Jacob e Wilhelm Grimm O pobre moleirinho e a gata Era uma - TopicsExpress



          

Jacob e Wilhelm Grimm O pobre moleirinho e a gata Era uma vez um moleiro, que não tinha mulher e filhos, e morava no moinho, com três aprendizes que trabalhavam com ele. Durante vários anos, os jovens trabalharam com o moleiro, que afinal um dia lhes disse: – Já estou velho, já trabalhei muito, e agora acho que mereço um descanso. Ide procurar um bom cavalo, e eu darei este moinho àquele que me trouxer o melhor animal, com a condição, porém, de que cuide de mim até a morte. Acontece, porém, que um dos rapazes era um simplório, considerado um perfeito idiota pelos outros dois. Os três partiram juntos e, quando chegaram a uma aldeia, os outros dois disseram ao simplório Hans: – Podes ficar aqui, pois ainda que procure a vida inteira, jamais serás capaz de encontrar um cavalo. Hans, porém, fez questão de acompanhá-los e, quando anoiteceu, chegaram a uma gruta, onde resolveram passar a noite. Os dois espertos esperaram que Hans adormecesse e foram-se embora, deixando-o na gruta. Acharam que iriam lucrar muito com isso, mas, no final das contas, o tiro saiu pela culatra. Quando amanheceu, e Hans acordou, vendo-se no meio de uma gruta, o pobre coitado exclamou: – Meu Deus do céu, onde é que vim parar? Levantou-se, saiu da caverna e entrou na floresta, pensando: “Agora que estou sozinho neste ermo, como é que hei de arranjar um cavalo?” Começou a caminhar, muito preocupado, e encontrou uma gata, que lhe disse, amavelmente: – Aonde estás indo, Hans? – Infelizmente, não poderias ajudar-me – replicou Hans. – Sei que estás à procura de um belo cavalo – disse a gata. – Vem comigo, e sê meu fiel criado durante sete anos e então eu te darei um cavalo que será o mais bonito que já viste em toda a tua vida. “É uma gata bem esquisita esta!”, pensou Hans. “Mas vou ver se está dizendo a verdade.” Então, a gata o levou para o seu castelo encantado, onde não havia mais ninguém a não ser os gatinhos seus criados. Eram uns gatinhos muito alegres, que pulavam para baixo e para cima nas escadas, e à noite, três deles tocaram música. Um tocava o contrabaixo, outro a rabeca e o terceiro o trompete, inchando as bochechas até quase arrebentarem. Foi servido o jantar, e, depois dele, disse a gata: – Agora, Hans, vem dançar comigo. – Não – replicou Hans. – Não danço com gata. Nunca fiz isso na minha vida. – Então, levai-o para a cama – ordenou a gata aos criados. Hans foi levado para um quarto de dormir, e os gatos tiraram seus sapatos, suas meias, depois apagaram a luz. Na manhã seguinte, ajudaram-no a levantar-se, um lavou-lhe o rosto, outro enxugou-o com a sua cauda. – Está muito macio! – comentou Hans. Tinha, porém, de trabalhar para a gata, como fora combinado: cortar um pouco de madeira todos os dias, para o qual recebeu um machado de prata e uma cunha cujo corte era de prata e o cabo de cobre. E Hans ficou no castelo, comendo e bebendo do melhor e sem ver mais ninguém a não ser a dona da casa e os felinos seus criados. Certo dia, a gata lhe disse: – Vai ao meu capinzal, corte o capim e seca-o. E entregou-lhe uma foice de prata e um secador de ouro, mas recomendou que os trouxesse de volta com todo cuidado. Hans executou a tarefa e, quando acabou de trabalhar, levou para casa a foice, o secador e o capim seco, e perguntou se não chegara a ocasião de receber a recompensa. – Não – disse a gata. – Tens de executar mais um serviço para mim. Há um material de construção de prata, serrote, formão, martelos e tudo mais que é necessário, tudo de prata, e, com esse material e essas ferramentas, tens de construir uma casinha para mim. Hans construiu a casinha, e disse que já fizera tudo que tinha que fazer e ainda não ganhara o cavalo. De qualquer maneira, os sete anos tinham passado, para ele, como se fossem sete meses. A gata perguntou-lhe, então, se ele gostaria de ver os seus cavalos. – Muito – respondeu Hans. A gata abriu a porta da casinha, e lá dentro estavam doze cavalos, tão bonitos que só contemplá-los trazia uma grande alegria no coração. E, depois de Hans ter sido regalado com boa comida e boa bebida, disse-lhe a gata: – Volta para casa. Não vou te dar o cavalo agora, mas daqui a três dias irei levá-lo para ti. Mostrou-lhe o caminho para o moinho, e Hans partiu. Durante os sete anos que servira à gata não ganhara roupa nova, e foi obrigado a voltar para casa com a mesma roupa, agora velha e suja, com que partira. Os dois companheiros seus já lá se encontravam, e cada um deles trouxera um cavalo, mas um animal era cego e o outro manco. Os dois perguntaram a Hans onde estava o seu cavalo. – Vai chegar daqui a três dias – ele respondeu. – É mesmo, seu idiota? – zombaram os dois. – Arranjaste mesmo um cavalo? Deve ser ótimo. Hans entrou na sala, mas o moleiro disse que ele não poderia sentar-se à mesa, pois estava muito mal vestido, e ficariam com vergonha, se aparecesse alguma visita. E assim, deram-lhe um pouquinho de comida, para comer do lado de fora, e, quando chegou a hora de dormir, os dois colegas não o deixaram deitar-se na cama e ele teve de dormir no paiol, em cima de um montão de palha. Na manhã seguinte, quando acordou, tinham se passado os três dias e apareceu um coche puxado por seis cavalos, tão belos que era um prazer contemplá-los. E da carruagem desceu uma princesa, que entrou no moinho. A princesa não era outra senão a gatinha que o pobre Hans servira durante sete anos, e ela perguntou ao moleiro onde se encontrava seu empregado simplório. – Não podemos ficar com ele aqui dentro, pois está esmolambado – disse o moleiro. – Está no paiol. A filha do Rei ordenou que o trouxessem imediatamente. Assim foi feito, e os criados desencaixotaram vestes riquíssimas, que Hans vestiu, depois de tomar um banho. Após esses preparativos, ficou tão bonito que poucos Reis se comparariam com ele. A princesa, então, quis ver os cavalos que os outros aprendizes tinham trazido, e um dos cavalos era cego e o outro coxo. E a princesa mandou seu criado buscar o sétimo cavalo, e, ao vê-lo, o moleiro escancarou a boca de espanto. E disse que, realmente, tinha de dar o moinho a Hans. A princesa, porém, disse-lhe que podia ficar com o cavalo e com o moinho. E entrou com Hans na carruagem, que partiu. A primeira parada que fizeram foi na casinha que Hans construíra com instrumentos de prata e cujo interior era o de um lindo castelo todo feito de ouro e prata. E a princesa se casou com Hans e ele viveu plenamente feliz de então para diante, pois se tornara riquíssimo. E, depois disso, que ninguém diga que os homens simples jamais se tornam uma pessoa importante.
Posted on: Sat, 23 Nov 2013 22:12:30 +0000

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