45:14 +0000

Trending Topics



Recently Viewed Topics




© 2015